Não há como dar a volta a isto: visitar Cuba foi sem sombra de dúvida a minha viagem favorita. Pelo menos até agora. E quero partilhar com vocês, que preparam uma viagem a Cuba ou simplesmente gostam de ler sobre paragens distantes, as coisas que gostei mais de fazer na sua capital, Havana. Algumas são bem conhecidas, fazendo parte das recomendações de qualquer guia turístico. Outras, se calhar, nem por isso.

Tomar um Cocktail no Hotel Nacional

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O Hotel Nacional de Cuba é um edifício em que não se pode deixar de reparar. Construido no topo de uma pequena colina com vista para o mar das Caraíbas, é enorme, e em 1930, quando foi construido, há-de ter impressionado os habitantes de Havana.

O projecto ficou a cargo da firma nova-iorquina McKim, Mead and White e no local escolhido existia uma posição de artilharia, a bateria de Santa Clara, cujos vestígios se podem ainda observar nos jardins do hotel.

Na sua época de ouro, até à Revolução, o hotel recebeu uma boa porção de hóspedes famosos: Winston Churchill, Frank Sinatra, Ava Gardner,  Johnny Weissmuller, Rocky Marciano, Errol Flynn, John Wayne, Marlene Dietrich, Gary Cooper, Marlon Brando, Ernest Hemingway e Jean-Paul Sartre. Depois da Segunda Guerra Mundial, a mafia norte-americana organizou ali um histórico congresso, que decidiu o futuro da organização para as décadas vindouras, um episódio que é abordado no filme Padrinho II.

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Durante a Crise dos Misseis, que muito convenientemente tem uma exposição no hotel que pode ser visitada por vezes, Fidel Castro instalou aqui o seu gabinete de crise.

Chega-se contornando o hotel e subindo a colina em que está instalado. Atravessa-se o hall, olhos bem abertos, para observar aqueles quase cem anos de história, e sai-se para o exterior, do outro lado, já nos jardins. Encontraremos ali a esplanada, local ideal para um pôr-de-sol com vista para o mar, na companhia de um cocktail tipicamente cubano. Que tal uma Piña Colada, ou mesmo um Daiquiri, a bebida que Ernest Hemingway tanto amava e que tem uma presença constante das páginas do clássico livro O Nosso Homem em Havana, de Graham Greene? O preço será uma agradável surpresa: mesmo num local com esta categoria estas bebidas custarão apenas cerca de 6 Euros.

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Comer um gelado na Coppelia

Durante décadas a gelataria Coppelia foi a maior do mundo. Mas o mais fabuloso não será o seu tamanho mas como nasceu. Não tinha passado muito tempo desde a Revolução e a chegada ao poder de Fidel Castro e dos seus barbudos quando um dos líderes do Partido se deslocou a Itália para participar numa convenção política. Ali experimentou os famosos gelados italianos e rendeu-se. Sonhou, e esse sonho transmitiu-a, na volta, a Fidel Castro: e se os gelados se tornassem na recompensa do povo pelos seus esforços revolucionários, uma espécie de benesse social oferecida aos trabalhadores? Castro gostou e apadrinhou o projecto.

E foi assim que em Junho de 1966 abriu a primeira Coppelia (existem mais, espalhadas pelas principais cidades cubanas, apesar de terem dimensões mais modestas). O nome foi dado pela fiel secretária de Fidel, Celia Sanchez, em honra ao seu ballet favorito.

Hoje em dia, apesar de já ter perdido o estatuto de maior gelataria do mundo, a Coppelia desempenha ainda um enorme papel na vida dos havaneses. A sua estrutura, a fazer lembrar uma nave espacial ou uma enorme aranha de betão, recebe milhares de pessoas todos os dias e a ida ao gelado é uma excelente forma de entrar em contacto com a vida diária do cubano comum.

Ao entrar, se se parecer com um turista estrangeiro, alguém há-de procurar levá-lo à sala VIP, onde o gelado é o mesmo mas onde se paga com CUC’s, a preços quase europeus. Além disso, para a sala VIP nunca há filas de espera, que, em dias quentes, atingem as centenas de metros para os cidadãos comuns. Mas a piada está mais no ambiente e menos no gelado, por isso o melhor mesmo é dizer ao anfitrião de serviço que se vai pagar a despesa com moñeda nacional, e logo se é deixado com algum desdém e um apontar de dedo… “entonces…” e ficamos com uma das salas para cubanos.

O sistema é prático e rápido. As salas são ocupadas por vagas, como uma onda que roda, não em redor de um estádio mas da Coppelia. Ocupada uma área com novos clientes, vem alguém tomar nota das encomendas. As opções são… um ou dois tabuleiros de gelado… porque o sabor é o do dia. Apesar de em situações excepcionais existirem dois sabores à disposição.

A seguir passa o distribuidor de copos de água. E por fim, chega a encomenda. Um tabuleiro de plástico, com seis ou sete bolas do gelado desejado, tudo polvilhado com bolacha e, creio, açúcar amarelo. Cada pessoa pode encomendar até três destes tabuleiros, e a malta não se inibe de o fazer… ou comem logo ali tudo ou metem as porções extras em sacos de plástico para mais tarde ou para alguém que não pode vir. Como mantêm gelado nesses sacos com um calor de derreter até hoje não descobri.

Provavelmente a meio da comezaina há-de-se passar o último acto da visita, quando o ciclo se encerra com a cobrança…. 0,15 Eur… sim… por uma travessa cheia de gelado.

Se despertei o seu interessa na Coppelia aconselho a leitura de um excelente artigo no The Guardian, em inglês, portanto.

Experimentar os Comboios Cubanos

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Andar de comboio em Cuba é uma odisseia, e sem tem dúvidas, pode ler o livro Slow Train to Guantanamo. Mas há uma versão soft, que pode experimentar para ter um cheirinho.

A primeira coisa a fazer é informar-se se de momento o comboio está a funcionar. Porque o equipamento é antigo, as peças de reposição não existem e quando há avarias pode ficar meses paralisado. Estamos a falar da ligação entre Havana e Matanzas. Bem, tecnicamente o comboio sai de Casablanca, que é a localidade do lado de lá da baía, defronte de Havana propriamente dita. No centro de informações turísticas deverá encontrar esta informação.

Assumindo que há comboio, deverá apanhar o barco para o outro lado. Uma simples barcaça para um percurso insignificante, mas a segurança é apertada. Porquê? Porque há uns anos uns quantos cidadãos desviaram a barcaça com o sonho louco de chegar aos EUA. Claro que foram interceptados pela guarda costeira e acabaram sendo executados pela ousadia.

Pode aproveitar a visita ao lado de lá para espreitar os fortes e esticar um bocado as pernas por Casablanca, mas não se choque: trata-se do pedacinho de Cuba mais pobre que visitei. Mesmo para os padrões do país, é pobre.

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Agora vem o melhor… o comboio… a composição aguarda os passageiros na estação. Apesar de faltarem horas já tudo se apresta. A passagem é ridiculamente barata… para cubanos. Estrangeiros pagam preço de turista, que é francamente caro. Mas vale a pena.

A locomotiva parece desfazer-se, feita de chapa podre e metal retorcido, e as carruagens não lhe ficam atrás. As cadeiras são de plástico, adaptadas às estruturas existentes, desconfortáveis, mas tão desconfortáveis que se torna divertido.

Começa a viagem, passam-se as instalações militares da Marinha cubana, rapazes de AK-47 na mão, ociosos, de guarda. E aos poucos a cidade fica para trás. Começa o festival, um sem parar de coisas para ver. Casas rurais, pequenas aldeias, os passageiros que entram saem e os que estão no comboio.

Aquilo anda mesmo muito devagar, e com uma descontração enorme. Em determinado momento uma senhora que lava a roupa num tanque grita para o maquinista… os meninos vão para a escola… ele trava, mete marcha atrás, até ao apeadeiro que tinha ficado uns 300 metros para trás, e os dois meninos vêm em corrida, saltam para bordo… pode-se continuar.

Se não quer chegar a Matanzas, o que significará basicamente o dia nisto, pode mudar a meio do percurso, no ponto onde os comboios se encontram e onde há reabastecimentos. De repente parece uma feira, os passageiros de dois comboios de volta de vendedores, ou vice-versa, tudo a comer e a beber. Enfim, uma experiência fabulosa.

Visitar o Callejon de Hammel

Quem diria que uma obscura viela numa Havana de segunda linha se transformaria no que é hoje, no Callejon de Hammel, centro de todos os sonhos, de todas as conversas de uma geração inconformada… mas foi assim mesmo… quando há uns anos Salvador González Escalona iniciou o projecto, muitos terão ficado surpreendidos com a permissão do Governo.

As intenções iniciais seria relacionadas com a promoção dos aspectos africanos da cultura cubana. O local escolhido, o bairro Cayo Hueso, pobre, muito afro, numa área central de Havana, não poderia ser mais adequado.

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Para ali afluíram os intelectuais, sobretudo jovens, ávidos de debate, de trocas de ideias, de uma expressão cultural que fugisse aos parâmetros velhos do regime. Com o tempo começaram a aparecer os estrangeiros, turistas, que ouviam falar neste núcleo alternativo através de recomendações pessoais.

O Callejon tornou-se centro de arte. As paredes pintadas, de ponta a ponta, e as bancas de artesãos. Há juventude, o palpitar de uma nova dinâmica.

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Os estrangeiros são muito apreciados por ali – aliás, por todo o lado, mas especialmente ali: num país onde não há informação, os estrangeiros são arautos de um mundo exterior, e muitos cubanos procuram conversar um pouco para ouvir sobre o que se passa pelo planeta fora.

Infelizmente, como sempre acontece, o Callejon apresta-se a ser vítima do seu sucesso. Cada vez há mais estrangeiros, o ambiente original começa a ser adulterado, há gente a pensar no Callejon como uma forma de fazer dinheiro e a pureza do projecto parece estar a inquinar-se.

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