Domingo, dia de descanso. De certa forma, foi-o. Acordei tarde, pelas nove e meia, e deixei-me estar na preguiça. Liguei o computador, que tinha ficado ali à cabeceira da cama e pus as coisas em dia. Já passava das 10 quando saimos para a rua. Fomos explorar o bairro de Jordaan, o mesmo onde o Marco vive. A cidade desperta lentamente, depois de um serão de Sábado certamente bem passado. Sente-se a indolência nas pessoas que se aventuram no exterior. Apesar do dia resplandecente e temperatura agradável as ruas estão ainda vazias. Aqui e ali as esplanadas, pequenas e grandes, preparam-se para as enchentes de uma tarde de fim-de-semana, mas por enquanto sente-se que tudo decorre a meio vapor. As poucas almas que se aventuram a estas horas lêem descontraidas o jornal, enquanto o pequeno-almoço espera sobre a mesa por uma nova garfada. Outros, simplesmente fecham os olhos, embevecidos pelo calor terno do sol, e, descalços, deixam a sua bebida esquecida por longos minutos.
Jordaan é verdadeiramente um bairro agradável, cosmopolita, burguês. A cada esquina se ouve falar inglês, e de resto sente-se no ar uma espécie de elitismo, que contrasta com as origens humildes do bairro. É que foi construído para albergar os habitantes mais pobres, com os seus canais apontando numa direcção diferente, que foi a forma que os com dinheiro e algum estatuto encontraram de marcar o seu desdém. Ironicamente é hoje um centro cultural efervescente, preferido por uma parte considerável do grande número de estrangeiros que vive na cidade.
É tambem em Jordaan que se encontram os “hofje”, pátios comunitários, acessíveis por uma ou mais entradas, a partir dos quais depois os residentes podem entrar nos seus edíficios. Alguns destes espaços estão abertos ao público, sendo o Begijnhof o mais conhecido, mas sobre esse escreverei amanhã. Isto porque não se localizando em Jordaan não o visitei hoje.
O resto do dia foi-se passando. Regressámos a casa depois do passeio de Jordaan. Eu, para descansar um pouco as pernas e voltar a sair. O Marco, para se preparar para uma jornada de trabalho. Saí sem destino certo. Passei pela Harleemmepoort, uma das antigas portas da cidade que ganhou a sua actual aparência em 1840, a tempo da coroação do rei Guilherme II. Ali perto, uma ponte basculante prepara-se para se movimentar. Fico um pouco, para ver as operações. Uma enorme casa-barco está a ser movida, empurrada por um rebocador. A manobra não corre bem, e há uma colisão sem consequências com a parede do canal. Mais à frente, descubro o Westerpark. Se ontem tinha ficado surpreendido pela popularidade de um outro espaço verde em Amesterdão, hoje foi demais. Uma enorme multidão cobria todos aqueles vastos relvados, a perder de vista. O sol desperta e as formiguinhas saem para o exterior.
De regresso, com a tarde algo avançada, percorro a extensa rua Haarlemmerdijk. Uma artéria interessante, cheia de cor, de variedade, de pessoas. Reparo numa sala de cinema que o Marco já me tinha referido, “The Movies”, e penso que seria um dos meus destinos habituais se vivesse na cidade.
Acabo por regressar ao centro natural de Amesterdão… Estação Central, Red Light District. Sei que dali a casa é um saltinho, e perco-me mais uma vez no emaranhado de ruas, pontes e vias de água. É Domingo e não é só nos parques que os habitantes da cidade aproveitam os primeiros raios da Primavera: os canais estão repletos de pequenas embarcações, subitamente percebe-se que quase toda a gente tem na família um barquinho para ir dar uma volta. Passo junto à Casa Museu de Ann Frank, um local que sabia à partida não me interessar. Apesar de serem quase 6 horas da tarde há uma extensa fila de turistas esperando pela oportunidade de dar uma vista de olhos ao seu interior.
Já eu regresso definitivamente a casa. Estou cansado e quero aproveitar a ausência do Marco para relaxar completamente, escrever e ver as fotografias recolhidas.