Estou aqui no escritório, mas a mente já não funciona e as mãos recusam-se a tratar de trabalho. Daqui por duas horas estarei a caminho. Primeiro, até ao aeroporto de Faro. Depois, Hahn, na Alemanha, onde passarei a noite num qualquer banco, ou mesmo no chão daquele aeroporto de brincadeira. O terminal comercial de Frankfurt-Hahn parece-se com um armazém, nas condições e dimensões. Construido, suponho, à pressa, para trazer vida nova a uma base áerea que a Força Aérea Americana utilizou durante todos os anos que durou a Guerra Fria e ainda mais alguns. Em seu redor podem-se ver vestígios dessa ocupação, e quem souber se atrever a isso, poderá mesmo explorar bunkers deixados ao abandono pelas autoridades militares americanas, em localizações acessíveis mas tão discretos que poucas marcas de vandalismo foram deixadas no local.

E amanhã, logo pela manhã, a estirada final, em termos de vôos, da Alemanha até á ilha de Rhodes, Grécia. Depois, durante 10 dias, será o que calhar. Para já estão previstas passagens por mais três ilhas: Santorini, ou Thira, como lhe chamam os gregos; Thirassia; Symi.

Mais uma passeata Ryanair, com os quatro vôos a terem custado cerca de 100 Euros. Será uma das viagens mais dispendiosas da minha carreira, considerando que não é possível ficar em Couchsurfing todos os dias e que a ligação por barco a Santorini custará cerca de 60 Eur. Por outro lado, o alojamento nesta altura do ano é surpreendemente barato, e estou a falar de 14 Eur por noite, num modesto hotel com pequeno almoço incluido. Com a vantagem prometida de ter um carro à espera no porto às 2 da manhã. Se não se concretizar, bem, será uma nova experiência: depois de tantas noites passadas em aeroportos, será a primeira num porto. E ainda por cima, à despedida, o mesmo tratamento, com transporte incluido para o barco.

Como sabem os que me conhecem, apenas há pouco tempo comecei a viajar. Isto com a relatividade do tempo, porque para os mais novos cinco anos não é pouco tempo coisa nenhuma. Mas para mim é. Quer dizer, de novo de forma relativa. Tudo isto para dar conta de uma ironia: desde sempre que disse para os meus botões que o dia em que me convencessem a deixar o solo pátrio, mesmo que por uma semana apenas, seria para visitar a Grécia, esse berço esquecido da nossa civilização. Depois, em 1982, com 17 anos, vi o filme “Summer Lovers“. O cenário da película era a ilha de Santorini, onde se constrói um trágico-divertido triângulo amoroso entre um casal de jovens americanos (Petter Gallagher e Daryl Hannah) e uma bonita francesa que se estabelecera por lá (Valerie Quenessen, falecida num trágico acidente de viação em Paris, pouco depois da rodagem do filme). Ora se o país já tinha sido eleito, depois de Summer Lovers ficou determinado o local: Santorini. De resto o filme, como uma grande banda sonora, visto na saudosa sala do Cinema Roma, estabeleceu no imaginário daquele muito jovem adulto as definições do que seriam umas férias de aventura e romance. E dentro de três dias, se o anunciado caos grego não pregar nenhuma partida, o imaginário colidirá com a realidade, num confronto que poderá deixar mazelas, como tantas vezes sucede nestas situações.

1 COMENTÁRIO

  1. Olá!

    Vim aqui parar por um mero acaso. Ainda não li muitos posts (na verdade só este) mas pretendo seguir as tuas viagens.

    As fotos que publicas são muito bonitas!!! Continua! 🙂

    Saudações “geo-cacheiras” !

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