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Quilómetros nas Solas: 18 Km
Rombo no Orçamento: 2,80 Metro

Locais Turisticos: Jardin des Plantes, Grande Mesquita, Sorbone;  Passeio St Germain du Aprés e Montparnasse; ilha de França – Notre Dame; Sena; Louvre (exterior); Tulherias.

Acordar na rue de Fécamps e ver o céu cinzento lá fora. A noite foi algo fria, uma tangente ao conforto térmico. Pequeno-almoço e rua.

É um bairrozinho simpático, algo étnico, com uma loja vietnamita na esquina, logo, um café africano. As faces que se cruzam conosco revelam origens muito diversas. Asiáticas e africanas, europeias, claro. Um pouco de tudo. E o metro é logo ali.

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A previsão metereológica falava de céu totalmente coberto, talvez alguns aguaceiros. Mas a verdade é que se via um pedaço de azul e o sol espreitava, trazendo uma cor inesperada. Perante isto, plano alterado. Em vez de rumarmos directamente para o cemitério de Pére Lachaise – um local onde os dias tristes de Inverno oferecem uma luz que é amiga do fotógrafo – deixámos o passeio dos grandes cemitérios de Paris para outro dia e apanhámos o Metro directamente para o jardim botânico, junto à Gare de Austerlitz.

A entrada é gratuita, sendo contudo necessário bilhete para o Museu de História Natural, para as Estufas e para o pequeno Zoo que existem nos terrenos do Jardin des Plantes. No topo da alameda florida ergue-se um palácio. Não sei o que se passa no seu interior. A colecção de dálias é notável. Fica na memória a mulher japonesa que pinta o tronco de uma árvore escrevendo algo no seu alfabeto, de forma total, oficial. E a escultura “O Duelo”, colocada um relvado nas traseiras do palácio, constituida por três elementos: um homem, uma mulher e uma mesa de piquenique. A indumentária é de final de século XIX, e miram-se, estranhamente, de pistolas em punho. É um bizarro duelo.

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O pequeno bónus de sol já acabou. Daqui para a frente será mais um dia cinzento na cidade cinzenta, a ausência de cor, o monocromático que se abate em mais um dia. É triste e deprimente. Basta uma vista de olhos rápida na breve colecção de fotografias recolhidas para compreender esta ausência de alegria. Se um dia nublado chupa a vida de um sítio, em Paris o efeito é total. E em Paris não há muitos dias de sol, feitas as contas, ao fim do ano.

Passamos frente à Sorbonne, essa instituição, parte do meu imaginário desde há muito – não tivesse eu sido criado por um pai que era um homem de cultura numa época em que a francesa imperava e dava cartas.

Continuamos a andar em estamos em St. Germain du Prés. É um bairro cheio de estórias para contar, mas para mim manteve-se mudo. Sei que por aqui andaram Jean Paul Sartre e a sua amada Simone de Beuvoir, Ernest Hemingway parava no café de Flore, que hoje é um centro de snobismo onde uma sobremesa custa 10 Eur, o mesmo preço que um pequeno copo de vinho. Este e outro café histórico, o de Deux Magots, situa-se na boulevard Saint Germain, onde um dia Von Humboldt fundou a mais antiga sociedade geográfica do mundo, em cuja sede se decidiu e planeou a construção do canal do Panamá.

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A última imagem desta sequência tem um significado especial: é um local central do filme de Woody Allen, Midnight in Paris, onde a personagem principal parte para o seu mundo fantástico, apanhando a boleia que o levará para outra dimensão temporal, onde encontrará os seus ídolos artísticos, principalmente os americanos da chamada Geração Perdida, Cole Porter, Ernest Hemingway, Gertrudes Stein, Scott Fitzgerald, mas também Picasso, Buñuel e outros.

Vamos de novo com o guia na mão, em tablet, como ditam os tempos modernos, Encontramos assim uma inesperada escultura de Picasso, perdida num recanto do jardim exterior de uma igreja. Passeamos por ali, sempre seguindo as pisadas recomendadas. Os elementos referenciados no passeio são banais: igrejas, palacetes. Gosto mais de uma loja de velhos brinquedos, uma espécie de casa da antiguidades especializada, com uma atmosfera muito especial.

E de repente, sem dar por isso, estamos junto ao Sena e à Ille de France, uma pequena ilha no centro do rio que foi o núcleo histórico da cidade, o local onde se ergueu o povoado original, fazendo usufruto das capacidades defensivas oferecidas por aquele imenso fosso natural que é o Sena.

Decidimos colocar de lado o livro, até porque já estávamos perto do fim do “tour”, e atravessámos a ponte Nova. Passámos junto ao quais de Orfévres, um nome que transporto há décadas, desde que me deixei cativar pela personagem de Maigret, o inspector da polícia judiciária nascido da pena de Georges Simenon, e que se baseava aqui, onde ainda hoje é o quartel-general da polícia parisiense. A importância destas histórias policiais é tal que o “placard” informativo colocado no local refere precisamente isso.

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Logo a seguir chegamos à catedral de Notre Dame. Aqui sim, há muitos turistas. Turistas e uma igreja grande. Algo de que não gosto nada combinado com algo que não me interessa especialmente. Sinal para me pôr a mexer dali para fora. Rapidamente.

Algo de que gostei bastante foram os quiosques de livros, postais, reprografias e outros souvenirs, colocados em linha desde aquele ponto e por umas centenas de metros, ao longo do Sena. Gostei de ver os livreiros aguardando clientes com um livro na mão, embrenhados no seu próprio produto, e as estampas, cópias de aguarelas, posters publicitários vintage, revistas antigas. Mesmo com um Sena a correr com uma cor pardacenta, encontrei um certo charme neste comércio, como se extraisse dali um sussuro da cidade que todos – sobretudo os mais velhos – idealizamos mas que apenas alguns (OK, parece que a maioria, mas não eu próprio) encontram nos dias de hoje.

Notei um barco atracado que é afinal um quartel de bombeiros. Suponho que se trate da brigada fluvial, onde os mergulhadores se baseiam. É um detalhe pictoresco no seu todo, com os fatos de neoprene pendurados a secar, o brazão dos Sapadores sobre o portaló, os barcos móveis encostados de braço dado a bombordo. Cá fora, umas quantas carrinhas vermelhas confirmam a operacionalidade do “quartel” e chega mais uma, transportando a merenda dos homens de serviço.

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Continuámos a caminhar pela margem, atravessando de novo o rio mais à frente. Estamos junto ao Louvre. Já que é ali vamos lá meter o nariz nos seus páteos, contemplar a grandeza do seu edíficio. É mais um amontoado de pedra, como um gigantesco lego a tons de cinzento. Este será especial, guarda tesouros artísticos de todo o mundo e de todas as épocas. Deve ser fascinante para quem dá valor às maravilhas da arte. Imagino um apaixonado a passar dias nas salas sem fim do grande Louvre. Deve ser um sonho tornado realidade para as pessoas com alma artística.

Por fim as Tulherias. Tocadas de passagem. Uma multidão de homens joga “petanque” (ou como quer  que se escreva o nome do jogo). Não brincam em serviço, são profissionais daquilo. Usam uma série de instrumentos que nunca tinha visto. Um tem um “stick” com ponta magnética para apanhar as bolas do chão sem se baixar. Um luxo! É um jardim que quero visitar noutro dia, mais fresco e com mais luz. Metro e para casa. Chegamos a casa pouco depois das 19 horas e foi tempo para descansar até dormir.

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Dizia um velhote para o outro: – “Olha lá, sabes porquê que estão aqui estes cadeados?”, que respondeu – “Não sei, mas há-de ter algum significado, deixa-os estar”

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