Quilómetros nas Solas: 11 Km
Rombo no Orçamento: 4,20 Metro; 0,50 Artista de Rua.
Locais Turisticos: Járais e Canal St. Martin; Bastilha; Ille de France
Inesperadamente, o último dia, mutilado de tempo, foi dos melhores. Foi o terceiro com sol. Como vimos, no primeiro o meu corpo deu de si e tive que ficar em casa; no segundo, tive um problema de trabalho que me impediu de sair; no terceiro, iamos regressar e só tivemos até ao início da tarde. Mas pelo menos saímos relativamente cedo, depois de um derradeiro pequeno-almoço com o Pascal e dos abraços de despedida. Vamos ficar com as chaves, assim podemos deixar as mochilas dentro do apartamento e regressar mesmo à hora de ir para o aeroporto para as recolher. É excelente porque podemos aproveitar as últimas horas de Paris sem a carga adicional.
Tinha reparado no local pela primeira vez no Sábado, quando no metro por ali passámos com o Alain: Jauráis (?). O início do canal de St. Martin, em direcção ao Sena, e de um outro, menos famoso, que se dirige para Norte. Vistos de lá de cima, de dentro da carruagem, ambos pareceram interessantes, quando os vi, ao lusco-fusco, já com as luzes todas ligadas. Tinha ficado com esta área na mente, sempre à espreita de uma oportunidade de ver melhor, que não apareceu até ao último momento. Foi portanto por aqui que começámos, até porque a estação se encontra na mesma linha que serve Montmartre, a M2.
A manhã estava plácida, quente (vá, morna, o que já não foi mau), com uma luz bestial para fotografia. Primeiro fomos espreitar o canal que, acho, se chama “do Norte”. Andámos um pouco apenas, porque sabiamos que o percurso era no sentido oposto. Uns 200 ou 300 metros. Muitoooo agradável. Um par de cafés tem esplanadas viradas para a água. Não cafés à Paris, clássicos, mas algo mais moderno. Há pessoas nas mesas, a usufruir daquele momento bom. E outras estão sentadas no chão, pernas suspensas sobre o canal, à conversa. Nas escadas de um edíficio um francês toca acordeão, com o copo das contribuições à frente. Um grupo de bombeiros passa por nós a correr. Exercício matinal, com expressões descontraídas, como o exige o ambiente que nos envolve a todos.
As águas esverdeadas estão calmas. É, afinal de contas, um canal. Há folhas pintadas de Outono a flutuar. Também ali, logo no início do que penso ser o “do Norte”, existe um cinema. Senhores e senhoras passam por nós com meninos pelas mãos. Um avô babado vai tirando fotografias do neto.
Sentimos que chega de caminhar naquela direcção. O caminho é para o lado oposto, vamos descer o canal St Martin até ao fim, até à Bastilha. Meia-volta. Atravessamos duas ruas e chegamos ao início do famoso curso de água onde Amélie lança pedras, infelizmente de um ponto que é vedado ao comum dos mortais, do topo da comporta.
A partir dali e durante um bocado não há muito para contar. O passeio inicia-se de forma um pouco decepcionante, o primeiro trecho não é especialmente bonito, está algo neglicenciado, com o velho quartel de bombeiros num dos lados, semi-aproveitado apenas, decadadente. Mas depois só melhora. Sucedem-se as pontezinhas sobre o canal e as comportas elevatórias. Passa por nós um barco turístico de dimensões surpreendentes, contrastando com a largura modesta do canal.
Em determinado momento é como se o canal tivesse terminado, mas na realidade continua a correr, debaixo de terra. O que era antes o St Martin foi transformado num espaço ajardinado que se estende por centenas de metros, bem aproveitado, muito arranjadinho, onde cidadãos circulam e descansam. Fizémos esse troço a pé, e agora, em retrospectiva, sei que foi um erro. O dia estava tão bom que depois, à hora da partida, soube a pouco. Deviamos ter simplesmente apanhado um metro e acabado ali o passeio por aquela parte da cidade.
Mas não foi assim e acabámos na zona da Bastilha. Gostei do clima nas ruas, com muita vida, muito comércio, tasquinhas e cafés, não para turistas, mesmo para os locais. Encontrei a casinha de sopas que tinha referenciado como um possível local a experimentar e logo ao virar da esquina um restaurante português, “Paris – Lisboa”.
O tick-tack do relógio não abrandava, começava a sentir que tinha que manter um olho nas horas. Mas ainda tanto que queria fazer, já que o dia estava assim, esplendoroso. Tiveram que ser atingidos consensos. O pavilhão do Arsenal – um museu de arte gratuito bem cotado pelos viajantes – foi visto por fora. Os flãs de limão que nos piscavam o olho da sua montra foram deixados em paz. Reparei que estávamos perto da ilha de Snt Louis, que se encontra logo a seguir à famosa Ille de France, a tal da catedral de Notre Dame. E sendo assim, vamos lá dar uma vista de olhos.
Este pedacinho de terreno que parece flutuar no meio do Sena calha a ser o mais exlcusivo de Paris; ali, apartamento comuns chegam facilmente aos 2 ou 3 milhões de Euros. E não é de espantar. São meia dúzia de ruas, algumas bem sossegadinhas, e a cada porta parece haver uma tabuleta histórica a contar o passado do imóvel. O eixo central é muito agitado, mas as vias que contornam o núcleo da ilha, passando junto às águas, são um oásis de tranquilidade.
Num dia assim até a Notre Dame tem outra cara. Desta vez foi abordada de um ângulo diferente, chegámos até ela vindos de uma pontezinha que une a Ille de Snt Louis à Ille de France. Há muitos turistas em redor, mas apenas no terreiro ajardinhado frente à catedral a multidão se intensifica. Tiro um par de fotografias, só para “recordação”, agora que o pano de fundo é um bonito céu azul temperado com algumas núvens.
Agora sim, o relógio parece gritar por mim! Mas há ainda uma última coisa que quero rever antes de partir: a feira das flores, mesmo aqui ao lado. Esse maravilhoso par de corredores ladeados de stands de vendas. Não só de flores mas também de todo o equipamento para jardins, não tanto os essonços ancinhos e tesouras de poda, mas mais as bucólicas casas de passarinhos, hoteis de insectos, vasos pintados, enfim, todo um ambiente de “petit jardin” muito inspirador e que me tinha deixado encantado quando o cruzámos de forma um pouco apressada com o Alain.
Só pude aqui voltar porque a estação de metro mais próxima era mesmo à beira do final da feirinha. Estava-se a aproximar o tempo que tinha determinado como confortável. Agora era ir a Montmartre, esperar que a fechadura, muito temperamentar, não tivesse objecções à nossa entrada no prédio, pegar nas mochilas, regressar ao metro, atravessar a cidade sob a terra, chegar à Porte Maillot, apanhar o autocarro para o aeroporto Paris-Beauvais e pronto… contemplar o avião Ryanair para casa. E não é que foi assim que tudo se passou, com uma precisão suiça!?
Foi relaxante, partir assim, sem stress.Os 80 km que separam o centro de Paris do aeroporto foram ultrapassados nos 70 min previstos, mesmo existindo algum trânsito. No aeroporto, sobre o qual tinha escrito uma opinião muito negativa sobre uma outra ocasião (Sinal Menos: Aeroporto Paris Beauvais) tudo correu bem. Quer dizer, tudo não mas foi como se fosse. Passo a explicar: o Pascal tinha-nos impresso os dois boarding pass na mesma folha, um em cada face e pressenti logo que isso poderia causar problemas. Fui investigar e descobro que já se pode apresentar apenas o cartão de embarque electrónico na app Ryanair. Existem alguns aeroportos onde tal não é possível mas este não estava na lista. Só que ao lá chegarmos o rapaz no controle preliminar disse que teriamos que ir ao balcão de checkin (suponho que uma vez lá não pagariamos a taxa, mas mesmo assim…). Depois, viu a folha impressa e propôs-se a aceitá-la. Mas o colega do lado disse que não podia ser… estava uma supervisora por detrás que tomou conta da situação, escoltou-nos até ao balcão do checking, fez com que os boarding pass fossem ali impressos, levou-nos de volta ao controlo e fez-nos passar sem estar na fila de espera. No fundo, foi positivo. Tal como da primeira vez que usei o aeroporto, nota máxima para o pessoal, que é do melhor.