Tal como na véspera, este foi um dia de regresso. Simplesmente cruzar uma boa parte do país, sem objectivos. Talvez a jornada mais pobrezita de todos os dias da Islândia, e ainda por cima com um agravamento das condições climatéricas, que nos ofereceram chuva e céu nebulado durante todo o dia.

Escrevendo estas memórias de viagem a duas semanas de distância, sinceramente, já não me ocorre nada para relatar. Conduzir, muito. Chuva. Com este cenário foi basicamente usar a estrada número 1, pela qualidade do asfalto e melhor traçado.

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Apenas uma diversão: no fiorde que a esquiva ao túnel próximo de Akranes, viram-se novas coisas. Em primeiro lugar, descobrimos que aquela área tinha sido uma importante base naval dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Quando passámos para cima não tinhamos reparado, mas agora que sabemos tornou-se fácil identificar os vestígios. Existe um complexo que parece ter-se transformado num pequeno bairro residencial que visto com outros olhos se revela de natureza militar. E não muito longe há pontões, instalações de armazenamento do que parecem ser combustíveis. Provavelmente não as originais, mas também provavelmente foram sendo melhoradas com o correr dos anos, no mesmo local.

Aquilo é uma coisa pequena, mas meti o carro por ali para bisbilhotar. Há um ou dois velhos veículos, concerteza herança daqueles tempos. Mais à frente encontro um pequeno museu dedicado às operações do tempo da guerra, com um camião militar norte-americano à porta, um GMC. Está encerrado.

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Entretanto, descobri também que uma das mais espectaculares quedas de água da Islândia se encontra aqui muito perto, com o acesso a sair do ponto final do fiorde, do sítio onde a estrada reverte e regressa em direcção ao mar. Gostava de dar uma vista de olhos. Logo ali, onde se encontra o sinal de atracção turística, há uma “pequena” cascata bastante bonita (foto acima). Depois é conduzir durante uns poucos quilómetros e chega-se ao parqueamento. Existem mais dois ou três carros por lá.

O problema é que continua a chover. Não é um dilúvio, mas é constante, não vai parar. Ainda são uns quilómetros até às quedas de água mas estou agora em modo obsessivo… quero ver. E estou farto de estar sentado ao volante.

Mesmo com a chuva foi um belo passeio. Naquela zona já se começa a ver verde. Quase o primeiro verde que vi na Islândia. Brota do chão e das árvores que ganham folhagem. O solo está alagado, ainda bem que as botas são de boa qualidade. É necessário atravessar pequenos riachos. Em redor vejo vários cursos de água, cascatas secundárias. E ao longe vejo o vapor da atracção principal: Glymur, onde a água cai de quase 200 metros de altura.

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Sinto-me maravilhado. O trilho, mesmo com aquele tempo cão, é agradável. Gosto especialmente quando passo por uma espécie de caverna, ou mais um túnel, numa formação rochosa. Dali avisto uma “equipa” que caminha um pouco à minha frente, e poico depois vejo, do outro lado do ribeiro rápido, dois pontinhos coloridos que evoluem, montanha acima, muito devagarinho. Os ocupantes do outro carro. O terceiro grupo de pessoas na zona tinha-se cruzado comigo, de regresso ao parque de estacionamento.

No guia da Islândia que consultei brevemente quando me aproximava dizia que o acesso era um pouco exigente, mas nada de especial… apenas aconselhava vagamente a utilização de botas de caminhada. É em momentos destes que me convenço que muitas vezes os autores destes guias os escrevem sem sair de casa. Na realidade, para chegar a Glymur é preciso entrar na água até acima dos joelhos, e depois atravessar o riozinho caminhando sobre um tronco deitado entre as duas margens, apenas com o auxilio de um cabo esticado para ajudar a manter o equilibrio. A julgar pelos caminhantes que já vão do outro lado é possível. Mas um pouco arriscado.

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Era portanto hora de voltar. Um bocado frustrado, considerando o tempo e energia que já tinha investido ali, a vontade que tinha de ver a grande queda de água, o sentimento de derrota e a privação do prémio merecido, da cereja em cima do bolo que foi aquela agradável caminhada. Portanto, sempre sob chuva, voltar ao carro. E trocar de roupa, uma vez chegado.

Até chegar a Reykjavik “perdemo-nos” intencionalmente, usando uns atalhos, na esperança de ver algo diferente. O tempo continuava tristonho, mas talvez porque com a aproximação à capital se perde aquela sensação de travessia de áreas remotas, não causou grande stress deixar o conforto da boa estrada número 1.

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Passámos por lagos, vimos casitas pictorescas. Mas como tantas vezes na Islândia, senti tudo isto como “mais do mesmo”. Lagos, quedas de água, casas assim, isoladas,  montanhas. E castanho e cinzento. Mar. E sempre, mais do mesmo. Se a Islândia não me preencheu no seu todo, este dia foi o exemplo perfeito desta sensação.

Chegar a Reykjavik, que sempre me parece muito maior, em termos de população, do que aquilo que é. Parece uma metrópolis, estendendo-se por quilómetros e quilómetros, mas na realidade viverá aqui tanta gente como na Margem Sul do Tejo. Ou talvez nem tanta.

Os nossos anfitriões para este dia viviam nos arredores da capital, já para sul, uma posição perfeita (na realidade escolhida por causa disso) para a continuação da exploração da Islândia que estenderia naquela direcção a partir do dia seguinte.

Gostei imenso deste casal, para ai da minha idade. Gostei da casa, do seu estilo, senti uma enorme afinidade sócio-cultural com o Gunnar, e acho que foi mútuo. Passámos horas e horas à conversa. De todas as pessoas que conheci na Islândia estes foram os mais esclarecidos, capazes de me esclarecer melhor sobre as questões que fui acumulando sobre o país. Aqueles pequenos “porquês”, fruto da observação. Faziam parte daquele grupo a que costumo chamar de “enciclopédias andantes”, que sempre me entusiasmam. Foi óptimo ouvir tantas histórias e opiniões. Recolher toda aquela informação. E jantar. Hummm um jantar a sério. Que bem que soube.

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