Depois de Expedições Urbanas – Havana, este é o segundo livro do jornalista brasileiro Airton Ortiz que tenho a honra de ler. Se o primeiro, que tanto ajudou na preparação da voagem a Cuba, já tinha encantado, a impressão muito positiva confirmou-se com esta segunda leitura.
O título diz tudo. Partindo do Peru, Airton cruza paulatinamente a Amazónia, sempre por barco, sempre através do rio Amazonas ou dos seus afluentes. A sua experiência é empolgante. Este é um verdadeiro viajante, um aventureiro, que cruza o mundo de olhos bem abertos, ávido de descobrir o que o rodeia. A prosa é viciante. Num estilo informal o autor vai narrando as suas odisseias e desventuras, os episódios de um quotidiano agitado, os riscos que corre, as refeições que toma, as pessoas que conhece, os caminhos que trilha.
O detalhe é na conta certa. Sentimo-nos na sua pele, viajamos com as suas linhas, o que para mim é o objectivo derradeiro de um livro de viagens: levar o leitor por esse mundo fora, sonhando com paragens longínquas sem na realidade sair do conforto e segurança da sua casa.
Talvez o único excesso do livro seja a descrição da fauna e da flora amazónica. Nomes que ainda por cima nada dizem ao leitor europeu. A bicharada e as plantas da região só rivalizam no detalhe com que Airton se atira à comida mas aí, por qualquer razão, as coisas tornam-se bem interessantes.
Durante a sua travessia, que o levará à costa Atlântica do continente Sul-Americano, este viajante será transportado por um sem número de barcaças fluviais. Por lá dorme na sua rede, quase sempre ao ar livre, por vezes em camarotes, quando os astros se alinham para lhe proporcionar esse conforto. Pontualmente pernoita algumas noites em terra. Visita Manaus, mas concentra-se nas pequenas povoações. E outras que, apesar de desconhecidas para a maioria de nós, não são tão pequenas, como a cidade peruana que é a maior do mundo sem acesso rodoviário: Iquitos, que, com quase 450.000 habitantes, se liga ao mundo exterior apenas por tráfego fluvial e aéreo.
Ao percorrer as páginas de Travessia da Amazónia, que Airton vai escrevendo estabelecendo comparações com o livro de Júlio Verne La Jangada – Huit Cents lieues sur l’Amazone, ficamos com uma enorme vontade de preparar a mochila e ir já, seguir os seus passos, usar a experiência que nos passa. Parece fácil. E, fora de brincadeiras, deixou-me a pensar em fazer o mesmo trajecto.
Altamente recomendado, para entreter e fazer sonhar. Mas infelizmente o livro não se encontra à venda em Portugal. Talvez uma edição digital possa ser adquirida ou então… é tentar obtê-lo a partir do Brasil. Pessoalmente estarei atento. Se puder obter mais livros deste autor não hesitarei.