O terceiro dia em Chipre foi um sucesso. De manhã o nosso anfitrião tinha trabalho a fazer. A tarefa era visitar uma central eléctrica e reunir com a direcção. Os tipos querem expandir as instalações e para o fazerem precisam de um parecer positivo do nosso amigo. Portanto saímos de carro, ele deixa-nos numa praia das imediações e vai ao trabalho.
Foi agradável, caminhar naquela praia de areia escura, com muitas algas, água límpida e quente, onde alguns turistas nadavam em grande deleite.
Parecia haver muito tempo para queimar, mas na realidade o relógio correu num instante e entre o passeio junto à água e os momentos de preguiça, num instante estávamos quase na hora de sermos recolhidos.
Ainda explorámos um pouco a aldeia, mas na realidade ali não havia muito para ver. Era mais um aglomerado de casa de férias, sem uma comunidade viva. Encontrei um restaurante fechado para a época baixa com um imenso telheiro construído em madeira, onde esperei tranquilamente a boleia.
Para a tarde íamos para as montanhas. E fomos. Foi excelente. Uma oportunidade única de ter outra perspectiva da paisagem cipriota e de facto que diferente é, lá em cima. A estrada ziguezagueante sobe aos poucos e de repente já se vê a costa lá muito em baixo. Fora do carro sente-se que a temperatura desceu seriamente. Parámos uma e outra vez. Sobretudo para ver a paisagem.
Tínhamos imensos projectos para esta tarde. Quer dizer, o Sahil tinha. Eu senti logo que era ambição a mais e de facto muito ficou por fazer. Havia a possibilidade de ir a um dos castelos de montanha, mais afastados. Sem turistas. Vantagens de ter um carro ao dispôr. Mas não deu. Perdemo-nos nos encantos da serra, parámos num ponto de observação, onde trepei até à rocha mais alta e deixei-me estar a sentir o vento na cara, todo o mundo aos meus pés. Arranhei-me todo, mas valeu cada gota de sangue.
Mais tarde, iamos por uma estrada da serra, soubemos que iriamos encontrar o Mustafá que estava lá bem no alto, no pico mais elevado, onde estavam as antenas todas de telecomunicações, a participar num programa para a TV local. Queriam falar com o Sahil.
O nosso amigo fez trepar o velho Fiesta por um caminho de cabras sem fim, pouco próprio mesmo para um jipe, sempre a levar porrada por baixo, das pedras projectadas pelo rodado. Uma subida sem fim, até ao cerro das antenas, onde apenas encontrámos a viatura da TV. Ninguém à vista. Haveriam de aparecer e entretanto fomos explorar as imediações. Deitar ao sol, numa rocha lisa. Ver um lagarto atrevido que depois se pôs numa fuga tresloucada. Vieram os da televisão e levaram-nos o Sahil. Ficámos sós, à espera, a gozar o momento e o local. Em breve estaríamos de partida. O Chipre acabou por se tornar numa bela memória, fruto das expectativas baixas. Continuo a achar que é o país mais desinteressante da Europa, agora que só me falta visitar a Rússia. Mas a companhia e os momentos que nos proporcionou fez toda a diferença.
A gravação terminou, o Sahil foi-nos devolvido. Fomos andando para baixo, para a “civilização”, com tempo ainda para uma segunda visita à casa de gelados. Era o adeus. Seguimos de autocarro para o aeroporto, muito tempo antes, porque o transporte não está coordenado com as partidas.