Ora como foi isto…? Tinha ido a Hambamtota, no Sri Lanka, a partir da minha base em Tissamaharama. Um passeio agradável a uma localidade pequena e sem grandes atractivos turísticos mas bastante interessante. Andava por ali à procura de um local para imprimir umas coisas quando um tipo começa a meter conversa. Consciência pesada a minha, que continuo a reagir com alguma desconfiança quando acontecem coisas destas. Mas o homem era insistente e não vi forma de vir mal ao mundo por responder e num repente estávamos à conversa.
A primeira coisa que aconteceu foi o meu novo amigo resolver-me instantaneamente o problema da impressão. “É ali, naquela loja na esquina”. Assunto resolvido. Esperou enquanto eu aguardava a minha vez de ser atendido. Conversa do costume nestas ocasiões: de onde era, se estava a gostar do Sri Lanka. Essas coisas. Mas quando as perguntas voltaram na direcção oposta foi dizendo que a sua história teria todo o prazer em contar-ma, mas com um chá, que oferecia ele, no café de um amigo mesmo ali ao lado.
E assim foi. A primeira questão que tinha era como é que ele falava tão bem inglês, o que era uma lufada de ar fresco que vinha acalmar a minha fome de ter uma conversa fluente com alguém do Sri Lanka, algo que ultrapasse a conversa de nada, o de onde vens e como te chamas. Ora o meu amigo Zaheer tinha trabalhado uma série de anos nos Emiratos. Em Abu Dhabi. E estava por lá quando a onda veio. Lembram-se? No dia a seguir ao do Natal de 2004? Por cá era mais uma curiosidade mórbida. Para Zaheer representou a perda de toda a família, assim, de um momento para o outro.
Ali em Hamambatota mantém-se os costume de se viver com a família alargada, em comunidades que chegam a reunir dezenas de membros. E foi ali que a onda encontro toda a gente que era sangue do sangue de Zaheer. Ao todo morreram-lhe trinta e três familiares. Pais, irmãos, sobrinhos… escapou um. Um irmão que andava na faina do mar. A embarcação foi levantada pela onda mas não se voltou… restou esse.
Aora o Zaheer voltou onde pertence, depois de muitos anos fora. Porque quer ter uma família normal. As idas e vindas não lhe davam tempo para gerar o filho que desejava, mas agora sorri, está feito, a senhora dele está à espera de bebé. Pode estar em casa mas está falido. Vai tentando fazer uns dinheiros usando o seu inglês para orientar turistas e colocá-los em contacto com quem lhes pode mostrar as coisas da terra… umas idas ao mar, uns passeios nos parques nacionais da região.
Passámos a tarde juntos. Resolveu-me outros problemas, como uma necessidade urgente de ter acesso à Internet. Bebemos uma Coca-Cola juntos, ficámos em silêncio. Foi uma tarde boa, gostei de conhecer mais uma pessoa deste mundo. São estes momentos, humanos, que me movem por aí.
Também penso assim. Tantas histórias interessantes que andam por aí… Que tarde tão bem passada.