Os dias que se seguiram ao meu acidente passaram-se de forma atarefada. Durante 48 horas tudo se resumiu a obter uma nova lente para a minha Nikon. Foi nesta altura que compreendi a importância que a fotografia tem para a minha viagem. Para o bem e para o mal, tornei-me dependente da câmara para ver. Mal porque dependências nunca acabam bem, mas tenho que dar valor à forma como a fotografia me ensinou a ver o mundo, mais apurada, observadora. Sem uma câmara, viajar torna-se estranho, sinto-me nu, nada me interessa.
E foi assim que me agarrei ao computador e continuei a trabalhar para conseguir a nova lente. Qualquer lente, mas de preferência uma igual à que se partiu na queda. O décimo sexto dia da viagem, como o da véspera, foi passado no hostel, a esgotar hipóteses, a vasculhar. De novo, alguma esperança a levantar-se aqui e acolá, para logo esmorecer.
Por fim, consegui! O nome do meu salvador: Rodrigo Garay. Depois de longas conversações ele ofereceu-me uma lente igual à minha por 180 Euros. Um pouco mais caro do que conseguiria se estivesse em Portugal, mas para mim foi como chegar ao Paraíso. Ele tinha um kit com um corpo Nikon e fez-me o enorme favor de desfazer o kit para me ajudar. Ao princípio estava um pouco desconfiado com a generosidade, aliás, estava desconfiado de forma geral. Acho que o stress acumulado nestes dias não me fez muito bem à cabeça.
Só havia agora um problema imediato: o Rodrigo estava em Manágua, que ainda são umas dezenas de quilómetros de Granada. Eu ir lá era algo que não me apetecia nada. Manágua tem péssima reputação e estava bem em Granada. Contudo, se tivesse que ser, seria. Mas as coisas orientaram-se de forma mais agradável: depois de avanços e recuos, de talvez possa e afinal já não vai dar, o Rodrigo veio ter comigo a Manágua. Foi mesmo até às últimas, só quando saiu de Manágua ficou decidido.
Encontrei-me com ele na rua de diversão nocturna de Granada, encontrei-o em frente ao hotel onde ia ficar com a namorada, conversámos bastante, sobre fotografia, sobre coisas da vida, sobre tudo. Mas não me esqueço daquele momento em que pus as mãos numa lente Nikkor 18-55mm novinha em folha. Que bom!
Ainda fomos fotografar um pouco juntos, bebemos uma Toña e o Rodrigo tirou-me um dos melhores retratos que tenho. Regressei ao hostel feliz e aliviado. No dia seguinte a vida seria retomada. Daria a Granada mais essa jornada e depois seguiria caminho, rumo a Léon, a outra grande referência histórica da Nicarágua.