Acordei naquele hostel onde não gostei de chegar na noite anterior. Por acaso tenho que confessar que dormi bem, mas mesmo assim queria sair dali o mais rapidamente possível. Tinha reservado outro hostel próximo do centro histórico de Cartagena e estava em pulgas para me pôr a mexer dali para fora.

Mas não seria tão simples, porque não se encontrava ninguém à vista. Andei por ali, a explorar os cantos do espaço, do pátio, da sala comum. Ninguém. Eventualmente apareceu um outro hóspede com que falei um pouco.

Não tive hipótese. Só esperar até que o proprietário aparecesse. Levou uns trinta minutos. Como na véspera, pintou-me um cenário negro de Cartagena e basicamente “proibiu-me” de sair dali sem ser de táxi. E tinha que ser um táxi arranjado por ele, mas nisso creio que tinha razão, os problemas com táxis nas principais cidades colombianas são bem conhecidos e não é aconselhável mandar parar um ao calhas nas ruas. Que foi o que ele fez, para mim, mas OK, vou assumir que referenciou a matrícula ou a licença ou algo assim.

Até suspirei de alívio quando deixei aquele hostel para trás, rumo ao centro histórico, onde o simpático senhor me deixou onde lhe pareceu bem, já que eu não sabia bem para onde queria ir. E deixou-me bem.

Era cedo para chegar ao hostel e aventurei-me a explorar aquela zona central, no interior das muralhas.Percorri algumas ruas e subi às muralhas, de onde apreciei o mar e me deliciei com a brisa e com o odor fresco que trazia. Ali ao meu lado os funcionários de um restaurante preparavam-se para abrir o negócio. Que bela vista para uma refeição!

Voltei ao interior muralhado do centro histórico. É bonito e charmoso, mas excessivamente turístico. Está cheio de estrangeiros, um tipo de viajantes mais idosos, de carteira recheada. Isso estraga um pouco a experiência. Há demasiados carros.

Começo a ficar um pouco decepcionado com Cartagena e apesar de nos dias que se seguiram ter descoberta uma outra face da cidade, nunca ultrapassei esta sensação. Se adoro a Colômbia e estou pronto para regressar, provavelmente até mais do que uma vez, Cartagena será o local por onde passei no país que me marcou menos.

Estava imenso calor, mas percorri muitos quilómetros a pé, para trás e para a frente, vendo coisas, descobrindo os magníficos edifícios da era colonial, memorizando pontos onde quereria regressar com mais calma.

Bebi limonadas que comprei de vendedores de rua, há medida que a hora de procurar o hostel chegava. Depois de ler sobre o assunto tinha decidido não escolher um alojamento mesmo no centro, o que foi excelente, mas de resto acho que também não havia por ali muitas opções dentro do meu orçamento.

Escolhi um hostel em Getsemani, e na noite seguinte mudaria de hospedaria, ficando-me contudo pelo mesmo bairro. Para mim não existe outra escolha: Getsemani é o local a ficar em Cartagena. E porquê? Porque é animado, tem vida local, menos turistas, é pitoresco, tem grande atmosfera e é onde todos os melhores hostéis se localizam. Adorei!

E gostei também do hostel, muito animado, com tudo o que o o viajante precisa… cacifos, redes-cama no espaço exterior e muitos outros viajantes para conversar. Fiquei num dorm num piso superior e isso foi o menos bom porque aquecia bastante e de resto os meus companheiros de quarto eram bastante desarrumados.

Depois de me instalar saí para almoçar e se almocei… ! História à margem: na minha primeira visita à República Checa descobri um restaurante colombiano onde comi algo delicioso: Carne Desmachada, que é feito de care de vaca bem estufada e posteriormente desfiada até ficar quase uma papa, acompanhada de lentilhas, arroz, e alguns vegetais. Adorei! E voltei lá várias vezes nas minhas muitas passagens por Praga. Ora foi essa precisamente a minha primeira refeição na Colômbia e por que preço…. 2 Euros, o prato, com sopa e um copo de sumo!

Estava em estado de wow. A refeição foi excelente e a rua onde estava fervilhava de vida. Havia uma varanda onde se podia ficar a ver tudo aquilo lá em baixo. Havia imenso comércio por ali. Bares, restaurantes locais, pequenos supermercados, barbearias. Todo o tipo de lojas.

Fui dar uma volta e descobri a Praça da Trinidad. Apaixonei-me. Nos dias que estive em Cartagena voltei aqui várias vezes. Na Praça da Trinidad tudo é possível. Aqui vi polícias de serviço a jogar à bola com meninos, gente que vinha ao fim da tarde e em segundos instalava a sua banca de venda de petiscos, todos diferentes e especializados. Defronte da igreja sentam-se as pessoas, há malabaristas, hippies colombianos. Existem também murinhos e bancos e tudo fica ocupado quando as pessoas saem à rua depois das horas de mais calor. Velhotes, namorados, amigos. E turistas, claro. Não tantos que incomodem, que estraguem o ambiente local.

No passeio do outro lado da rua há barbeiros improvisados, que trabalham ali mesmo, no exterior. E de resto, todas as ruas ali em redor são uma fonte sem fim de detalhes, de grandes fotografias. Vielas por onde apetece andar, com tascas onde se deseja entrar, uma a uma, experimentar as iguarias colombianas, refrescar o corpo com os fabulosos sumos naturais.

Naquela parte da cidade os graffities são fenomenais. Deslumbrantes. Poderia escrever muitas linhas sobre Getsenami de Cartagena mas mesmo assim não ficaria descrito tudo o que vi e vivi. Adorei comprar uma garrafa de cerveja geladinha numa lojita local e descobrir um requintado bar de sumos com combinações e variedades fabulosas a preços tão baixos que se tornava tudo surreal.

Num café uma pequena multidão assistia a um jogo de futebol do Real Madrid, onde jogava Jaime Rodriguez, que passou pelo Futebol Clube do Porto e que é um herói nacional na sua Colômbia.

Andei um pouco mais. Passei por ruas estreias, de casas bem arranjadas, residências de uma burguesia de alto estatuto sócio-cultural. Do seu interior vinham vozes e vi algumas famílias que usufruíam do agradável final de tarde, os seus membros sentados em bancos no exterior do seu lar.

Andei por ali a vaguear até cair a noite e regressei ao hostel. Ali conheci um viajante alemão com que fiz amizade e que me faria alguma companhia no dia seguinte. E também com Ronny, um colombiano que vivia no hostel e com quem falei muito, noite dentro e que me marcou profundamente, com a sua história de vida e a sua filosofia pessoal… tanto que lhe dediquei um artigo inteiro, Ronny – O meu guru espiritual.

O serão prologou-se, numa mesa exterior, num pátio do hostel. Falava-se de viagens e de tudo, com novos hóspedes do hotel, e apesar de ter chegado no mesmo dia, já me sentia um veterano de Cartagena.

Foi um dia em grande, feliz e muito preenchido. Amo a Colômbia!

 

 

 

 

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