Durante toda a viagem este nome assombrou-me: Dandong. E porquê? Porque em Pequim estava a ficar em… Dongdan. Resultado: confusão assegurada. E foi mesmo para lá que fomos neste dia.  Mas comecemos pelo início…

Dormi bastante. Inesperadamente, parecia ter vencido finalmente o jetlag. Quando dei por mim eram 11 horas e ainda gostava de ficar um pouco mais no quentinho da cada do Peking Station Hostel. Mas logo hoje que apetecia não poderia ser. As comemorações do 70º Aniversário da Revolução estavam aí, para mais uma vez me prejudicar: o hostel recebeu ordens para encerrar ao meio-dia (a China, uma ditadura…? Nahhh!). Da parte da tarde não estava autorizado o trânsito de pessoas na área circundante. Tudo bem, de qualquer forma seria a hora de checkout e não faltaria muito para o briefing com o pessoal da Young Pioneer Tours, que teria lugar num café a cerca de 1,5 km do hostel.

Estava até com algum receio. E se com toda aquela paranóia de segurança em algum ponto a minha caminhada para o local de encontro fosse bloqueada? Fui caminhando, mochila às costas, muito leve, muito confortável, num dia lindíssimo de céu azul e temperatura amena… e andei… e andei… e em menos de nada estava lá. Alivio. Se algo corresse mal daqui para a frente não seria minha responsabilidade. Em princípio.

Estava bastante adiantado, claro. Comprei uma Coca-Cola na loja de conveniência na esquina. Enquanto a bebia apareceu o Matt, da YPT (a partir de agora, e como eles próprios fazem, chamarei YPP à empresa Young Pioneer Tours). Entrámos. Já lá estava o Nic, que seria o nosso guia nesta viagem à Coreia do Norte.

Paguei os 600 Euros em falta, recebi o cartão de turista da Coreia do Norte. Falámos um pouco. Chegou outro membro do grupo. Saí para a sala do café, deixando-os a tratar dos preparativos. À hora marcada iniciou-se o briefing, que não trouxe nenhuma novidade. Basicamente é um rever dos aspectos que constam da documentação online, um esclarecer de eventuais dúvidas. O que se pode e não se pode fazer. Nesta última categoria não há muita coisa: fotografar polícias e militares e suas respectivas instalações, andar sozinho, sem o guia coreano. Levar drones e lentes de fotografia superiores a 300 mm. Talvez existam mais coisas, mas estas foram as únicas referidas.

O grupo terá 18 pessoas. Há dois que não conhecemos neste dia porque voarão para Pyongyang. Quanto a nós, caminharemos até à estação de comboios de Pequim, já minha conhecida, da visita exploratória da véspera.

Ainda antes, tenho uma conversa com o Bryan, um simpático australiano, que tal como eu está a viajar sozinho e que adivinho desde já vir a ser o meu companheiro de quarto.

Não há nenhum problema no processo de embarque. Aliás, as coisas foram bem mais simples do que toda a gente esperava. Segurança a níveis normais. Uma pequena espera na sala de embarque. Entrada para a plataforma. Super simples de encontrar o vagão correcto e o lugar. São compartimentos abertos com três camas de beliche de cada lado. Calhou-me a de topo, um lugar de que não gosto nada. Não só é claustrofóbico e fisicamente mais difícil de aceder como se leva com o ar condicionado em primeira mão, o que noutra viagem já me tinha custado uma gripe.

Às 17:27 em ponto o comboio inicia a sua marcha. Parece que os comboios na China, pelo menos os de longa distância, são rigorosos com o tempo. No meu compartimento vai um casal misto do nosso grupo, ele alemão, vivendo e trabalhando na China, e ela uma chinesa. Os outros três lugares são de pessoas locais.

Seguimos conversando. O grupo está bastante disperso pelo comboio. No compartimento ao lado segue o Nic e mais duas pessoas. O Peter, outro alemão, vem visitar-nos. O dia escoa-se, vem a hora de jantar e, eventualmente, chega a altura da deita. Com toda esta conversa não faço nada do que tinha planeado. Nada de escrita, de leitura, de processamento de fotografias. Deito-me lá em cima, leio um pouco o livro sobre o Líbano que tenho no Kindle.

A noite só não é melhor por culpa própria. Estou algo agitado. Porque na realidade estes comboios chineses são os melhores que já experimentei. Assim de memória já passei noites em comboios em oito ou nove países. Talvez mais. O prémio, até agora, vai para a China: camas feitas, asseio total, casas de banho aceitáveis ao longo de toda a viagem, passageiros educados e silenciosos, venda de bebidas e de snacks, fichas de electricidade, estabilidade das carruagens. Muito bom.

Até amanhã, em Dandong!

 

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