Dia 20 de Janeiro de 2020 – Segunda-feira
O bilhete do autocarro de Mindo para Quito tinha sido adquirido na véspera. A partida era bem cedo e foi com saudade antecipada que fechei pela última vez a porta daquela cabana encantada no meio de um jardim botânico tropical privado que foi a nossa casa durante duas noites.
A pé até ao autocarro. Lá estava ele, já aguardando passageiros. Viagem até Quito. Depois, chamar um Uber. Sem problemas. Para a estação rodoviária principal. Sempre a andar, sempre fluido, como um relógio suíço. Procurar a bilheteira certa, a da companhia que faz as ligações para Riobamba.
Esta cidade encontra-se sensivelmente no meio do país. Não querendo fazer de uma só tirada a longa viagem entre Quito, aliás, entre Mundo, e Cuenca, encontrei em Riobamba uma alternativa que parecia aliciante. Uma paragem para ver uma cidade que era descrita como uma pérola escondida, e ainda por cima com alojamento que parecia ser de qualidade e a bom preço.
E foi assim que dei comigo no terminal de autocarros de Quito à procura da viatura que partiria para Riobamba.
Foi um dia escuro, com chuva e céu cinzento. Chegámos a Riobamba. A estação de autocarros fica a cerca de 2 km do centro. Anda-se bem. Uma rua agradável, com muito comércio, restaurantes, múltiplas opções para comer. Registo mentalmente que fome não se há-de passar em Riobamba.
Depois chegamos à histórica estação de comboios e descobrimos o centro histórico, com muita arquitectura de outros tempos. O hostel é um pouco mais à frente. Um senhor pergunta-nos se vamos para lá e diz orgulhosamente que é um projecto do seu filho. E um belo projecto! O edifício histórico foi recuperado com genialidade. Muito bom gosto, muito bem feito. Tal como tinha lido nas críticas, só tem dois defeitos: faltam casas de banho. Há uma para cada género para toda a população de hóspedes. Então é raro não ter que esperar pela vez para usar a casa de banho. Além disso, o quarto está um pouco desnudado. É a cama e pouco mais. Fora isso, é perfeito.
Sair para explorar a cidade. O dia continua cinzento e começa a mexer-me com os humores. Tenho fome. Estranhamente no centro a abundância de opções que vi enquanto caminhava não existe. Acabo por comer um pacote de batatas fritas com muitos molhos pouco saudáveis e uns pedaços de chouriço.
Sento-me um pouco a comer aquilo, numa das principais praças da cidade. É uma praça bonita, com uma igreja pequena mas espectacular, com uma fachada feita de blocos de pedra talhada com exóticos motivos decorativos. Há também uma fonte decorativa, uma área ajardinada. Candeeiros públicos atractivos.
Ali próximo o vulcão Chimborazo deve ser visível noutros dias, mas não neste, com um tecto de nuvens que tudo cobre.
Vejo costureiros que trabalham na rua, como quem vende pipocas. Há outras praças bonitas. E é preciso reparar na arquitectura de muitos dos prédios que ladeiam aquelas ruas.
Descubro um mercado local, com muita fruta, o que significa sempre muita cor. Compro um balde de amoras, algumas bananas.
Vejo um bonito mural que conta alguns aspectos da história da cidade. Entro numa igreja seguindo uma senhora de idade que ali se apeou de um tuk-tuk. Leva um ramo de flores na mão e segue decidida para o interior do templo. Lá dentro não encontro vestígio dela mas delicio-me com a abóbada colorida e com a luz. É uma igreja bonita, de forma circular.
Talvez no dia seguinte os deuses do tempo estejam mais bem dispostos. Para hoje estava feito com Riobamba. Para além de estar naturalmente cansado, depois de um despertar bem matutino, uma longa viagem e já vários quilómetros a caminhar pela cidade, o tempo sugava-me vitalidade.
Hora de recolher ao hostel. Há vários hóspedes. Três putos ingleses muito cheios deles próprios, um cinquentão da mesma nacionalidade claramente enxofrado por ser posto de lado pelos conterrâneos. Algumas viajantes femininas que se deslocam pelas sombras do hostel.
Está a dar futebol na TV e os ingleses estão perfilados a assistir com grande entusiasmo, na companhia de uma holandesa tão arrogante como eles. Sento-me também para ver a bola. Saudades destes actos comuns lá por casa.
A noite é bem passada. O quarto é silencioso, a cama confortável. Só o problema da casa de banho distante.