Dia 12 de Fevereiro de 2020, Terça-feira

O dia começou em La Paz. Só passei uma noite na capital boliviana e não senti que perdi muito por não ficar mais tempo. É uma cidade curiosa onde me senti dividido entre o fascínio pelas suas peculiaridades e o desinteresse por uma urbe com pouco para ver e fazer, no que toca a pontos turísticos, históricos e culturais.

Tomei o pequeno-almoço no alojamento. Paguei à parte, mas não era caro, foi uma pequena mordomia que me ofereci.

O meu voo era ao final da tarde. Sim, reservei uma passagem aérea para viajar entre La Paz e Sucre. Um bilhete a um preço acessível que me poupou uma viagem de 12 horas de autocarro. Mais um pequeno luxo nesta passagem pela América do Sul.

Portanto, dizia eu, com a partida para o final da tarde, tenho ainda um dia quase completo para passar em La Paz. Não foi demais. Saí para a rua, vi o que já tinha visto na véspera. Andei pela rua pedestre, voltei à praça principal. 

Ali, entrei na catedral. O interior é algo decepcionante, sobretudo porque ao entrar o visitante vai já impressionado com o imponente aspecto exterior, uma aparência que parece ter sido mantida desde a época da fundação da cidade.

Visitei o Museu Nacional de Etnografia e Folclore, precisamente na tal rua pedestre. Uma visita agradável, apenas maculada pela proibição de tirar fotografias nas salas, o que me perturba sempre um bocado. Especialmente ali, com exposições fabulosas, cheias de cor.

Ali perto encontrei algo muito interessante. O Hotel Torino, um estabelecimento clássico que, penso, já não é usado como local de hospedagem. O seu pátio tem mesas, será um restaurante e um espaço de espectáculos. Tudo aquilo transpira história. Está velho, mas é um velho com charme. Há recortes de jornais. Ali se imprimia mesmo um jornal e uma primeira página da publicação dá conta do início da Segunda Guerra Mundial. Fascinante.

Basicamente na porta ao lado, um café com alma onde entro e me delicio com um leite com chocolate e um croissant. Um reforço ao pequeno-almoço tomado com muita calma, apreciando o local. Imagino o quanto estas paredes terão já visto. Adoro locais assim.


Agora vou ver se encontro os autocarros para o aeroporto. Esta é uma informação bem escondida. Não se encontra com facilidade na Internet mas apanhei uma referência discreta algures e perguntei ao tipo da minha casa de hóspedes que confirmou e explicou melhor.

No local que tinha marcado no mapa espero um bom bocado e não passa nenhum. Pergunto a um senhor que me redirecciona para o lugar que ele pensa que faz sentido e que certamente não é ali onde estou.

Lá ando mais um bocado. É difícil descrever o que vejo. Portanto, temos uma avenida com quatro faixas de rodagem, onde passam autocarros e carrinhas de transporte de pessoas de forma ininterrupta. Passam e param. É um hub importante, mas a confusão é incrível. São tantas que não se detêm apenas na faixa mais próxima do passeio. É um pára e arranca sem fim, uma confusão, são literalmente dezenas a cada momento. Tenho o número da que vai para o aeroporto mas os minutos passam-se e não vejo nenhuma das que me interessam.

Meia-hora depois, nada. Começo a ter dúvidas que existam ou que eu esteja no local certo. E então, vejo uma, que segue na faixa mais exterior. Passa com algumas pessoas dentro mas não imagino como se poderá apanhar porque rola depressa e bem afastada. Se calhar não pára ali. Para mim chega. Não me vou meter neste problema com um avião para apanhar. Fiz bem em fazer este trabalho de batedor. Pedirei na casa de hóspedes para me chamarem um táxi. É para aí umas 40x mais caro mas assim não dá.

Regresso a casa, combino com a senhora o táxi. Ela diz que é uma pessoa de confiança com quem costumam trabalhar, que não vou ter problemas. OK. Fico por ali a fazer tempo, descansando. Sem nada para fazer, descanso.

Chega o taxista. Vamos a caminho. Como que para fazer chacota, passa por nós uma das famosas carrinhas que quis encontrar. Chegamos ao aeroporto. O tipo pede-me mais dinheiro do que a senhora me disse. Não o recebe, não. Já foi demais.

Agora tenho um tranquilo voo para Sucre. Um pequeno avião das Amaszonas. Cerca de uma hora de voo, sobrevoando zonas montanhosas desertas. A vista pela janela é incrível e vai-se tingindo com as cores quentes do pôr-de-sol.

Aterro. Que tranquilidade. É um aeroporto literalmente no meio do nada. Há um enorme avião de fabrico russo na placa.

O transporte do aeroporto para a cidade é a coisa mais pacífica que se pode imaginar. Tal como descrito onde procurei informação, é só sair do terminal e vê-se logo uma série de carrinhas que embarcam passageiros para Sucre. Sem chatices, sem pressões, sem taxistas pressionantes.

Em suma, saí do avião, caminhei 100 metros até ao terminal, atravessei-o em 20 segundos, olhei para as carrinhas, confirmei com o pessoal, entrei e 2 minutos depois estava a caminho. Não poderia ser mais fácil.

São uns 30 ou 40 km até à cidade. Ao meu lado, um casal de uns 60 anos, muito locais, índios. E uma ternura sem fim, uma coisa linda de se ver. Ela adormece, ele tapa-a, Vão de mãos dadas.

A cidade aproxima-se e os primeiros passageiros começam a sair. A carrinha vai-se esvaziando. Não faço ideia de quanto perto do centro histórico me vai deixar. Vejo no telemóvel que vamos na direcção certa, depois curva um pouco e pergunto às pessoas ao pé de mim mas também elas são de outras partes e não sabem. Há um homem que está na mesma situação. No fim, o simpático condutor leva-nos ainda mais perto do que a paragem oficial permitiria e resta-me uma breve caminhada até ao hostel.

Adorei. Que local simpático que escolhi. Mais uma vez o meu palpite estava certo. É uma casa colonial, com um enorme pátio. Para mim, é o hostel perfeito. Mas sobre isso escreverei depois. Agora, como naquele dia, já estou cansado.

Instalei-me no meu beliche. Havia mais quatro pessoas no dormitório. Saí logo para explorar um pouco da cidade. Não fui longe. Já era de noite e tinha sido um longo dia. Jantei num restaurante desagradável pela sua modernidade. E fui até à praça central, bem próximo do alojamento. Foi amor à primeira vista. A praça e o jardim que se encontra no meio está cheia de pessoas que se divertem e convivem. Há música, jovens amigos sentados nos bancos, velhinhas que vêem e namorados que namoram. Lindo! Voltarei aqui todos os dias! Agora recolho-me para descansar e dormir.

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