Dia 25 de Fevereiro de 2020, Segunda-feira

Um dia muito preenchido em Salta. Acordo cedo e trato logo de uma das tarefas para o dia, comprar uma passagem para o dia seguinte para um autocarro entre Salta e Resistencia. Voltei para um pequeno-almoço mau no péssimo hostel dos 7 Duendes e para a rua com coisas para tratar. Primeira missão: encontrar alojamento para esta noite. Tinha três opções para visitar. Na primeira, não havia um quarto sossegado, era tudo virado para a rua. Caminhei até à segunda, e gostei.

Um ambiente muito diferente, para melhor, claro. É um apartamento, grande, transformado em hostel, com dois ou três dormitórios acessíveis a partir de um longo corredor. A sala comum tem ares de uma sala de estar doméstica, com duas janelas para a rua. Gente simpática, um cantinho sossegado num dorm silencioso. E barato. Está feito!

Agora tenho uma boa parte da manhã disponível para vaguear por Salta. Aproveito e vou até à estação de caminhos-de-ferro, histórica, e com uma geocache para ser encontrada nas suas imediações. Há alguns elementos históricos, carruagens, material de manutenção. Era suposto existir um museu, pelo que diz o Google Maps, mas não encontro ali nada assim.

Para chegar à estação atravesso uma área com cafés e restaurantes modernos e bem arranjados, com criatividade e gosto. Aquela hora está tudo muito morto, mas parece ser a zona de animação nocturna que está a dar aqui em Salta.

Encontro por acaso um interessante edifício, o da Sociedade Española, com o ano de 1882 gravado na fachada. Gosto das duas torres decorativas com ameias. Parece funcionar como um centro cultural. Entro, está tudo quieto, não se passa nada. Algumas salas estão abertas. Começo a sentir-me um intruso e saio antes que alguém tenha dado por mim.

Continuo a passear. Passo por um jardim onde um grupo de jovens ouve música bem alta. Um par deles ensaio uns movimentos com skates. Há charros a mudar de mãos. Ali próximo, dois poetas locais imortalizados em pedra observam a mais recente geração com expressão reprovadora.

Mais à frente passo por uma rua de aspecto decadente, como tantas vezes são as que confinam com estações ferroviárias. Há murais e um chama-me especialmente a atenção: neles foram pintadas caricaturas dos três argentinos mais famosos, Maradona, Borges e Che Guevara. Ali ao lado, um velho Renault abandonado.

Vou à praça das Forças Armadas. No centro um imponente monumento que comemora uma importante batalha da guerra da independência da Argentina que ali teve lugar, na altura no que seria um campo nos arredores de Salta, hoje bem no centro da cidade. É uma rotunda ampla com grandes espaços ajardinados e por ali foram colocadas peças militares. Um avião, canhões, um tanque Sherman, da época da Segunda Guerra Mundial.

Regresso ao centro, vou até à praça principal. Como qualquer coisa antes de regressar ao Sete Duendes para recolher a minha mochila. E agora, de volta ao Hostel Ruhma onde me instalarei para esta segunda noite em Salta.

Fico um bocado a apreciar o bom ambiente que por ali sinto. Converso com as moças que ali trabalham. Ou serão hóspedes? Não sei, sente-se ali um espírito de família e é difícil perceber quem é quem. Chega um homem, louro, alto, de olhos azuis. Fica à conversa com o dono do hostel. Mais tarde saberei que é o proprietário do imóvel e que tem o cabeleireiro no piso de baixo. Será ele que me cortará o cabelo com muita conversa pelo meio. Um tipo viajado, interessante, que já viveu em várias cidades europeias e agora ali está, em Salta.

Para o meio da tarde vou dar outro passeio. Quero visitar o museu de história que se encontra instalado no Cabildo, na praça central. Uma visita agradável, onde noto o interesse dos argentinos pela sua história. Há muita gente a visitar. Com todos os perfis.

Da varanda do piso superior tem-se uma boa perspectiva sobre a praça. Vejo que o céu se carrega de cinzento. Não sei se irá chover mas não está com bom aspecto.

Ando por ali mais um bocado. Tenho fome e procuro opções, mas não me decido por nada e acabo por comer uma simples sandes.

Consigo ainda comprar um cartão para meu telemóvel. Foi um bom desafio. O mais surpreendente é que na loja oficial da companhia de telecomunicações não os vendem. A menina indicou-me onde comprar mas não encontrei. Acabei por conseguir, noutra loja. Comprar o cartão ali, carregar numa outra loja. E consegui. Sei que amanha vou sair da Argentina, mas o plano foi bem estudado: em breve voltarei a entrar na Argentina e com facilidade faço uma recarga que durará até ao meu último dia em Buenos Aires.

Volto para o hostel. É dia de Champions League e vejo um jogo na televisão. Fico por ali. Ao serão conheço um brasileiro que acaba de chegar.

 

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