Dia 6 de Março de 2020, Quinta-feira

Dia supostamente grande desta viagem, a visita às quedas de água de Iguazu. O bilhete de autocarro tinha sido comprado na véspera para a partida das 8:00. Pequeno-almoço bem matinal tomado no hostel, uma refeição simples mas agradável e depois, caminhar até ao terminal rodoviário.

O dia promete. Céu muito azul, nem uma nuvem no céu. Chegada à entrada do parque. Uma multidão, mas nada de dramático. Não demora muito tempo até chegar a minha vez para comprar o bilhete. O sistema está bem montado.

Agora é entrar, ir com o fluxo de pessoas. Muito rapidamente se perde aquela sensação de manada, à medida que ritmos diferentes e distracções individuais começam a dividir a massa humana.

Ainda é preciso caminhar um bom bocado até se ter a primeira perspectiva das quedas de água. Momento único, apesar da vista estar lá ao longe. Depois aproximo-me, tomando o Passeio Inferior.

Gostaria de poder dizer que foi uma sensação fantástica, mas não foi. Talvez um problema de expectativas demasiado elevadas, que se começaram a criar há muitos anos, quando vi o filme A Missão (1986), cuja acção tem aqui lugar. Ou talvez porque o caudal, apesar de abundante, não o ser este ano tão volumoso como costuma ser. Ou ainda, talvez por já ter visto demasiado mundo e ser cada vez mais difícil surpreender-me profundamente.

Foi mais uma queda de água para mim. A maior que vi até ao momento. Mas mais uma. Sem aquela sensação de wow. Como sucedeu há apenas alguns dias em Uyuni.

O tempo passa-se enquanto vou passeando. Não quero que me interpretem mal: não estou a dizer que não gostei de visitar, simplesmente foi decepcionante. Vendo as coisas friamente foi um dia bem passado. Dispendioso mas bem passado. Depois de fazer o passeio pelo trilho inferior, passo para o trilho superior, que dá outra perspectiva das quedas de água.

Há menos gente do que receava. Mas também mais calor do que estava à espera e com o avançar das outras intensifica-se.

Passo por um hotel todo impecável que existe ali – mas não deveria, considerando que é um Parque Nacional – e vejo o antigo hotel, com um charme que só no seu tempo era alcançado. Hoje é sede dos serviços do Parque.

Encontro aqueles bichinhos engraçados mas potencialmente perigosos que andam por algumas zonas do Parque, parecem uns guaxins de focinho muito longo.

Deixo para o fim a Garganta do Diabo. 99% dos visitantes pagam um valor extra para chegarem ao início deste trilho de comboio. Eu, simplesmente andei. Passaram por mim dois comboios, carregados com centenas de pessoas. Só vi um casal de viajantes que se cruzou por mim a caminhar.

O trilho que leva até à plataforma de madeira de onde se vê esta queda de água é também ele de madeira, elevada. Passa por numerosas superfícies de água e penso que com o caudal certo isto deverá ser bem mais bonito.

A Garganta do Diabo foi o único ponto em que senti uma emoção. Mais poderoso do que o resto, ver aquela massa de água que constantemente se precipita no vazio mesmo em frente a nós, enchendo o ar de vapor que, à menor, brisa, tudo molha.

Agora, era regressar. Refazer o trilho, a caminhada paralela aos carris de comboio e mais uma caminhada até à entrada do parque, parando para observar um crocodilo (ou caimão) que vejo ali junto a mim, num pantanal.

Apanho tranquilamente um autocarro que está para sair. Quem segue comigo são sobretudo trabalhadores do parque que voltam a casa. Viagem calma. Meto-me na geladaria que existe no terminal rodoviário, peço um balde de gelado. Muito gelado comi eu na Argentina e Bolívia… com estes preços não tem como resistir. Ainda por cima, maravilha das maravilhas, há ar condicionado.

Fico ali a descontrair, a saborear os aromas do gelado. Lá fora o calor está ao rubro. São três da tarde.

Regresso ao hostel e decido: o tempo que me falta em Iguazu será para relaxar. Desisto da ideia de visitar o lado brasileiro das quedas-de-água. O que vi hoje não me impressionou e é suposto ser o melhor. Sendo assim, em vez de apanhar calor vou carregar baterias. Até porque estou num óptimo local para o fazer, num hostel agradável e numa cidade talhada para que o viajante tenha a vida facilitada.

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