Estar em Mardin é penetrar no mundo mágico do Oriente, visitar o imaginário de mil e uma noites, viajar no tempo e no espaço, tocar outra civilização e viver numa época imemorial. Mas este artigo não é sobre esta cidade localizada no Curdistão Turco. O que recordo hoje é um hotel fenomenal onde dormi uma noite na minha segunda passagem por Mardin.
Fiz Couchsurfing em Mardin, ficando com um major de artilharia do exército turco que vivia na cidade antiga. Um acto de coragem por parte dele, reconheço. Há que consider que para a população em geral a Turquia é considerada uma ocupante. Sucede que ele não podia garantir-me alojamento para uma segunda noite e eu precisava de orientar a vida.
Vou então pelas ruas à procura de uma solução que me garanta um tecto. Vagueio pelos becos e vielas da cidade antiga e encontro por acaso este local. Meto o nariz, entro, não vejo ninguém. Um grupo de homens está a fazer uma obra. Comunicação difícil, sem uma língua comum.
Um deles vai chamar alguém. Talvez o gerente. Um pouco, muito pouco, de inglês. Que sim, que é possível marcar para o dia seguinte. Mostra os quartos. O preço é o mesmo, só tenho que escolher. Os primeiros não me caíram no goto. Havia um certo cheiro desagradável. Numa sala dois homens via televisão e bebericavam chá. O dono. Talvez. Sempre este problema de comunicação.
Para o fim estava guardado o melhor. O último quarto colocado à escolha. Um cenário de filme. Com uma casa de banho privada, era imenso. Teria uns 20 metros de comprimento? Não sei, estava fascinado. Ficou reservado e tudo combinado.
No dia seguinte, acompanhado dos protestos do meu major, que entretanto tinha decidido ficar em Mardin para o fim-de-semana e estender a sua hospitalidade, mudei-me para o Sahmeran Otentik Pension. Ele fez questão de inspeccionar o local, certificar-se que o seu hóspede ficava bem entregue.
Era o meio da tarde. Ainda fui dar mais uma volta pela maravilhosa Mardin e um pouco antes do pôr-de-sol estava de regresso ao alojamento. E que ocasião! É verdade que quando o astro-rei se deita nesta parte do mundo é um espectáculo. Mas assistir a isto num terraço privado tem outro requinte. O som que se eleva dos minaretes chamando os crentes para a última oração do dia é o tempero que torna o momento perfeito.
Ao longo da estrada que se afasta para leste vêem-se as luzes de dezenas de carros que se afastam. São as pessoas que habitam nas aldeias mais afastadas e que regressam a casa depois de um dia de trabalho.
Ao fundo, no horizonte, as terras que se avistam são sírias. A fronteira fica ali, quase ao alcance da mão.
Pela manhã o pequeno-almoço é tomado num dos terraços do edifício. Recebo uma pequena visita guiada. O gerente tenta explicar-me a história daquelas paredes. Sei que são centenárias. Mais que isso, têm séculos e séculos. Dali já se viu muita coisa. E depois há aquele detalhe intrigante, a estrela de David gravada na pedra no túnel de acesso.
O Maristan Tarihi Konak tinha no Outono de 2015, quando ali pernoitei, outro nome. Na altura em que escrevo estas linhas não se encontra disponível para reservas, mas poderá ver aqui o seu perfil no Booking.com.