Depois de uma noite bem passada não tardei a colocar em práctica o plano traçado no jantar da véspera: caminhar desde Zug até Zugerberg, e desde lá prosseguir para Oberageri.
Mas antes disso, um pequeno-almoço delicioso preparado pela Debora!
Lá fora o dia não parecia melhor do que o anterior: cinzento. Ao contrário do que tinha prometido a meteorologia, era um mundo triste e escuro que observava pela janela enquanto reunia a coragem para me por a caminho.
Botas calçadas e para a rua. Está um frio agradável, este frio que tanto amo, que não agride, que beija a pele. Começo a subida. Porque de uma subida se trata. Primeiro na malha urbana de Zug, depois, torno-me criativo, e meto-me por um trilho pelo meio da floresta.
Não me parece que fosse este o caminho certo. A Debora falou-me de indicações para Zugerberg e por onde fui não havia nada. Mas a direcção pareceu-me certa e no mapa que via no telemóvel fazia sentido.
Acabou por ser uma boa opção. Não me facilitou as coisas mas tornou o passeio mais interessante. O trilho tornou-se muito estreito, uma coisinha de nada onde não passariam duas pessoas.
Uma das coisas boas de caminhar na floresta densa é que uma pessoa não se apercebe da tristeza do cinzento que cobre o mundo lá fora. A luz é difusa, facilita a fotografia, e o ambiente é místico.
Eventualmente encontrei um grupo de casas, um trilho mais largo, e logo o caminho a seguir se tornou mais óbvio. Por esta altura já tinha suado bem. A inclinação era acentuada e não estou nem na melhor das formas nem no peso ideal para estas aventuras. No final andei muito mais do que pensava ser possível nesta fase da minha vida, foi um bom dia.
Mais à frente parei num banco com uma vista notável. Nem imóvel o frio se tornava hostil. Para ali fiquei, confortável, durante uns 15 minutos, antes de reiniciar a marcha para o topo.
Zugerberg é o bonito topo da alta colina que se eleva por detrás de Zug e oferece vistas maravilhosas sobre a cidade e o lago que a banha. Neste dia o tempo encoberto reduzia a magia. Era um mundo a preto e branco, aquele que se desenrolava perante mim.
Usei a casa de banho da estação do teleférico e pensei por uns instantes sobre o que fazer. Quando iniciei a caminhada não acreditava que iria até Unterageri e muito menos Oberageri, uns quantos quilómetros mais à frente. Mas foi o que aconteceu. Tinha visto uma placa apontando nessa direcção e tomei aquilo como um sinal do destino. Procurei-a e segui o seu conselho.
Em boa hora porque num instante. como se se tratasse de um milagre, o cinzento foi substituído por um radioso dia de sol, com céu azul e uma luz de sonho.
A descida foi bem mais interessante, e não pela facilidade física que envolve. O trilho era claro, bem marcado, e lindíssimo. Um mundo de verde, rico e fresco. Por vezes a paisagem abria-se e podia deliciar-me com pastos plenos de vitalidade. Sempre a descer, passando por uma pequena ponte que permitia ultrapassar um ribeiro.
As terras iam-se tornando planas à medida que me aproximava de Unterageri, já a via à aldeia, e o seu lago, mais um lago nesta terra de lagos. Logo entrei nas primeiras ruas com casas e cheguei à margem. Fiz uma pausa para “almoço”, descansei um pouco.
Sentia-me bem e decidi continuar até Oberageri, de onde sai o autocarro de regresso a Zug. Lá estava ele. Comprei o bilhete na app da SBB e instalei-me.
Em menos de nada estava a sair na paragem próxima de casa, mas ainda encontrei energia para explorar algumas ruas de Zug. Gostei da cidade, queria-me despedir condignamente.
Acabei por me sentar numa mesa de um café encerrado, à beira do lago, a ler um pouco. Em meu redor os “Zugianos” relaxavam depois de um dia de trabalho. Muitos deles chegavam, tiravam a roupa, ficando em fato de banho, e metiam-se nas águas que imagino fossem frias para umas braçadas. Um senhor fez isso e depois sentou-se também, com o seu portátil, abrindo o escritório ali mesmo, no mais magníficos dos postos de trabalho.
Chegou a hora combinada para jantar com o Cristopher e companhia. Cheguei a casa, as pizzas que a Debora tinha preparado estavam quase prontas. Compôs-se o cesto de piquenique e lá fomos, os quatro, para uma refeição ao pôr-do-sol. Uma bela despedida.
O dia chegava ao fim. A noite já tinha caído. Iria dormir em casa do Marcin, mas ele chegaria mais tarde. A chave já estava comigo, só tinha que descobrir como lá chegar e como encontrar o apartamento correcto. Um telefonema do Christopher resolveu tudo isso.
Foi uma descontraída caminhada até lá. Depois de um percalço sem importância (obrigado Google Maps) cheguei. Entrei e deliciei-me com o apartamento aquecido. Confortável! Comi qualquer coisa, pus o expediente em dia. Relaxei. O Marcin chegou mais tarde, cansado. Tinha passado o dia num hiking exigente nas montanhas mas mesmo assim ainda arranjou energia para uma conversa interessante. Rendeu-se à fadiga, retirou-se, não sem antes me convidar para ficar lá em casa os dias que quisesse. No dia seguinte já não o veria.