O primeiro dia da viagem a sério, descontados os preliminares que passaram por Sevilha e pela chegada a Cancun. Pela manhã chamar um Uber para a estação ADO de Cancun e aproveitar para comprar o cartão para o telemóvel. Numa conveniente loja a cem metros da estação foi resolvida a segunda tarefa “obrigatória” (a primeira tinha sido obter dinheiro local no aeroporto). Cartão válido para 30 dias, 5,2 Gb de dados, chamadas e SMS ilimitados, por cerca de 15 Euros.

E agora, comprar bilhete para Valladolid, a primeira paragem destas quase cinco semanas pelo México. A ADO é uma empresa de autocarros que domina o mercado do sul do México, tendo ligações entre os principais pontos do país a sul da capital. Para norte, nada. É muito apreciada por viajantes, não faltam blogues com louvores à ADO. Não guardei a mesma ideia, especialmente quando comparando com as empresas que operam para norte, como a Primera Plus.

Os autocarros ADO são geralmente pontuais. A rede de rotas é bastante boa. Por outro lado as viaturas não estão nas melhores condições, não são especialmente confortáveis, os condutores são geralmente antipáticos, o ar condicionado faz-nos sentir num frigorífico e, pior do que tudo, ao longo de toda a viagem há filmes dobrados em espanhol com o som elevado. Não é especialmente mau para uma viagem de 1 ou 2 horas,  mas tem laivos de tortura mental quando se é submetido ao tratamento durante 5 horas. Os bilhetes podem ser comprados online.

Há algum tempo o pagamento por cartão de crédito só era possível para cartões mexicanos, mas paguei algumas viagens com o meu Revolut, sem problemas. E pode-se optar por pagamento com Paypal. Depois é apresentar o PDF com o bilhete no  momento do embarque.

Quanto aos preços, não são especialmente baratos. Viajar de autocarro de primeira classe (no México entende-se as rotas directas com uma, duas ou nenhumas paragens como de primeira classe) é mais caro do que em Portugal.

Para Valladolid o bilhete custou o equivalente a 12,50 Euros. Para uma viagem de duas horas e meia (no relógio apenas hora e meia porque o estado onde está Cancun, Quintana Roo, tem uma hora de diferença em relação a quase todo o restante México).

Em Valladolid o terminal ADO encontra-se bem no centro histórico da cidade, muito conveniente para nós que pudemos caminhar tranquilamente até ao alojamento escolhido, um quarto em formato de suite a uma distância aceitável da praça central, mas localizado numa zona tranquila com uma atmosfera muito local.

Foi uma reserva AirBnB. Chegámos para deixa as mochilas e fomos encontrar a nossa anfitriã e a filha ainda a acabar de limpar o alojamento. Gente simpática, agora que olho para o conjunto das cinco semanas no México, da mais simpática que encontrámos entre anfitriões. Conversámos um pouco, recebemos umas dicas sobre o que fazer e onde comer e fomos à descoberta.

Pois, Valladolid foi como quase tudo no México… nada de mal mas tão pouco algo de especial. O chamado pãozinho sem sal.

Para preparar esta viagem baseei-me, como tenho feito nos últimos anos, em blogues de viagem. Partia para a abordagem ao país com expectativas baixas, mas depois de ler alguns artigos repletos de adjectivos fabulosos, comecei a pensar se não estaria a ser demasiado pessimista. Não estava. Tudo o que estes blogues fizeram foi dar-me esperanças infundadas. Por exemplo:

when people ask me what they should see I always tell them that Valladolid should be at the top of their Mexico bucket list!

“After nearly a year traveling the Yucatan peninsula, Valladolid remains my absolute favorite place in Mexico. Vibrant. Authentic. Unique. Valladolid is authentic Mexico at its best.”

Será que esta pessoa tinha viajado antes na vida? Será que foi a mais algum lugar no México? Será que é paga para escrever assim? Este tipo de afirmações superlativas foi uma constante nas minhas leituras, não só para Valladolid mas também para outros locais do país e quase sempre completamente infundadas.

A Calzada de los Frailes é considerada a rua mais bonita desta cidade com quase 50 mil habitantes. E será, mas não é nada de extraordinário. É o ponto onde se concentra a maioria dos muitos visitantes estrangeiros e está repleta de lojas e restaurantes destinados ao mercado turístico.

Esta via urbana ligava no passado o centro histórico, hispânico, ao bairro dos nativos, basicamente onde fiquei, por detrás do Convento de São Bernardino de Siena.

O zócalo de Valladolid

Visitámos a praça central, o zócalo, como se chama no México às plazas principais de cada cidade, e vimos a fachada da bonita igreja de San Servacio. A praça não me conquistou. Levava na memória as praças das aldeias e cidades colombianas e de outros países da América Latina, com um ambiente comunitário muito intenso, um ponto de reunião das populações. Em Valladolid as pessoas que enchiam o espaço eram maioritariamente turistas, nacionais e estrangeiros, e mesmo entre os locais não se sentia aquela descontração de que me recordava.

Chegava a hora de almoço e com ela a fome. Acabámos por comer nas arcadas, um espaço junto ao zócalo que aglomera vários pequenos restaurantes, uma espécie de hall de comidas dos shoppings, só que numa versão muito local. Comeu-se bem e barato, foi agradável, a melhor opção que podia ter tido. Gostei bastante do local. Genuíno, colorido, interessante.

Um belo almoço mexicano para dois por 3 Euros, incluindo os sumos naturais.

Rapidamente ficámos com aquela sensação de “e agora, o que se faz… nada”. A meio do dia o calor apertava. Fomos descansar um pouco, o jetlag e as recentes noites mal dormidas ainda se faziam sentir.

Depois visitámos o convento, pitoresco, oferecendo belas imagens. Tenho que reconhecer que visto de fora não encorajava à visita. Mas o interior é muito atmosférico, gostei. Cores interessantes, um espaço de mãos dadas com o passado, cheio de detalhes e com bastante para ver.

A sensação de que Valladolid se tinha esgotado para nós em meio dia fez-nos arrastar esta visita, fazendo-a com muita calma.

Um convento de interior muito colorido

Não se passou muito mais neste dia. O cruzar de algumas ruas e, ao serão, uma saída para sentir o ambiente. Frouxo. Apesar de ser fim-de-semana os pontos naturais de reunião, as praças, quer o zócalo que a praça junto ao convento, onde se encontram as famosas letras VALLADOLID (todas as cidades mexicanas que se prezem têm as suas letras, mas de todas, as de Valladolid serão as mais bonitas) tinham poucas pessoas. Algumas bancas de venda de comidas e bebidas, mas tudo muito morno.

Uma palavra para a segurança, que é muita. Não há qualquer problema em vaguear por Valladolid, seja de dia seja de noite. Voltámos sempre a casa bem tarde, depois do passeio nocturno, sem qualquer problema ou indício de potenciais chatices. Uma cidade habitada por gente de bem.

Praça de comidas dos Arcos

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