Não é que não estivesse avisado, mas depois de tantos falsos alarmes já nem acreditava. Finalmente a chuva apanhou-me, depois de uma molha épica a sair do avião seguida de onze dias de tempo excelente.

A manhã acordou cinzenta e chuvosa. Tinha combinado com um moto táxi a recolha às 8:30 para visitar uma praia bonita recomendada pelo Wilkins mas assim como estava não ia dar. Pensei no que fazer e na realidade não tinha grandes opções. Tive que esperar que o senhor aparecesse, pontual, para lhe dizer que assim como estava não havia condições. O preço acordado eram 250 DOP. Nada de especial, iria pagar de qualquer forma, claro, o homem não tinha culpa e teve que ir até ali e deixar a agenda em aberto para esta manhã.

Não queria aceitar. Custou-me a convencê-lo a aceitar pelo menos metade do dinheiro. Fiquei até surpreendido com a resistência genuína a ser pago por um serviço que não prestou.

Fiquei a ouvir o motor da mota – que era bem bonita, aliás – afastar-se e recolhi-me. Estava um dia desagradável, e sem sol a sensação de calor habitual tinha-se dissipado.

Deixei-me estar na modorra durante algumas horas. Lá fora caíam aguaceiros sucessivos. Não que se estivesse mal. Um dia mais descontraído, sem viagens nem caminhadas, soube-me bem.

Eventualmente o céu abriu. Em boa altura. Começava a sentir-me entediado. Saí lá para fora, decidido a meter-me numa guagua e seguir para Rio San Juan, uma povoação não muito longe que tinha referenciado aquando da preparação da viagem.

Chegando à rua principal logo passou a guagua. Fiz sinal, entrei e acomodei-me. Aqui o transporte é feito em carrinhas tipo Hiace e não em pickups de caixa aberta. Chegando à estrada a coisa entortou. Em vez de virar à direita, como deveria, foi para a esquerda. Percebi logo. As guaguas circulam entre Nagua e Rio San Juan. Não saem de Cabrera. Logo, umas vão para um lado e outras para o outro. Não me ocorreu, agora tenho um plano furado.

Logo improvisei, lembrava-me que ao chegar tinha visto esta bonita praia e o local chamava-se La Entrada. Sendo assim, a La Entrada irei.

Não demorou muito a chegar, basicamente é a povoação seguinte. Tal como em Cabrera, a viatura vai dentro da localidade, o que me facilitou a vida. Não precisei de caminhar desde a estrada nacional.

Lá fiquei, e enquanto o meu transporte se afastava consultei o Google Maps. Simples. Agora seria caminhar. Uma aldeia sem nada de extraordinário e por isso interessante. Sente-se que é um destino de banhos para o mercado nacional mas que está agora na época baixa.

Deixo as ruas de La Entrada para trás e avanço por uma estrada rodeada de verde luxuriante, chegando então ao pé o mar. Playa de los Cocos. Um parqueamento em terra batida, um restaurante de praia aberto mas fechado… estive na área um bom bocado mas não vi nem ouvi ninguém. E contudo estava fisicamente aberto.

Descubro um cemitério abandonado, com as cruzes das campas semi enterrada na areia, junto à praia. Vejo dois homens por lá, prefiro não entrar, por enquanto.

Consigo imaginar este local num dia com muito sol e céu azul, deve ser espectacular. Este mar com outra cor… wow!

Vou passeando por uma estrada de terra batida que corre ao lado da praia. Passam por mim alguns homens de mota, são pescadores que vão tentar a sua sorte num ilhéu ligado a terra por um fio de terra.

Será o ponto onde inicio o regresso, até porque o céu está a ficar de novo carregado e a qualquer momento pode cair uma carga de água.

Gostei deste passeio, tudo tranquilo, diferente, bonito. Agora já não está ninguém no cemitério. Sinto as primeiras gotas de água mas não consigo resistir a demorar-me um pouco mais por ali e a explorar devidamente o lugar.

Inicio o regresso ao centro da aldeia para apanhar transporte de volta para casa. Vai chovendo, mas nada de especial, felizmente não cai uma daquelas cargas tropicais. Chego a uma esquina, estão umas pessoas junto a um colmado (mistura entre mercearia e bar, muito comum na República Dominicana). Pergunto, só para confirmar, que a guagua passa ali. Passa. Deixo-me estar à espera. O dono vai-me buscar uma cadeira para me sentar. Simpático.

Passados uns dez minutos lá vem ela. E pouco tempo depois deixa-me numa esquina a um passo de casa. A chuva tinha parado. Aproveito para esticar um pouco mais as pernas, fotografar umas casas com uns murais muito interessantes e para dar um salto ao supermercado, onde me abasteço regiamente de coisas boas, incluindo Corn Flakes, dulce de leche e uma garrafa de rum que aqui é bom e custa quase o preço da água.

Passei o resto do dia em casa, nem me apeteceu voltar a sair para jantar.

 

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