Como visitar o Haiti? Esta é uma questão que muitos viajantes colocam, sendo este país caribenho algo complicado no que toca a segurança. As boas notícias é que é relativamente fácil visitar o Haiti a partir da República Dominicana e igualmente seguro.

Em linhas gerais, a ideia será atravessar a fronteira a norte, saindo de Santo Domingo ou chegando à cidade fronteiriça de Dajabon a partir de Santiago de los Caballeros ou de qualquer outro ponto da região norte da República Dominicana.

No Haiti poderá ficar-se em Cap Haitienne, a segunda maior cidade do país, ou em Milot, uma simpática aldeia a uns 25 km, próximo de algumas das principais atrações turísticas do Haiti, a Citadelle Laferrière e o Sans-Souci Palace. Estes locais são no seu conjunto classificados como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, a única classificação do país.

Como Chegar

A primeira coisa a fazer é chegar à região, o que na práctica significa voar para a República Dominicana. No momento em que escrevo este artigo, e numa tendência que vêm desde há muitos anos, a TAP tem ligações directas entre Lisboa e Punta Cana, uma zona turística localizada na extremidade oriental da ilha.

Desde Punta Cana existem autocarros directos para Santo Domingo. Uma viagem rápida e económica que deixará o viajante próximo do centro histórico da capital dominicana.

Uma vez em Santo Domingo, existem três opções para chegar ao Haiti.

Autocarro de Santo Domingo para Cap Haitienne

A Caribe Tours, porventura a principal empresa de autocarros da República Dominicana, tem um serviço diário que liga Santo Domingo a Cap Haitienne, com paragem em Santo Domingo. Em condições ideais a viagem demora sete horas, com partida às nove da manhã e chegada às quatro da tarde.

O preço é uma variável algo incógnita. Cada relato fala de um valor diferente. Há informação contraditória. Teoricamente o bilhete deveria incluir as taxas de fronteira, de entrada e saída dos dois países, mas alguns testemunhos referem que tiveram que pagar parte dessas taxas na mesma ao passar pela emigração.

Depois, há valores para ida e para ida e volta. E escusa de procurar online, o website da Caribe Tours, o único que poderia dar uma indicação oficial, é basicamente inútil. O melhor é passar pela estação da Caribe Tours um dia antes e recolher toda a informação possível, não esquecendo de levar o passaporte para o caso de ser possível comprar logo o bilhete. O que não é um dado garantido. Há quem só tenha podido adquirir a passagem no dia da viagem.

Autocarro de Santiago de los Caballeros para Cap Haitienne

Muito do que foi escrito nos parágrafos anteriores aplica-se a uma partida de Santiago. Simplesmente pode ser uma opção mais conveniente se antes de entrar no Haiti pretender visitar um pouco da República Dominicana.

De Santiago a viagem demora quatro horas e meia. Teoricamente o autocarro parte às 11:30 da manhã, chegando, claro, às quatro da tarde a Cap Haitienne.

Note que em Santiago existem duas estações da Caribe Tours. Esta rota parte da estação de Las Colinas. É um pouco afastada do centro mas um Uber chega lá nuns 15 minutos custando cerca de 4 Euros.

Por Dajábon

Outra opção, é cruzar a fronteira individualmente, o que permite poupar uma boa fatia de dinheiro.

Para chegar a Dajábon, a cidade de fronteira do lado dominicano, poderá apanhar um autocarro em vários pontos da República Dominicana, mas os mais populares serão Santo Domingo, a que os dominicanos geralmente chamam simplesmente de “A Capital” e Santiago. Note que esta rota é mais usada do que a média e com alguma frequência os bilhetes esgotam, pelo que é aconselhável comprar os bilhetes com a antecedência possível. Que não é muita. Em Santiago só se vendem bilhetes duas horas antes da partida.

Aproximação à fronteira, em Dajabon

Dajábon não é uma cidade muito interessante, especialmente se não se tiver uma viatura própria. Mesmo assim um passeio pelas suas ruas é aconselhável, para se sentir o pulso de uma cidade de fronteira. Sobretudo às Segundas e Sextas-feiras, quando ocorre o mercado bi-nacional, que tem lugar numa área da terra-de-ninguém e que é zona franca. Por outro lado, se quer ter a vida um pouco mais fácil, será melhor cruzar a fronteira noutros dias.

Se ficar em Dajábon aconselho vivamente ficar no AirBnB da May. É um verdadeiro AirBnB, um quarto confortável numa casa de família, a partir do qual se chega à ao centro da cidade e à fronteira a pé. A May nasceu e cresceu em Dajabón mas conheceu mundo e o seu inglês é praticamente de nível “native speaker”, sendo uma excelente fonte de informação para a viagem e para ajudar em qualquer problema que se possa ter. É muito barato (paguei 23 Euros, talvez a melhor relação preço qualidade de toda a viagem) e de longe a melhor opção na cidade.

Atravessando a Fronteira

Antes de mais, noite que os valores a pagar são altamente voláteis. Cada viajante parece relatar um valor diferente. Apesar de eventualmente os pagamentos poderem ser feitos numa das duas moedas locais, o melhor é ir preparado com USD. Consideraria isso, inclusive para o tempo que passar no Haiti, de muito importante.

Os valores que paguei em Fevereiro de 2022:

Saída da República Dominicana – USD 20
Entrada no Haiti – USD 7

Saída do Haiti – USD 10
Entrada na República Dominicana – USD 10

Portanto, um total de USD 47.

Se optar por usar os serviços da Caribe Tour, terá a vida facilitada na fronteira. Há geralmente uma assistente da empresa que agiliza o processo e zela para que tudo corra bem. Só terá que seguir o grupo e seguir as indicações.

Passar a fronteira a solo não deverá ser difícil, sobretudo para viajantes com alguma experiência. O espanhol é utilizado, mesmo do lado haitiano, pois as comunidades vivem ligadas há muito tempo. Alguma dúvida e alguém esclarecerá.

Quando se caminha há um primeiro posto de filtragem. Não se parecendo fisicamente haitiano, os militares dão imediatamente prioridade. No posto de emigração há que preencher um impresso, entregar o passaporte e esperar um pouco enquanto um agente vai a um escritório fechado verificar se não há registo de problemas com a pessoa. Depois ele volta, entrega o passaporte ao viajante ou ao colega por detrás do postigo, e é necessário pagar a taxa de saída do país. Depois de concluído este passo recebemos o passaporte devidamente carimbado.

Atravessa-se uma ponte, há um controle. Possivelmente existirá outro, mas é algo dinâmico.

Chega-se à emigração do Haiti. As coisas são mais fáceis. Não há qualquer controle de bagagem ou de vacinação COVID. Paga-se a taxa, recebe-se o carimbo de entrada.

Mais à frente poderá haver um controle de passaporte e está feito, está-se no Haiti.

Da Fronteira para Cap Haitienne ou Milot

Saindo da emigração, deverá seguir a estrada durante 200 ou 300 metros e verá do lado direito uma série de carrinhas que asseguram o transporte para Cap Haitienne.

O preço normal deste serviço é 200 ou 300 HTG (Haitian Gourdes), mas há o risco de extorsão. Numa das vezes exigiram-me 600 Gourdes, sem qualquer razão válida. Acabei por pagar 500 HTG. Sem hipótese. 300 HTG = 2,60 Euros.

A viagem demora cerca de uma hora até Cap Haitien. São mais ou menos 50 km. Um percurso muito interessante. Quando se passa a fronteira sente-se que se saltou um oceano e se chegou à África Ocidental. Tudo muda, tudo se torna africano.

A caminho de Cap Haitien

Se for para Milot, deve sair num entroncamento chamado Carrefor la Mort. Ali, é atravessar a estrada e esperar que passe um transporte para Milot, que poderá ser uma pick-up de caixa aberta coberta e preparada para passageiros ou um tuk-tuk. Basicamente quase tudo o que passar naquela direcção vai para Milot, mas é melhor confirmar. O custo é de 25 HTG para as pick-up. Paguei 100 HTG por um tuk-tuk partilhado mas acho que me pediu mais do que o normal.

Se optar por seguir até Cap Haittien, é simples, ir até ao final da rota e estará não muito longe do centro da cidade, para onde poderá caminhar sem problemas assumindo que viaja leve. Prepare-se, porque o caminho é ruidoso, com muita gente e viaturas, poluição de todos os géneros em redor.

Milot ou Cap Haitien

Instintivamente procurei alojamento na cidade, que imaginava com uma base para visitar os locais UNESCO. Não é uma boa ideia. Encontrar alojamento em Cap Haitien é missão impossível. As opções ou são demasiado caras, ou demasiado estranhas (para dizer o mínimo) ou demasiado longe do centro. E de qualquer modo, são poucas.

Aconselho ficar em Milot, uma aldeia encantadora, de onde é super fácil ir e vir a Cap Haitien por uma quantia irrisória.

Uma bonita casa de Cap Haitiene

Só há uma opção para ficar em Milot, a La Belle Maison. O proprietário, Erick, é um haitiano da aldeia que vive nos EUA há décadas. Honesto e eficiente, responde rapidamente através da página Facebook do estabelecimento. O preço não é barato para o que oferece, claro, mas isso é assim mesmo no Haiti. Naquele país nada é fácil e o pouco tem custos. Um quarto humilde custa 55 Euros. Mas vale a pena. Gente boa, pequeno-almoço incluído, jantar delicioso por um valor baixo (4 Euros os pratos de frango). E o Erick está sempre lá, apesar de virtualmente, para ajudar com qualquer coisa, seja relacionado com o seu hotel ou com a região.

O que Ver em Milot

Sans-Souci Palace

O Sans-Souci Palace fica no fim da aldeia. Pode-se caminhar tranquilamente até lá. É um dos dois elementos que formam o conjunto classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. O valor da entrada é algo vago. Depende do momento. Pode simplesmente não existir. Pode aparecer alguém a pedir USD 10. Podem tentar vender-lhe um bilhete conjunto para a Citadelle Laferrière por USD 20. Na realidade, a cobrança da entrada estaria a cargo da Câmara Municipal de Milot. Câmara essa que não existe de facto há alguns anos. O que se passa é que alguns indíviduos tomaram nas mãos a cobrança, em proveito próprio, imagino. O meu conselho é para não comprar o bilhete conjunto. Foi o que fiz e foi um erro.

Citadelle Laferrière

Para lá chegar deverá contratar o serviço de uma moto-táxi. Devem-lhe pedir USD 20, pela ida e volta, o que é um pouco excessivo considerando que são uns 7 km para cada lado. É o que é. Tente baixar o preço, parece que resulta. Considere ir de mota, visto que é sempre a subir, e voltar a pé. Eles vão provavelmente tentar dissuadi-lo. Pessoalmente fiz o caminho de mota para cima e para baixo e não avistei – nem de perto nem de longe – nenhum motivo para não caminhar, do ponto de vista da segurança. E é um passeio muito agradável.

Seja como for, o transporte contratado termina no parque de estacionamento de acesso à cidadela. Dali até à fortaleza são 3 km sempre a subir. Vão-lhe ali oferecer serviço de guia e de transporte por mota ou burrico. Eu caminhei e foi um prazer.

Chegando à cidadela certamente lhe vai aparecer alguém para cobrar o bilhete. Eu já tinha, e isso foi um problema. O tipo não gostou de ser ver privado do seu quinhão e recusou-se a abrir-me as portas da fortaleza. Oficialmente, a pessoa que tinha as chaves só chegaria mais tarde… muito mais tarde… mas se aparecesse uma gratificação…..

Não paguei, estava a ficar farto do constante rip-off. Vi por fora e sentei-me um pouco à sombra. Passados uns 15 minutos o tipo ofereceu um acordo: deixava-me entrar mas só por 15 minutos. E assim foi.

A Aldeia

Não tendo mais nenhum ponto de destaque, a aldeia de Milot é uma localidade interessante para caminhar pelas suas ruas. Muito genuína, pitoresca e segura.

Uma rua de Milot

O Que Ver em Cap Haitiene

Ir desde Milot

Não poderia sem mais simples… na estrada principal passa constantemente tap-tap, carrinhas de transportes de pessoas que fazer o percurso até à entrada do centro de Cap Haittiene. O ponto de regresso é mais ou menos o mesmo da chegada, do outro lado da rua. Bilhete custa 25 Gourdes para cada lado. 30 a 45 min de caminho.

A ver em Cap Haitiene

Basicamente as casas, a arquitectura, o palpitar da cidade. O centro de Cap Haitiene mantém as antigas casas da era colonial, muito pitorescas. As ruas estão cheias de vida, talvez até demais. Na praça principal há a catedral e mesmo ao lado, um posto de turismo onde fui atendido por uma menina muito simpática, competente e com excelente inglês.

Outra casa bem colorida em Cap Haitiene

O Regresso à República Dominicana

Por conta própria

Para voltar há que refazer os passos da chegada em sentido inverso. Um tap-tap de Milot para Cap Haitiene, uma carrinha de Cap Haitiene para Ouathaminde, a cidade fronteiriça do lado do Haiti. A partida é, literalmente, da entrada da estação de “autocarros” de Cap Haitiene, a Gare Routiere. Super simples de encontrar. Eles gritam bem alto o nome do destino e não há que enganar, é mesmo à entrada da Gare.

IMPORTANTE: a fronteira encerra às 17:00. Não facilite, inicie logo pela manhã o retorno.

Em Ouathaminde é provável que o transporte não vá mais além da Gare Routiere local. Pode apanhar uma moto-táxi ou caminhar. Ouathaminde é dos locais mais seguros do Haiti, é muito pouco provável que tenha problemas se caminhar.

A travessia da fronteira tende a ser mais simples do que no sentido inverso. Rápido do lado do Haiti, um pouco mais rigorosa na entrada da República Dominicana. Aí verificarão o certificado de vacinação COVID (pelo menos em Janeiro 2022) e haverá lugar a uma breve inspecção da bagagem.

O seu passaporte será verificado por várias vezes ao longo do percurso.

Quando estiver em Dajábon poderá caminhar para a estação da Caribe Tours e comprar bilhetes para Santiago ou para Santo Domingo.

Com a Caribe Tours

Se preferir viajar directamente com a Caribe Tours desde Cap Haitiene deverá ir muito cedo pela manhã para a estação deles, ainda no centro da cidade mas numa área periférica, e comprar o bilhete, cujo valor é sempre uma incógnita. Não aconselho, pela necessidade de chegar muito cedo, pelo preço e pelo reduzido valor acrescentado à viagem. Simplesmente simplifica um pouco as coisas, pois não terá que mudar de transporte.

 

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