Ah mas este foi um dia especial. O meu aniversário, passado no México. E bem passado. Começou logo pela manhã, com a chamada do Uber que haveria de nos levar até uma antiga fazenda, localizada nos arredores de Guanajuato.
Estava um dia ideal para estas andanças, com muito sol, quente, sem o ser em excesso. Um dia sorridente portanto.
Chegar à Hacienda de San Gabriel foi simples, com o carro a deixar-nos mesmo à porta. A fazenda esteve associada à mineração. Mais do que à produção agrícola. Foi o lar de uma família que vez fortuna com a extração de minerais. Actualmente é propriedade do município que arranjou o local e o transformou num belo museu.
Aquela hora, não estava ninguém. Apenas a simpática funcionária da bilheteira. Lá dentro, foi explorar. Primeiro, a casa. Uma boa parte dela está acessível aos visitantes. Já recuperada das inundações que a danificaram seriamente e fizeram perder quase todo o recheio, a casa transmite a atmosfera de outros tempos, com quartos e banheiros mobilados e decorados com rigor.
Há pátios, jardins interiores e até uma bonita capela. Com as circunstâncias adequadas, como era o caso, é lugar para se visitar lentamente, saboreando-se cada momento.
Vista a residência, seguem-se os jardins, complexos e extensos. Foram organizados tematicamente, criando uma série de ambientes distintos, com inspirações bem diferentes. Desde os recantos escondidos, passando pelo jardim de cactos, de tudo se encontra na propriedade. Gostei especialmente de ver a piscina, desactivada, ainda com o mobiliário de outros tempos em seu redor. Facilmente me deixei transportar no tempo e pude ver ali os proprietários, recebendo na privacidade do seu lar uma família de amigos, todos estendidos ao sol, tomando as suas bebidas em redor do tanque da piscina.
Tirei na fazenda dezenas de fotografias. O local é um paraíso para o amante da fotografia, os temas não têm fim, as cores são ricas e a luz tende a ser excelente.
Estava por fim na hora de terminar a visita, que ocupou a maior parte da manhã. O calor acentuava-se.
Chamado o Uber, não para o centro da cidade mas, já que estávamos fora, directamente para a estátua do Pipila. Foi uma boa aposta. Vindos deste lado foi um instante e o serviço foi bem barato.
Lá em cima, um ambiente bem agradável e a melhor vista de Guanajuato. Ficámos por ali sentados um bom bocado a apreciar a vista e a observar as pessoas que iam e vinham. E que vista. Se Guanajuato é uma cidade linda, daqui de cima vê-se ao seu melhor.
Acabámos por descer a pé, por um emaranhado de becos e ruelas, passando por pedacinhos mais verdes, como que pequenos jardins perdidos no casario. Fomos dar precisamente onde era preciso, próximo do teatro Juarez.
A um dia de semana a cidade é diferente. Perde-se na animação, ganha-se na naturalidade. Os visitantes partiram, ficaram os residentes, nas duas andanças quotidianas, nos seus trabalhos, a tratar de assuntos, rotinas urbanas.
As igrejas do centro histórico também parecem outras, sem a multidão. Andámos por ali a revisitar os pontos que já conhecíamos e eventualmente fomos para cima, em direcção ao apartamento.
Um pouco de repouso, um recarregar de baterias, sempre com aquela vista deslumbrante, panorâmica, que nos era oferecida da janela.
E depois, mais para cima, para a igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, que tínhamos avistado brevemente no topo da nossa rua de manhã, quando o Uber seguiu por ali.
É uma delícia andar por ali. Um bairro com um palpitar muito local. De crianças que brincam nas ruas, vizinhas à conversa, homens que vão para o trabalho. E muita segurança, um oposto ao estereótipo mexicano.
Lá em cima, no pequeno largo, nada se passa. Está lá a igrejinha, adornada com bandeiras, mas escondida por detrás da vedação que a protege, portas bem encerradas. E o que fazer agora? A ideia era atingir as minas, que o nosso anfitrião indicou. Para ele, faz-se bem a pé. Agora, olhando para o mapa e para a estrada, já não tenho bem a certeza. E ainda bem que coloquei em causa as indicações: chamámos um Uber e de facto dali até às minas era um grande esticão.
O condutor era bastante simpático, tentou levar-nos a umas minas que eventualmente poderiam ser visitada, nas não podiam. Então, sem adicionar nada à conta, voltou acima e deixou-nos no miradouro, à beira da estrada.
Pelo que percebi esta plataforma encontra-se sobre túneis de minas e ao longe parece uma fortaleza. Era aquilo que víamos da cidade. Estão por ali uns quantos mineiros que saíram do serviço. Fazem tempo. Observamos as peças de mineração que foram deixadas no miradouro, como se se tratasse de um pequeno museu. Um ambiente interessante.
Na hora de regressar perguntei aos mineiros de que lado se apanhava o autocarro. E esperámos, até vir. Acho que alguma coisa correu mal, e ainda bem. Acho que supostamente deveríamos ir até ao final da linha e sem sair do autocarro esperar que ele regressasse e fosse para o centro.
Só que o meu mapa não enganava. O final da linha era a umas centenas de metros de nossa casa. Saímos, arriscando. Ali Guanajuato era ainda mais local, sentia-se o espírito de bairro. E o GPS todo baralhado que me fez perguntar a umas senhoras a direcção. Indicaram-me, bem e claramente.
Agora foi um arrepio, porque ali está-se na cidade profunda e não conhecendo fica-se a pensar no que pode suceder, se não existirá afinal de contas uma Guanajuato insegura, perigosa.
Mas não, foi tenso mas interessante e às tantas estávamos ainda mais perto de casa. Umas meninas brincavam e perguntaram ao que andávamos. Perguntei pela igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, ali já muito perto e afinal o nosso ponto de partida. Indicaram a direcção, aprestavam-se a mostrar o caminho. Não era necessário. Foi um momento engraçado.
E num instante estávamos de volta ao apartamento. A meio da tarde fomos para a cidade, uma refeição numa esplanada, com direito a serenata. Chegava aquele sentir de que já bastava de Guanajuato. De forma que depois da refeição, para casa descansar, passar o resto do dia na ronha. Não foi o melhor final de um aniversário, mas a primeira parte do dia compensou.