Dia 11 de Janeiro de 2024

As coisas podem mudar rapidamente. Ontem adormeci amargurado, hoje tudo melhorou bastante. Acordei, já não era cedo. Deixei-me estar um pouco a sentir o despertar neste país diferente. Lembrei-me que tinha direito a pequeno-almoço e levantei-me em sua busca.

Na recepção já não estava o tipo da véspera mas antes uma moça que, senti logo, estava-lhe uns furos acima. Ataquei então com os mesmos problemas. E o resultado foi muito melhor. Sobre o problema de não ter onde fechar as minhas coisas, bom, já  tinha saído alguém, era só esperar que a senhora das limpezas acabasse o quarto em que estava a trabalhar e logo trataria do meu próximo alvéolo. E assim foi. Rapidamente me chamaram para tomar posse da minha nova “casinha”. Muito melhor. Assim sim, já me sinto bem. Quanto à questão da Vodafone, indicou-me a loja mais próxima. Passarei por lá depois.

Tomei o pequeno-almoço. Nada de especial. E depois ganhei coragem e saí a explorar o Cairo. A primeira paragem seria o Museu do Palácio de Abdeen. Podia caminhar. Um pouco mais de um quilómetro. As ruas, como esperado, são movimentadas. Para quem tenha pouca experiência será um problema atravessá-las. Mas vem-me à memória Daka. Comparada com Daka o Cairo é uma Zurique. Tudo é uma Zurique. 

Estou a ficar e caminho numa zona chamada Downtown. É o centro do Cairo. E estou impressionado com o mau estado do património imobiliário. Alguns edifícios parecem à beira de ruir e de uma forma geral as ruas têm algo de bairro de lata.

De tal forma vou entretido a observar tudo isto que rapidamente chego ao Palácio. Só que a entrada parece estar fechada. Pergunto a um senhor que me diz que é preciso contornar. Esquerda e esquerda. Assim é. Fica a nota: não confiar no Google Maps para visitar o local. 

Pago o bilhete. 100 + 50. Preços para estrangeiro que quer usar uma câmara fotográfica. Cerca de 5 Euros. Depois do sentimento negativo do serão sinto agora uma alegria de viajar. O céu está bonito. O palácio desilude-me um pouco mas tudo bem. Só se pode visitar uma pequena parte do complexo. O resto está ocupada pela Presidência. Note-se que o Palácio de Abdeen é a residência oficial do Presidente do Egipto. Visito a exposição de armas, que está muito bem, mas não tenho grande paciência. Há outras salas. Museu da Presidência, que exibe prendas protocolares. Museu de Objectos de Prata. Apresso o passo. Não quero gastar ali muita energia ou tempo.

A próxima paragem será no Museu Gayer-Anderson. Ou pelo menos assim penso. É para lá que chamo um Uber. Será o meu primeiro Uber no Egipto, vamos ver como é que isto corre. E olha, correu muito bem. O senhor falava inglês, era amável e respeitador, e foi um prazer receber o seu serviço. Só que insistiu em deixar-me na mesquita Ibn Tulun, um pouco antes do museu, e dizendo que a entrada era por ali mesmo. E era. No passado Agora é mais à frente. Mas o que importa é que graças ao bom homem visitei esta mesquita e aconteça o que acontecer foi um momento alto desta viagem no Egipto.

Trata-se de uma mesquita de grandes dimensões e, para meu espanto, estava deserta. Os guardiões, todos muito simpáticos. Nada de truques para além do pedido de uma doação, que deixei à saída com muito gosto. À chegada falaram-me logo de subir ao minarete, e aquilo cheirou-me a expediente para sacar dinheiro. Ao sair, voltaram a dizer para ir subir o minarete E eu, que não, que ia ao museu antes que fechasse. Mas a verdade é que foi andando até ao minarete. Ver de longe não podia fazer mal. E não havia ninguém por perto. Subir até à primeira plataforma também se podia fazer, certo que alguém me esperaria logo ali ao virar da esquina de mão pronta para receber algum. Mas não. Ninguém. E a verdade é que subi tudo e não estava lá o papão dos turistas. Nem ele nem ninguém. O local todo para mim. Mágico. 

Mas estou-me a adiantar, porque não falei da própria mesquita. Trata-se da maior do Egipto e uma das maiores de África, mantendo a área e a configuração original. E sabem quando foi construída? No século IX!

Passei prolongadamente na mesquita, absorvido pelo silêncio relativo e pela ausência de pessoas. Muitas fotografias. Dei a volta ao recinto, ignorando a dor no pé (caminhar descalço é o pior). Depois saí, com um sorriso na face. Que ainda se acentuaria melhor depois da experiência do minarete que referi.

E a seguir, pois claro, o museu. Ocupa uma casa que escapou à purga de 1928, quando quase todas as construções encostadas ao recinto da mesquita foram demolidas. Toma o seu nome de um oficial médico inglês que viveu ali entre 1935 e 1942. É uma das mais bem conservadas estruturas residenciais do Cairo do século XVII. Nas suas muitas salas encontram-se preservadas mobílias de outros tempos. Apesar de se entitular museu de arte será mais uma casa museu. Fascinante. No seu terraço foi filmada uma cena do filme The Spy Who Loved Me, um Bond de 1978 com Roger Moore. Note-se que o bilhete, apesar de barato, só pode ser pago com cartão, não é aceite cash. Para mais informações poderá ser consultado o artigo Wikipedia.

Agora tinha fome numa consulta rápida ao Google Maps saltou-me à vista um local chamado Abou Tarek. Parece que era especializado no prato nacional egípcio chamado Kosheri. Perguntei ao Baha. Conhecia. Ah! Já me esquecia de referir que subitamente o 4G do telefone começou a funcionar!

Chamei então um Uber para o Abou Tarek. Mais um cavalheiro educado e a falar inglês, que claramente aprovou o meu destino.

Apesar de serem ainda quatro da tarde as ruas parecem estar no pico da hora de ponta. De tal forma que 200 metros antes de chegar decido caminhar o resto. 

Chegado ao restaurante encontro uma mesa no terceiro piso. Sou bem servido por um tipo ben disposto. O Kosheri vem para a mesa em partes e supostamente o cliente misturará os ingredientes a seu gosto. Mas para iniciados o pessoal dá uma ajuda. Estava delicioso. Comi um arroz doce e quando veio a conta…. bem, menos de 3 Euros por tudo, incluindo um refrigerante. Nunca tinha dado 50% de gorjeta. Foi hoje.

Bem, o sol já não demoraria muito a pôr-se. Vejo no mapa que não estou longe do Cinema Radio. Uma sala de espectáculos vintage que tinha referenciado. Mas foi decepcionante. Encontrei um lugar totalmente renovado com toques de hipster. Não me demorei muito tempo.

Depois foi caminhar até ao hostel, deliciando-me com a agitação, observando, vendo pessoas. lojas veículos.

O serão foi passado nas actividades costumeiros nestas ocasiões: ler, escrever, processar fotografias, descansar os ossos.  

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