Dia 14 de Janeiro de 2024
Há uns dias que estavam a anunciar chuva para este Domingo – que no Egipto equivale a uma Segunda-feira. Mas não foi nada disso que aconteceu. Foi um dia como os outros, talvez um pouco mais encoberto. Então, o plano de ficar no hostel a descansar foi alterado rapidamente.
Hoje até acordei mais cedo. Ainda não eram 9 horas. Lá comi a omelete diária e depois de dois dedos de conversa pus-me na rua. Desta vez fui criativo. Em vez de chamar um Uber usei o bilhete de metro que tinha na carteira e aventurei-me para a estação mais próxima do meu destino. Dokki. Depois uma caminhada de cerca de 1 km, por um bairro muito movimentado, com a presença policial do costume. Parece que há por ali embaixadas… Paquistão… Rússia.
Bem, felizmente encontrei uma passagem aérea sobre a via rápida que segue para Giza, o que me poupou umas centenas de metros e logo do outro lado estava no Museu Mahmoud Khalil. Foi uma boa escolha. É um museu baseado na colecção privada daquele ilustre egípcio, casado com a inglesa Emiline Lock. O edifício é um belo palacete de inícios do século XX, transformado em museu em 1962 mas encerrado entre 1971 e 1993, quando foi requisitado pela Presidência para eventos oficiais.
A colecção é limitada em número – como seria de esperar – mas não em qualidade. Nomes como Gauguin, Monet, Rodin, Renoir encontram-se bem representados. Existia até um Van Gogh, imagine-se, roubado em 2010.
Foi portanto uma bela visita, num ambiente muito tranquilo. É permitido recolher imagens com telemóvel. E assim o fiz, deliciando-me com a luz que entrava na diagonal, realçando o envernizado do soalho natural das salas do palacete.
Terminado o museu chamei então um Uber para me transportar para o complexo museu do principe Mohamed Ali, também conhecido como Palácio Al Manial. Mais um dos locais culturais onde o pagamento tem de ser feito com cartão. Valeu a pena. O complexo tem diversos elementos para apreciar, dispersos por um agradável jardim. Logo à direita, o complexo constituído pela torre de relógio e pela mesquita, ambas lindissimas. Logo a seguir o pavilhão que alberga o Museu da Caça, dispensável.
Mais à frente, a residência principal, onde o visitante encontra algumas salas com mobilias de época, muito fotogénicas. De seguida, a Sala do Trono, deslumbrante na sua decoração rica em dourados e purpura. E por fim um espaço enigmático (para mim) onde se encontram algumas colecções e onde um funcionário se me dirigiu em árabe para a seguir ouvir pela enésima vez que tenho mesmo cara de egípcio.
Estava visto o complexo do palácio e pareceu-me boa ideia andar até uma estação de metro relativamente próxima para voltar ao cemitério que me estava a deleitar ontem, e de onde me tinha pedido para sair para fecharem. Começo a mergulhar num Cairo mais obscuro, mais pobre, mais sujo. Chego à estação. Confusão, muita gente que se cruza, longas filas para comprar bilhetes. Se vai ser assim, compro logo dois, dos mais baratos, que dão para percursos até nove estações, o que para mim serve perfeitamente. No caso, eram apenas duas estações até Mar Girgis. A entrada para o cemitério é logo ali mas tinha outra surpresa desagradável: havia funcionários que não deixavam sair do caminho principal, que conduzia até à igreja existente no centro do recinto. Portanto vim quase para nada.
A onda de inconveniências iria prosseguir. Tinha descoberto por acaso, ao olhar para o mapa, que ali relativamente próximo existiam uma série de cemitérios, um deles aberto ao público. Um cemitério de guerra, da Segunda Guerra Mundial. Para lá chegar submergi em zonas ainda mais miseráveis. Pronto, vá, muito miseráveis. O que vi hoje no Cairo não fica atrás do que vi de pior em países como o Senegal, a Índia. o Bangladesh. Muito mauzinho. Pelo caminho ainda me meti em problemas com duas mulheres que ficaram muito mal impressionadas por ter tirado uma foto a um mosteiro cristão defronte delas.
Bem, cheguei ao cemitério, está um tipo à porta. Não me deixou entrar. Faltam 3 minutos para a surpreendente hora de encerramento: 14:30. Pedi, pedi com jeitinho, só cinco minutos. Mas não, e não. Imprestável!
Voltei então para trás e o banho de miséria intensificou-se quando passei sobre a via do metro, que ali é à superfície. Foi um alívio desembocar numa via movimentada. Não por me ter sentido ameaçado, nada disso. Só incomodado. E, nestes momentos, ainda bem que tenho cara de egípcio, ninguém repara em mim. Nem as matilhas da cães de rua que ali andam e que podem sempre ser perigosos.
E fiz eu tudo isto para ir dar a uma decepcionante experiência: o Nilómetro, um medidor de marés do Nilo, histórico, num complexo onde se encontra um museu dedicado a uma famosa cantora egípcia de outros tempos e um palácio. Ora bem, o bilhete completo paguei. 100 Libras. Mas o palácio está encerrado indefinidamente e o museu, bem, tinha fechado há alguns minutos. Frustrante.
Chamei o Uber para voltar a casa. Muito trânsito. Quando chego, em vez de entrar no edíficio do hostel vou à tasca libanesa comer. Bom preço, boa comida. Ao virar da esquina é muito conveniente.
Depois sim, fui descansar e acabei mesmo por adormecer. Acordei perto das sete. Vou a pé até ao Riche Café. Não gostei da pinta. Chamei um Uber e voltei ao Sufi. O meu novo amigo Saad, irmão do velho amigo Baha, junta-se a mim para mais alguma conversa. Amanhã é o meu último dia completo no Cairo e não tenho programa. Será por fim dia de descanso? É um bocado inconveniente porque o hostel não tem áreas comuns adequadas.