8 de Fevereiro de 2023

O dia começou cedo, ainda noite. Os autocarros para Pokhara saem a essas horas indecentes, a viagem é longa. São 200 km, estimados em cerca de sete horas, mas nestes dias mais ainda, pois a estrada encontra-se em obras em vastas áreas da sua extensão. Seja como for, não planeamos fazer toda a viagem de uma só vez. Na realidade, não temos a certeza que iremos até Pokhara. Tem fama de paraíso na terra, mas por mais que procure, leia e pesquise não lhe encontro grande piada.

De qualquer forma verifiquei as ligações aéreas. Não quero uma viagem de autocarro de dez horas ou mais, não um autocarro como os conhecemos, mas viaturas sem suspensão, com bancos duros e por estradas esburacadas, em má condição. Mas os valores dos voos são altos e para “melhorar” as coisas um par de dias antes uma aeronave dessa rota despenhou-se na aproximação a Pokhara, sem sobreviventes.


Então ficou decidido que se faria uma paragem intercalar numa aldeia histórica, Bandipur, mais ou menos a três quartos de caminho para Pokhara.

Tal como tinha ficado combinado na véspera, um funcionário do hotel levou-nos até ao autocarro certo. Ainda foram uns 800 metros desde o hotel e depois foi encontrar a viatura, algo que nem para ele foi fácil (imagina se não tivéssemos ajuda).

Lá nos acomodámos num lugar mau, mesmo por cima da roda. O autocarro saiu com muitos lugares vazios, mas ao longo do trajecto foi recolhendo passageiros em locais pré-combinados. Experimentei temporariamente outros assentos, até ao momento em que alguém chegava e me expulsava de lá. O estrangeiro ficou com o pior lugar do autocarro. Coincidência?

E assim foi, umas seis horas de sofrimento físico, a levar porrada nos ossos, curva e contra curva, paragens, ultrapassagens ousadas, tudo isto entrecortado com uma paragem para descanso. Não foi uma viagem agradável!

Eventual chegámos a Dumre, o entreposto de onde se apanha o autocarro local para Bandipur. E essa parte foi simples e correu bem. Um trecho muito pictoresco e interessante. Uns 15 km de uma paisagem linda e um vislumbre da vida rural no Nepal.

Chegámos com alojamento marcado, mas ao aproximarmo-nos, mudámos de ideias: não só ficava numa posição algo periférica como mesmo em frente dois ou três autocarros descarregavam uma legião de jovens que iriam ficar hospedados mesmo do outro lado da rua. Ora a reserva podia ser cancelada a qualquer momento por isso foi isso que fiz.

Fomos então improvisar e procurar um quarto que se nos cruzasse à frente. De facto a oferta era abundante mas fizemos negócio logo com uma senhora de uma casa de hóspedes não muito longe da entrada da aldeia.

Mostrou-nos dois quartos, decidimos ficar com o segundo, com acesso a uma varanda para a rua principal. Uma coisa humilde, claro, mas com um preço a condizer e incluía pequeno-almoço. Sim, ficamos ali.

Neste dia não se fez muito mais. Íamos cansados, depois da viagem algo dura. Saímos para comer, encontrámos um restaurante com uma sala nas traseiras com uma vista fabuloso e ali bebi uma cerveja Gurkha e comemos.

Deu para perceber que estávamos num local fascinante. Apesar de ser algo turístico não vimos muitos estrangeiros nos dias que passámos aqui. Alguns, sim, mas o dominante é o palpitar da vida local.

Ao escurecer, da casa de hóspedes, observámos simplesmente o movimento na rua. Os meninos a regressar da escola, com as suas fardinhas azuis, e as pessoas que transitavam nesta hora de ponta de aldeia, vindas do trabalho, quase toda a gente com roupas exóticas, tradicionais. Muita cor, muita etnia.

 

 

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