9 de Fevereiro de 2023
Diz-se – e posso confirmar depois de ver fotografias – que de Bandipur se tem uma vista fabulosa dos Himalaias. Não nos dias que lá passámos. Sempre uma névoa à distância a bloquear completamente a cordilheira.
A nossa anfitriã mais jovem diz-nos que tivemos azar, que a visibilidade tem estado magnífica mas que se tornou assim no dia em que chegámos. E a conversa repetiu-se. Todos os dias os votos de uma grande vista para a manhã seguinte. Mas nada.
A casa onde ficámos tem uma atmosfera matriarcal, é gerida no feminino: a mãe, a filha e a avó. E depois o filho, mais novo, o benjamim da família. Sempre toda a gente com uma atitude positiva, hospitaleira, uma maravilha.
O pequeno-almoço é liberal, é preparado a nosso pedido e basicamente todos os dias o nosso desejo foi um belo porridge, apenas isso, e que delicioso era, com fruta fresca misturada. Tomado na sala de refeições, espécie de café teoricamente aberta ao público mas onde nunca ninguém foi para além de nós. Mesmo ao lado a família tinha uma loja-restaurante talhada para o público local.
O dia entretanto passou-se como os outros – e vou já dizendo, viemos para passar uma noite e ficámos cinco. Porque se estava bem, porque depois da provação da viagem até cá não arranjava coragem nem interesse de fazer o troço até Pokhara e porque no contexto não via mais possibilidades de viagem nos dias que tínhamos disponíveis até ao voo de partida.
E portanto, como escrevi, o dia como os outros: relaxado, de passeio, leitura, observação, exploração. Dias preguiçosos, agradáveis, descontraidos.
Bandipur tem uma rua principal onde tudo cabe e depois extensões, que se vão pelos campos dentro, fundindo-se com a natureza até terminarem. Há uma entrada clara, aquela por onde chegámos, que é a ligação ao mundo exterior, levando à estrada que vai de Pokhara a Kathmandu. Todos os dias de manhã uma carrinha sai daqui em direcção à capital, levando este caminho.
Subi até ao topo de uma das colinas em redor da aldeia. É uma bela subida, extenuante, com escadas e trilho, trepando algumas rochas e chegando por fim a um patamar lá em cima onde dois jovens parecem estar apenas pelo prazer de não fazer nada. Existe um pequeno templo hindu e de lá vejo os restos da muralha e percebo que para o outro lado há um trilho mais dócil, que leva a um estradão de terra batida.
Deixo-me estar por ali a apreciar a vista e a sentir a brisa fresca que me arrefece depois do esforço intenso.
Acabo por descer. Bem mais fácil. A tarefa extraordinária do dia está finalizada. Agora é passear. Vamos por um caminho que passe frente ao alojamento que tínhamos reservado e cancelado. E não é que a dona, à porta, sabe exactamente que fomos nós que mudámos de ideias? Estivemos um bocado à conversa, expliquei a razão, ficámos amigos. Ainda ficámos por ali um bom tempo antes de seguir caminho.
Passámos por uma rua periférica, adorável, com casas antigas e pessoas que parecem sair do passado. O Nepal é mesmo fascinante!
Na rua principal encontram-se diversas hospedarias, cafés e restaurantes talhados para visitantes e lojas, especialmente mercearias. Comprei umas guloseimas, jantámos noutra, passou-se assim o dia. Com sensações e emoções que dificilmente se porão por palavras.
Levantou-se foi um problema que se repetiu todas as noites: e família quer fechar a horas que para nós são impróprias. Compreendo que tenham um ritmo de vida diferente, aquilo a que os nossos avós chamavam “levantar-se com as galinhas”, mas se estão no negócio da hospitalidade seria melhor arranjarem uma solução a contento de todos.
Acabámos por nos cingir a uma espécie de recolher obrigatório, quanto mais não fosse porque sentíamos a pressão de estarem à nossa espera. Em alguns dos serões acabámos de jantar à pressa por causa disto, mas pronto, nada de mais.