21 de Junho de 2024
Este seria um dia longo e teria um elemento essencial a marcá-lo: a visita à Fazenda Babilónia, algo que estava marcado há semanas e que me tinha obrigado a alterar todo o plano de viagem para que pudesse acontecer.
Primeiro, o acordar, na serenidade da nossa casinha no campo, uma memória boa que perdurará. O despertar tranquilo e o preparar para seguir viagem. Mochilas no carro e a caminho da Fazenda Babilónia.
Trata-se de um espaço histórico, uma fazenda tradicional, nas mãos da mesma família desde há séculos. A proprietária, deixada sozinha no local, entre viver encerrada na solidão de um espaço sobredimensionado e a aventura de abrir a fazenda aos visitantes, optou por esta segunda possibilidade. E em boa hora o fez. Não só parece divertir-se, como proporciona momentos únicos a quem por lá passa.
No meu caso ofereceu-me uma memória inesquecível, a da melhor refeição da minha vida. Mas já lá vamos…
A fazenda fica a uns 30 km da cidade, boa estrada, faz-se bem. Depois, o acesso já em terrenos privados até chegar à sede. Temos marcação, como convém. Infelizmente não foi possível usufruir da visita guiada, incluída no preço. Cerca de 22 Euros. Pode até parecer algo puxado, come-se bem bem barato no Brasil despretensioso, mas a refeição vale cada cêntimo desta quantia.
Chegámos um pouco antes da hora marcada. Pudemos explorar um pouco da fazenda, que na realidade é um pouco mais pequena do que esperava. Ou seja, se o almoço – a que chamam de “café” – superou as expectativas, esperava mais da fazenda em si. Não que esteja mal. Bastante interessante. Mas esgota-se rapidamente.
As senhoras chamaram-nos para a mesa. E lá estava ela, aprontada, coberta de iguarias, às quais mais foram adicionadas passado um bocado. São literalmente dezenas de coisas, tudo confeccionado com os produtos oriundos da própria fazenda. Cada um é delicioso, sente-se a diferença na qualidade da matéria-prima e da aplicação de técnicas de cozinha centenárias, a verdadeira comida caseira.
De forma planeada comi devagar, estendendo ao máximo a capacidade de ingerir alimentos. Experimentando basicamente tudo, deixando apenas de fora alguns elementos que me pareceram menos atractivos.
Elas foram logo dizendo que se quiséssemos um reforço de algo era só dizer. A única regra é que não se podia levar nada para mais tarde (uma pena). Com tanta variedade as iguarias que me ocorrem referir neste momento são as almôndegas, os queijos, o pudim, as broas. O menos bom? Os sumos, algo aguados.
Seguiu-se uma longa viagem. 365 km, pela tarde dentro, depois entardecer, e depois já noite feita. Atravessando paisagens distintas, rolando em pisos de qualidade variável. Foi cansativo mas ao mesmo tempo divertido. Gostei especialmente da aproximação a São Jorge, com uma vila chamada Colinas do Sul. Pode ter nome de empreendimento mas é uma povoação muito castiça, profundamente rural, onde se vive ao ritmo de outros tempos.
Depois é um saltinho. Encontramos o alojamento para esta noite, que será provisório. O que eu queria só está livre a partir do dia seguinte. Foi uma experiência pouco positiva, do princípio ao fim, mas sobrevivemos.
Ao serão deu para um passeiozinho na aldeia, que é de facto uma base para os turistas – basicamente todos nacionais – que aqui vêm para conviver com a natureza. Muitos restaurantes, casas de alojamento, bancos, enfim, tudo o que um viajante costuma necessitar. E até certa hora, ruas plenas de vida.
Quando visitámos estava a decorrer um programa profundo de requalificação dos espaços urbanos. Onde havia ruas de terra batida estão a aparecer vias com piso de cimento. O nosso anfitrião está apreensivo. Receia que esta modernidade seja mais uma peça na alteração da personalidade de São Jorge.