A localização do apartamento é estratégica. De resto, isso eu já sabia, mas estava algo apreensivo com uma possível centralidade excessiva, facilmente traduzível por algazarra de viandantes e sossego periclitante. Mas não. Adiante. O que interessa é que assim que pusémos pé na rua, já estávamos no coração histórico da cidade. Dali ao castelo, que de castelo nada tem a não ser nome, foi um saltinho. Que é como quem diz, porque a distância tende a esquecer altitudes, mas estas não se esquecem de amargurar corações e pulmões, desalmados pelas escadas acima, a trabalharem como podem, pobres desgraçados sem férias.
O castelo domina o bairro que em sua homenagem se chama Hradcany. É na realidade um complexo palaciano de proporções gigantescas, que domina a cidade antiga. O landmark por excelência, discutindo o título de imagem maior de Praga com a sua vizinha, a ponte Karlovo.
Ir ao castelo é sempre penoso. A massa de turistas em peregrinação constante incomoda, sobretudo os nipónicos, com o seu disparar fácil, e o aspecto de pinguins em migração. Mas hoje as coisas correram bem, O dia já ia longo, tão longo que receei deparar-me com os portões encerrados. O que até aconteceu, mas outros, aqueles nos quais colocava mais fé: os de acesso aos jardins que rodeiam o espaço nobre. Parece que estão sujeitos a arranjos, agora que as neves se foram e o grosso dos visitantes ainda não ameaça chegar. E assim, limitados ao espaço mais digno mas menos desejável, lá fomos entrando. Agradável surpresa. Practicamente sem vivalma, a perturbar a visita à majestosidade da catedral e dos páteos sóbreos onde se imaginam os protocolos de Estado infindáveis, mas que hoje se encontram desertos.
As lojas, os espaços culturais e pequenos cafés encontravam-se todos encerrados. Um preço justo a pagar pelo sentido de exclusividade recebido neste final de tarde pacífico. A visita concluiu-se a olhar para o relógio. As sete horas aproximavam-se e havia a ideia de escutar os carrilhões do Loreto, que deveriam fazer-se ouvir à hora certa. E ao bater do sino, literalmente falando, lá estávamos. Mas fomos burlados! As badaladas, esgotando-se o anunciar regulamentar da hora, silenciaram-se. Do pequeno concerto esperado, nem sinal. Salvou-se a magia visual do momento, com a lua a levantar-se por detrás do barroco edíficio.
Com a noite a cair, uma marcha forçada até à margem oposta do Vltava, através da ponte Karlovo. Destino: San Pedro, um simpático restaurante colombiano que é solidamente considerado o meu favorito na cidade. E assim, mais coisa menos coisa, se esgotou o primeiro dia, que afinal foi apenas um pedaço, em Praga.
vamos visitar o San Pedro então 🙂