A 12.496 metros de altitude. Lá fora está um pouco desagradável. Com -51 graus, arriscaria a dizer que puxa para o frescote. Sobrevoo terras que já explorei. Vejo no monitor de bordo a cidade curda de Dyabarkir, que atravessei no último Outubro.
Dentro de cerca de duas horas este avião da Etihad – considerada uma das dez melhores companhias aéreas do mundo – aterrará em Abu Dhabi, onde terei um par de horas para esticar as pernas até embarcar noutra aeronave, da mesma empresa, para mais seis horas de clausura que terminarão com a chegada a Banguecoque.
Está lançada uma das grandes viagens que tinha em mente desde há alguns anos: uma volta pela Indochina, incluindo a Tailândia, o Laos, o Vietname e o Cambodja. Infelizmente não será uma aventura de dois ou três meses como tinha idealizado. Vida de remediado é assim: a promoção que abracei e que me trouxe a esta parte do mundo por 400 Eur (com regresso, claro), tinha um limite de um mês entre chegada e retorno. Pois seja.
Com esta limitação, da Tailândia terei apenas um vislumbre da capital. Laos, será só para conquistar a “bandeirinha”. Seria um dos países mais prometores, mas a sua morfologia e precária condição da rede viária implica viagens de autocarro para cima de quinze horas entre cada ponto a visitar, e terá que ficar para uma outra oportunidade. Depois, o Vietname terá a parte de leão; se pago 60 Eur por um visto, que seja aproveitado. Por fim, a visita do Cambodja, limitada também ela por questões de tempo, sendo incluidos no plano apenas Pnomh Penh e Angkor Wat. Portanto é este, meus amigos, o plano de festas para os próximos vinte e muitos dias.
Sobre este dia de trânsito não haverá muito para contar. Na realidade são dois dias, ou talvez não, tudo dependendo de como se considerarem os fusos horários. Na véspera, começo logo pela manhã com um comboio Faro – Lisboa; uma tarde relaxada pelo agradável passeio da Expo e então, o primeiro enorme stress: chegando à porta de embarque do terminal 2 da Portela… o meu colete… não está comigo… felizmente tinha tirado a carteira para umas compras no hipermercado do Jumbo, e o passaporte, ao contrário do que é habitual, estava na mochila (algo de que só me lembrei mais tarde, portanto, o primeiro pensamento foi: – “Pronto, não vai haver viagem à Ásia”.
Saí esbaforido do terminal, vejo um táxi a arrancar, como num filme corro atrás dele, gritando… “- Táxi, táxi”. O homem pára. Pergunto se está livre. Não. Foi chamado. Imploro-lhe que tenha dó, que me leve ali só ao Vasco da Gama, que tenho agora um voo e perdi lá o passaporte. O condutor acede e faço o percurso com um “certo” nervosismo.
Entro no centro comercial a correr, dou com o sítio onde o colete deveria ter ficado esquecido, mas não está lá. Percorro os corredores em busca de um segurança que não encontro. Os minutos passam. Tenho algum tempo mas em breve a margem de conforto para resolver isto diluir-se-á. Já fiz o inventário mental das perdas: o GPS (o pior de tudo), o telemóvel, carregadores e cabos para tudo, uma lente fotográfica e nada de mais. Por esta altura já percebi que mesmo com este contratempo a viagem irá acontecer, mas mesmo assim…..
Encontro o balcão de informações. A senhora liga ao colega da segurança, e há aquele click de indescritivel alivio: “- Foi encontrado”. Tenho que ir lá acima aos escritórios, onde fico à espera que o homem da segurança apareça com o colete. E o relógio prossegue, ameaçador… tic-tac, tic-tac.
Já o tenho, apanho um táxi a correr e chego a bom tempo. Está tudo bem agora, O susto fez esquecer o o outro contratempo do dia, a notícia de que a anfitriã de Banquecoque teve um contratempo de úiltima hora e não poderá dar a esperada guarida. Foi necessário procurar e escolher um hostel em cima da hora, à pressa.
A noite no aeroporto de Geneva passou-se bem (artigo sobre a experiência em breve no blog Cruzamundos) e não tardou a estarmos prontos a embarcar no Air Etihad que seria o nosso lar para as seis horas seguintes. Para já o destino seria o Abu Dhabi.
Tinha alguma curiosidade sobre o que significava viajar com uma das mais afamadas companhias aéreas do mundo. A Air Etihad encontra-se no top 10 deste ranking. E não significa nada de especial. Não é nenhuma experiência transcendental. Talvez a área do passageiro seja mais espaçosa, mas também não é sensato comparar de forma directa as condições numa pequena aeronave desenhada para trajectos relativamente curtos com estes aviões transcontinentais. O pessoal de bordo, nos dois voos efectuados até ao momento em que escrevo estas linhas, podia receber lições de simpatia da esmagadora maioria das tripulações Ryanair que já cruzaram o meu caminho. A comida? Bem, obrigadinho, mas por mim continuo a preferir fazer a minha merenda e escolher o que como e quando como, do que ser presenteado com tabuleirinhos de desperdício tóxicom com umas coisitas sintéticasx para comer. A única coisa que verdadeiramente me agradou foi a consola repleta de filmes, séries, jogos e informação. Isso sim, ajudou a passar o tempo e foi uma benção.
O dia seguinte, o segundo de viagem, passou-se essencialmente nestes trâmites aéreos; a passagem pelo aeroporo de Abu Dhabi foi curta, mas cumpriu aquilo que esperava dela: deu para esticar as pernas, descontrair um bocado e respirar entre dois voos de média duração. Esta paragem terá feito a diferença entre uma viagem de levar à loucura, e uma movimentação suave entre a Europa e o Extremo Oriente. Fora isso, mais comida de plástico e mais faces antipáticas do pessoal de bordo. Passou-se a noite. E quando começou a clarear a Tailândia já estava próxima. O tráfego aéreo é intenso; pela janela vejo outros dois aviões que voam por perto.
A aventura está para começar. É dada a informação de aproximação ao aeroporto. Não consegui dormir nada nesta segunda noite, mas não é mau de todo. Será a primeira vez que estarei sujeito a condições que prenunciam o famigerado “jetlag”, apesar de no meu caso suspeitar que sou imune. Seja como for, uma noite no aeroporto e uma outra sem dormir, permitiram-me chegar à primeira hora da deita na Ásia – onde em Portugal seria um meio da tarde, e dormir quem nem um bébé. Mas já lá vamos…