Se a véspera foi de descanso puro e duro, este dia quase seguiu o mesmo caminho. Da manhã, que moleza…. não apetecia nada sair de casa. Ainda ontem o meu anfitrião chegou com uma ideia… amanhã ele terá que ir a Hrodno – uma cidade da Bielorússia – em trabalho e sugeriu-me que fosse com ele. Problema: tinha que arranjar onde ficar porque ele ia dormir a casa de um amigo e era chato mas não dava para me colar, porque o tal amigo tinha família e bébé e tal. OK… lancei mãos à obra e tive sorte. As primeiras pessoas a quem pedi guarida no Couchsurfing responderam de imediato, pela positiva. E ficou decidido. Portanto, hoje, às 17:00, vamo-nos encontrar para comprar o bilhete de autocarro para mim.
Continuo com um problema: na Bielorússia o visitante estrangeiro tem cinco dias úteis para se registar com a polícia de estrangeiros da cidade onde estiver. Se não ultrapassar os cinco dias, não precisa de fazer nada, pode simplesmente cruzar a fronteira e ir-se embora. Mas caso permaneça para além do tempo, então pode ter um problema. E digo “pode” porque depende dos humores do pessoal de serviço… e pelo que inquiri em muitos casos o castigo resume-se a um arquear de sobrancelhas.
Ora bem, mas e se eu chegar no Sábado, como aconteceu, e partir no Domingo? Não ultrapassei os cinco dias úteis mas de qualquer modo já não poderem registar-me em cinco dias úteis. Semântica. E por causa da semântica ninguém soube dar uma resposta concreta. O meu amigo ligou para a polícia de estrangeiros da zona dele e disseram que tinha que me registar; depois telefonou para a central e disseram “ah e tal, pois, talvez, mas agora com a boa onda do campeonato de certo que não haverá problema”… pois, mas isso para mim é curto. E então, nesta incerteza, pouco convencido, decidi ficar até Domingo. De Hrodno não voltaria a Minsk. Seguiria de comboio para Brest, onde ficaria duas noites.
Mas para já estou em Minsk, é de manhã, o tempo está instável. Deixo-me estar na preguiça até depois do almoço e depois saio. Sinto que já vi tudo o que queria nesta cidade. Mesmo assim, li algures que a Biblioteca Nacional é um edíficio notável e de resto vi uma indicação numa das estações de metro desta linha, e, como tinha tempo, decidi ir espreitar.
Ainda antes do moderno edíficio da biblioteca, assim que saio do acesso do metro, vejo um mural espantoso ao longo de toda uma fachada lateral de um edificio alto. Temas socialistas. Vejo cosmonautas. E outras representações, intrigantes, curiosas. Esqueco-me por uns instantes do que ali me traz quando reparo que umas centenas de metros mais à frente há outro prédio idêntico. Daquele ângulo não consigo ver mas aposto que também tem um mural. Ando até lá, e lá estava ele. O mesmo estilo, outros detalhes.
Quanto à Biblioteca, é de facto um edíficio único, moderno. Começa a chover um pouco mais e acelero o passo para me abrigar na pala de entrada. Assim que lá chego desaba o céu, com uma intensidade como nunca vi. Há um desgraçado que é apanhado sem abrigo, fica encharcado. Pouco depois, como costuma acontecer após estas bátegas, já posso abandonar o meu esconderijo. Volto para o metro e dirigo-me para o centro. Quero desforrar-me do portão fechado quando visitei a olha das Lágrimas e desta vez está bem aberto, mas também não há nada de especial para ver, nada da mais.
Com isto já não falta muito para à hora marcada. Dirigo-me para a estação rodoviária, que se localiza perto da estação de comboios, e apresso o passo que estou a ver que vou chegar atrasado. Acabo por conseguir estar lá à hora, mas o problema é que não sei exactamente onde encontrar o meu amigo. Isto atrasa as coisas e por fim, lá estava ele, já com nervoso miudinho. Compramos o meu bilhete e o que se segue é uma sessão à Uladzinir, provavelmente o tipo mais eléctrico que já conheci. Ele decidiu que me ia levar por uma tour de Minsk. Ora isto significa quase correr atrás dele, por sitios que na generalidade já conhecia. Aprendi algumas coisas, é verdade, e até certo ponto diverti-me, porque gosto da companhia dele. O tipo é especialmente interessado em igrejas, edíficios que acho especialmente desinteressantes. Mas não me escapei de um curso intensivo sobre as igrejas – católicas e ortodoxas – de Minsk.
Teria dispensado aquela maratona pelas ruas de Minsk, meio a andar meio a trote. Já me doia tudo, tinha a pela da virilha esfolada e suspeitava de uma lesão num joelho. Lá me aguentei, sei lá, teremos andado uns 8 km sempre a abrir. Que loucura. Por fim fomos esperar a Julia que saía do trabalho e juntos seguimos para casa. Finalmente descanso!
Hoje foi a vez do Franck cozinhar. Para nós e para mais amigos do casal anfitrião. Eu contribui com um arroz doce e uma baba de camelo. E amanhã, bem cedinho, lá iremos para Hrodno, uma cidade com um significado histórico especial para bielorussos e polacos.