17Mai-01

Este foi um dia e pêras. Bom, já sabia que para este Sábado teria que encontrar um sítio onde dormir. O Darek não me esperava antes de Domingo e tinha as coisas arranjadas para ir passar o fim-de-semana à casa de família numa pequena cidade de provincia. Ainda se colocou a possibilidade de eu ir também, o que adoraria, mas a mãe dele disse que apesar de ser uma grande ideia desta vez não ia dar porque a casa já ia estar demasiado cheia de gente. Paciência.

Portanto saímos juntos de manhã. Deixei boa parte dos meus haveres no apartamento, já que no dia seguinte voltaria a casa. Caminhei com ele até à paragem de autocarro, e lá foi ele. Fiquei só e abandonado na capital polaca. O que fazer… bom, preciso de Internet para resolver o meu alojamento para a noite. Começo a caminhar em direcção ao centro. E pronto, chove. Ainda aguento um pouco mas passado um bocado a intensidade da precipitação não me deixa hipóteses: tenho que procurar abrigo sob um varandim. E ali fico, sem espaço para me mexer, durante quase uma hora. Pela segunda vez deixado de castigo pela chuva, depois da sessão de Minsk.

17Mai-02

Por fim abrandou a borrasca e ganhei coragem para sair do meu refúgio. A coisa não estava a começar nada bem. Andei, andei, andei…. finalmente cheguei mais perto do centro… por esta altura já estava cansado, molhado, com frio e, claro, começava a ficar irritado. Decidi que era agora que tinha que resolver a situação. Abri os olhos e vi um café do outro lado da rua com o logotipo de wi-fi.

Entrei e senti-me logo melhor. Estava quentinho, sim, a Internet estava a funcionar… perfeito. Encomendei um chocolate quente e pus-me à caça de hosteis. Verifiquei preços, localizações, li “reviews”, tomei notas…. havia 3 ou 4 candidatos… e então, verifico mais um e…. diacho, mas isto é aqui mesmo perto de onde eu estou. Olho pela janela e vejo a tabuleta com o nome da rua ali na esquina… é mesmo isto, é um sinal divino que tenho que escolher este.

17Mai-03 17Mai-04

Acho que foi a primeira vez que apareci num hostel sem marcação. O meu aspecto – de homem mais velho e muito pouco cool – resulta habitualmente em recepções, digamos, pouco calorosas, mas geralmente ao fim do primeiro minuto de conversa consigo ser promovido ao estatuto de viajante e o tratamento melhora substancialmente. Foi o que aconteceu aqui. Já agora, o local é o Chill Out Hostel. Muito porreiro. Mesmo um hostel à maneira, como eu gosto deles. Paguei, acho, 12 Eur. A moça perguntou-me se queria ficar num dormitório naquele piso ou no de baixo, disse-lhe que queria o mais sossegado. Era o de baixo. E sossegado era! Estava lá rapaziada a dormir, como descobri mais tarde, quatro norte-americanos. Boa gente. Foram-se embora assim que acordaram e fiquei com o quarto basicamente por minha conta… mais tarde, já à noite, apareceram duas miúdas… fora isso fui o rei do dormitório. A localização é excelente e não houve nenhum problema. Nota máxima para o hostel. Como é natural, não podia entrar imediatamente. Eram 10 e pouco da manhã. Mas a malta foi tão impecável que me pediram para esperar uns minutos que iam aprontar as coisas, e deixaram-me mesmo instalar passado pouco tempo.

17Mai-05

Descansei um pouco, apenas um pouco. E sai para a rua. Gosto de Varsóvia, já somos velhos amigos. Acho que é uma das três capitais europeias mais mal-amadas em conjunto com Oslo e Bruxelas. E aquele dia era especial: noite dos Museus. Havia um fervilhar muito positivo nas ruas. Imensa actividade. Muita gente a divertir-se, a passear, a usufruir do que de bom Varsóvia tem para oferecer. Vi uma pequena feirinha de rua onde dois ou três casais dançavam ritmos latinos descontraidamente. Andei por avenidas largas, onde apesar dos Lenines e foices e martelos terem sido removidos, ainda se nota a influência arquitectónica dos tempos do comunismo. Há estatuária com perfume proletário.

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17Mai-07

Mais à frente entrei num parque, enorme, chamado Ujazdowski, onde o verde me ofuscou. A relva é verde, as árvores estão em pleno vigor primaveril, logo, cobertas de verde. Quase faltava os esquilos que corriam serem verdes também. As águas do lago, influenciadas por aquele peso cromático, têm reflexos verdes… apenas as flores escapam a esta predominância. E tantas que há e tão maravilhosamente coloridas. Há berços de flores de todas as cores, algumas abraçam bonitas estátuas. Decididamente o mau-humor da manhã foi lavado com tudo isto. Esta sim, é a Varsóvia que conheço!

17Mai-15

Continuo a deambulação sem destino, vendo, observando, atento ao detalhe. E, um pouco como em Praga – salvo seja – há tantos pormenores para reparar. Nos edíficios, nas ruas. Cada esquina traz uma nova surpresa. Só é pena o dia estar assim, cinzento, que isto com um pouco de sol ficaria ainda melhor. Descubro um edíficio que terá sido a primeira Bolsa da cidade, em frente ao qual se ergue o modernissimo prédio da actual Bolsa. Logo a seguir entre noutro parque, que é mais um bosque com um trilho. Começo a ouvir algo estranho… música, explosões, tiros… aproximo-me, intrigado… do lado de lá de uma vedação vejo algo surreal… há um autêntico “exército” ali… há aviões e helicópteros, carros de combate antigos e modernos, e cenários… barreiras, postos de sentinela… mas mais surpreendente que tudo o resto, há gente fardada com roupas das Segunda Guerra Mundial e armada da mesma forma. Tenho que ver isto! Onde é a entrada… procuro, procuro e acabo por dar com o portão. É o Museu Militar (como diabo é que não dei com isto na minha anterior visita??).

Está fechado e uma pequena multidão vai-se acumulando. De lembrar que hoje é a noite dos museus. Pergunto a uns jovens se aquilo vai ou não vai abrir. Dizem que sim, dali a uns 10 min. OK… 10 min posso esperar… mas na realidade ter-se-á passado mais de uma hora quando finalmente me encontro lá dentro. Entretanto compro uma cerveja numa banca de comes e bebes que ali perto foi montada. Recomeça a chover. Bebo-a, em copo de plástico, como detesto, sob um guarda-sol (que hoje seria mais um guarda-chuva) ali à beira. Junto ao portão as pessoas começam a formar uma fila… vou até lá. E assim fico, à seca, de forma apenas figurada, porque na realidade estou à molha.

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Abrem-se os portões, a multidão entra. Tudo isto para uma visita de borla? Acho um absurdo. Não se passa nada de extraordinário. Talvez mais tarde a rapaziada fardada faça uma reconnstituição histórica de alguma acção da Segunda Guerra, mas para já limito-me a ver a exposição exterior… o interior, passo… demasiada gente. Não foi mau mas não valeu a hora de espera.

Depois de sair, passando junto a longas filas de pessoas que espera a sua vez para entrar nos museus mais distintos, encontro uma exposição de rua, muito interessante, que tem como tema o trabalho de um fotógrafo específico, que visitou Varsóvia nos anos 30 e que capturou uma série de momentos em película.

17Mai-18

17Mai-17

O par de horas que se segue foi o melhor do dia e da estadia em Varsóvia. A luz está absolutamente mágica. Em Maio a noite chega muito devagar. Leva horas até se instalar. O asfalto brilha quando os faróis dos autocarros o iluminam. Vou por aquela via principal, o eixo histórico evidente ao longo do qual se encontra quase tudo o que é importante, e que termina na cidade antiga. Há multidões que estão decididas a usufruir do dia especial. Não sei quantos museus e palácios encontrei de portas abertas. Entrei num… não percebi  bem do que se tratava, e também, não foi especialmente interessante. De novo, muita gente.

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17Mai-12

A entrada de uma das principais universidades da cidade está profusamente iluminada. Meto o nariz. A luz continua deslumbrante. Lá em baixo, em terrenos universitários, dois guardas armados e vestidos a rigor montam vigilia a um busto. Não sei de quem se trata, mas pouco depois surge um dignatário, talvez o reitor, e depõe junto à estátua uma coroa de flores, com grande pompa e circunstância.

Entro por um ou outro portão dentro, espreito, vejo… a noite está óptima para um explorador, ideal, mesmo. Passo junto ao hotel Bristol, esse centenário que tanto me interessa como sempre acontece com velhos hóteis, locais com tantas estórias para contar. Penso em ir à cidade antiga, mas confesso: estou estafado, e ainda tenho que contar com uns quantos quilómetros para regressar. Rendo-me, morto na praia (desisto a umas meras centenas de metros).

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No regresso ouço música… de novo transponho um portão e delicio-me com as notas de um grupo de instrumentos de cordas que actua num palco montado nos jardims de mais um palácio.

E pronto… o dia está a acabar. Arrasto-me até casa, e, já faminto, páro num sítio de Kebabs. Está vazio, mas o que me é servido é um manjar. Por 4 Eur como o kebab mais delicioso que posso imaginar. E não, não é por estar com tanta fome que me sabe tão bem… é mesmo bom! É assim saciado e pronto a descansar que chego ao hostel. Fim de dia.

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