Neste dia senti pela primeira vez que a viagem estaria a chegar ao fim. Não sei se foi algo de efectivo, ou se terá sido induzido pela aproximação real do término da experiência Balcãs 2010, mas a verdade é que entrei num modo de descompressão que não mais me deixou nestes últimos dias da “expedição”.
De manhã fui ainda ajustar umas contas com a cidade. Sabia que havia um trecho da muralha que subsistiu ao crescimento e modernização de Sibiu, e nessa direcção me dirigi. Passei mais uma vez pela via pedestre que sai da Piata Mare, repleta de agradáveis esplanadas e comércio de todo o género, onde se pode tomar uma refeição para qualquer paladar e orçamento. Ainda antes de chegar aos bastiões, apreciei mais uma fiada de pictorescas casas, caminhando devagar, apreciando o ar fresco da manhã. Passei junto às velhas torres de defesa da cidade, e tomei o caminho de volta ao centro. Foi nesse momento que chegou aquele sentimento de que tenho as contas acertadas com a cidade. De tarde, talvez visitasse uns museus. Não é actividade que me agrade muito, mas é sempre uma forma de “matar” tempo livre.
Antes de regressar a casa passei pelo café Wien pela segunda vez. Tratei calmamente das minhas rotinas cibernéticas, paguei a conta e sai. O cenário em redor continuava idílico, mas depois de ali ter passado tantas vezes nas últimas vinte e quatro horas, já nem prestei atenção.
Pouco depois de me ter instalado no meu quarto a ler, chegou o Ovidius. O outro couchsurfer que era esperado na véspera já tinha chegado, tinha ido dar uma volta pela cidade. Logo regressou e depois de um pedaço de conversa fomos todos beber uma cerveja numa das esplanadas ali das três praças (na realidade o centro de Sibiu é formado por três praças adjacentes). Passou o tempo, e o Eric começou a dar sinais de querer fazer algo mais do que queimar a tarde sentado à mesa. Museu de História. Muito bem… então vamos lá. De forma nada surpreendente depressa me senti enfastiado ao percorrer as suas salas. De facto, museus não são local para mim. Se calhar será por ter passado demasiado tempo a trabalhar num. Ou terei talvez padrões de exigência dificeis de satisfazer. Mas a verdade é que me aborreço quase invariavelmente quando decido tentar mais uma abordagem. Ainda para mais, é comum a proibição de recolher imagens nestes espaços, e para mim o que não posso fotografar é algo a evitar.
Terminada a visita o Eric educadamente me sacudiu, o que não me causou tristeza alguma. Evidentemente quer ele quer eu preferimos cirandar sozinhos. De qualquer modo, estava mesmo de contas feitas com a cidade. Fui-me instalar no Café Wien mais uma vez, deixando-me estar até se esgotar a bateria do portátil. Bebi um chá, que desde manhã tinha uma vaga mas incomodativa dor de estômago, e a verdade é que o liquido tépido me ajudou temporariamente.
Com isto caiu a noite, chegou o frio. Andei devagarinho para casa, como a despedir-me de Sibiu e desta minha viagem. Daqui para a frente, pouco mais seria do que procedimentos antecipados de embarque. O próximo destino, Cluj, apenas aparece no meu itinerário porque é de lá que voarei de volta a Portugal.
O nosso anfitrião passou a tarde a trabalhar e telefonou-nos a dizer que não viria ver-nos nesse serão, desejando-me uma boa viagem. Eu e o Eric ainda ficámos à conversa um bom bocado. Boa conversa, de viajante para viajante. Ele é filho de pai checo e mãe iraniana, escocês de nascimento e londrino nos últimos anos. Largou o seu emprego de colarinho branco para viajar. Está na estrada há sete meses e, segundo ele, assim vai continuar durante anos.
Excelente descrição de mais uma etapa desta viagem. Pela primeira vez na vida estou a ficar com vontade de visitar este país.
Obrigado pela partilha destes dias e, parabéns pelos magnificos textos que me mantêm “preso” até ao fim.