Agora sim, depois de três dias de absoluta ronha é tempo de ver um pouco mais da capital do Senegal, ir ao centro histórico, sair do bairro. Segundo a minha investigação há uma série de Tatas que passam aqui e que me podem levar para a baixa, mas o número 3 será o melhor.
Logo aparece um, seguimos, à descoberta. A viatura entra num bairro cheio de vida, residencial, onde há um mercado que empata o trânsito mas me permite ver melhor. Rola lentamente, no para e arranca. Lojas tradicionais, bancas de rua, gente vestindo roupas exóticas, mágica África com um toque de Islão.
Mais à frente volto às vias amplas, rotunda. Passo junto a uma área com aquartelamentos. Do lado esquerdo, o Batalhão de Transporte enquanto do outro lado da estrada se encontra o contingente militar francês no Senegal, cuja razão de ser da presença me escapa. Assim de repente, qual seria o sentido de ter um quartel português em Angola ou Moçambique?
As avenidas são longas e bem largas. Vejo o hospital, o complexo universitário. O centro, que em Dakar é conhecido como “Plateau” (tal como na cidade da Praia, em Cabo Verde) já não vem longe. O bairro que o antecede chama-se Medina, apesar de não ter nada das medinas norte-africanas.
Chegamos à estação de transportes de Petersen. Não é exactamente no Plateau mas fica na sua orla, uma caminhada simples. Está envolvida por comércio, aquele fervilhar urbano muito africano e no seu recinto, entre Tatas decrépitos, meninos jogam à bola e vendedores de tudo tentam a sua sorte com os passageiros.
Saio para a rua e caminho. Sou o único branco à vista. Não há muitos turistas em Dakar. Aliás, não há muitos turistas no Senegal, e os que existem estão concentrados nos resorts, apesar da minha experiência em Cap Skirring me dizer que nem aí são numerosos.
Alguns prédios altos. Bancas de rua. Um certo trânsito. Nada de especial, é apenas uma cidade. Não tenho referências, porque Dakar não as tem. Talvez se possam contar pelos dedos de uma mão, e caminho em direcção à primeira, a antiga estação de caminhos-de-ferro, um meio de transporte que está basicamente extinto no Senegal. Encontro a estação com facilidade, mas está em obras… não há muito para ver. Observo os painéis: estas obras fazem parte de algo grande, da construção de uma ligação de comboio entre o novo aeroporto e o centro de Dakar. Estará tudo pronto, segundo o plano, daqui a dois anos.
Bem, o porto é ali em frente. Já que aqui estou vou confirmar como é para ir no dia seguinte para a Ilha de Goreé. Um polícia barra ao acesso, pede o passaporte para entrar. Nem o tenho. Mas confirmo que é ali mesmo e era isso que queria.
Agora, sinceramente, apetece-me voltar para casa. Dakar não é uma cidade apelativa. Mas ainda bem que não o fiz de imediato. Só uma volta ao quarteirão. E dessa volta fizeram-se outras, e sem ser a loucura, ainda deu para ver um pouco mais da cidade. Ali perto há a Messe de Oficiais, instalada num bonito edifício antigo. Depois encontrei a Câmara do Comércio, também interessante, e entrei nas ruas do Plateau propriamente dito. Muita gente e confusão, muito comércio, quer tradicional quer de rua. E algumas casas mais antigas, a chamar a atenção.
Aqui já se avistam alguns brancos, que parecem ser residentes, não turistas. Acabo por desembocar num verdadeiro mercado, com muita animação e pelo GPS vejo que já não estou longe do ponte de chegada. Logo estou de volta ao recinto de Petersen e encontrar uma Tata #3 é fácil, vinha a sair, foi só fazer sinal e saltar lá para dentro, quase em andamento.
O caminho repete-se, mas agora não vou voltar a N’Gor. A ideia é visitar o enorme Monumento da Renascença Africana, um projecto megalómano liderado pelo antigo presidente senegalês (que encaixa uma boa fatia das receitas dos bilhetes ao terraço panorâmico do monumento) que se encontra não muito longe, junto ao mar.
A Tata deixa-me a umas centenas de metros do monumento, onde o bairro de Mammelles se encontra com o mar, vendo-se o imponente farol ali em frente, numa colina vizinha. Há que andar um pouco. Nesta altura pensava que era preciso pagar para entrar no recinto do monumento, e estava pouco convencido. Mas não. Pode-se visitar e chegar à sua base. Só para entrar e subir ao terraço com vistas loucas é que é necessário bilhete.
O ambiente estava bom. Um pouco de calor, mas nada de arrasador. E as pessoas era todas locais, senegaleses que iam visitar o local. O monumento é bonito, quer dizer, eu gostei. Sobe-se uma longa escadaria e está-se lá, mesmo debaixo do colosso. O céu neste dia não era o melhor para a fotografia, mas mesmo assim consegui alguma coisa. Casas de banho gratuitas. Vistas fabulosas, sobre uma boa parte de Dakar, sobre o antigo aeroporto e sobre o mar. O vento refrescava. Foi um momento bom, uma memória agradável, das muitas que trouxe do Senegal.
Um grupo de jovens acabados de vir de um jogo de futebol. Um par de namorados. Dois amigos. Duas amigas. Não estava muita gente. Fiquei um bocado, a apreciar tudo aquilo. E depois, tempo de regressar a casa. Foi assim mais um dia em África.