Dia 8 de Janeiro, Quarta-feira
O dia começou incrivelmente cedo. Tínhamos comprado na véspera o bilhete para viajar para Salamina, depois de uma consulta com o coordenador de transportes de uma das empresas locais. Uma enciclopédia de mobilidade rodoviária que nos deu as duas opções para chegar ao destino que pretendíamos, algo que não se afigurava simples. Se me tivesse dito que era impossível, não me surpreenderia, mas para aquele homem não há impossíveis na hora de transportar um cliente.
Saímos de casa e as ruas estavam desertas. Em cada rua estava um cão sentado. Parecia um filme no qual os caninos tinham tomado conta do mundo, e aqueles eram as sentinelas, que asseguravam que os humanos não tentariam um contra-ataque.
No escritório da empresa já a azáfama era grande. Chegavam outros passageiros, eram colocada a carga nas duas carrinhas que ali se encontravam.
O chefe da polícia de Jardin despedia-se da sua família que viajaria connosco. Claramente tinham vindo passar a época festiva com ele e agora era tempo de regressar.
A caminho. Mais um percurso espectacular nas terras altas da Colômbia, entre cerros cobertos de arbustos de café e quintas pitorescas. Aqui e ali, cavalos que pastam, com toda a tranquilidade do mundo. A perder de vista, os cumes das montanhas.
Será uma viagem longa, umas oito horas, com uma pausa pelo caminho. Era necessário mudar de viatura. Somos despejados, com outros passageiros, junto a um restaurante de beira de estrada, onde funciona uma micro-agência da empresa transportadora e logo uma matrona de ar expedito nos toma debaixo da sua asa protectora: está tudo bem, agora sou em que vou tratar de vocês. Manda-nos sentar e esperar.
Lá fora vão passando outras viaturas, para destinos diferentes. Por fim, depois de uma longa espera de mais de uma hora, vem a ordem esperada: pessoal para Salamina, pessoal para Salamina… lá está, um pequeno autocarro parado no exterior. Vai cheio mas ainda há lugares sentados para nós. E de novo a caminho.
Chega-se ao destino. Parece um castelo, avistado ao longe, lá no topo da serrania. O autocarro vai manobrando pelas apertadas ruas da aldeia. O meu GPS diz-me que estamos próximos e quando ele pára para deixar sair algumas pessoas, vamo-nos também.
Ficamos numa simpática pensão em excelente localização, a um par de minutos da praça central. A funcionária dá-nos a escolher entre dois quartos, um no primeiro andar e outro na cave, virado para as traseiras. Charme ou sossego? O sossego é mais barato, ficamos com esse.
E agora, sair, bater as ruas, ver, descobrir esta nova aldeia, mais uma da restrita lista de Aldeias Históricas da Colômbia. Um dia espero tê-las visitado todas. Não são muitas, umas vinte, mas o país é extenso.
Salamina é feita de subidas e descidas, fundada como foi na cumeada de uma montanha. Custa, até porque faz calor. A Colômbia será o último sítio onde a temperatura elevada será um problema ao longo de toda esta viagem.
Aldeia fascinante! Adoro este país! Ruas castiças, casas de personalidade, edifícios antigos, fachadas pintadas de cores garridas. Restaurantes agradáveis, boa gente. E agora, comparar com Jardin e Jericó? Mantém-se a tendência: cada vez um ambiente menos festivo, uma atmosfera mais remota e menos turistas. Em Salamina vi um estrangeiro uma vez. E mais ninguém.
Conseguimos almoçar. Num restaurante da praça central. Uma carne desmechada, que é uma comida colombiana que adoro. Carne de vaca estufada horas a fio até se tornar quase manteiga. É desfiada e no processo é temperada com fórmulas mágicas que fazem dela uma das coisa mais deliciosas que o meu palato conhece. E costuma ser muito barato, é um prato servido com frequência nos menus diários. E ali estava ainda melhor do que é costume!
Vêem-se por aqui os Jeep que são imagem de marca no espaço rural colombiano. Neste país há uma espécie de estratificação por tipo de veículos de transporte colectivo. As viagens entre localidades principais fazem-se de autocarro. Normal. Depois, há os percursos que servem pequenas aldeias, mais isoladas, onde se chega através de estradões de terra batida. E esses, fazem-se geralmente de shiva. Por fim, para os locais de presença humana verdadeiramente remotos, lugarejos perdidos nas encostas das montanhas, casario disperso pelo país profundo, usam-se estes Jeep e por vezes veículos idênticos de fabrico soviético. Vão a todo o lado, carregados de gentes e bagagens, levam bens agrícolas, abastecimentos… é um espectáculo.
Andamos pelas ruas, vamos até à orla da aldeia, do lado de onde entrámos de autocarro. Boas vistas para as montanhas e para a outra ponta de Salamina. Vamos tirando referências: onde voltar para experimentar este ou aquele restaurante, onde comprar isto ou aquilo. Notas mentais. Uma geladaria. Um café de primeiro andar.
Agora caminhar noutra direcção. Encontrada a estação de autocarros. Não é bem uma estação. Trata-se mais de um segmento onde estão alguns transportes parados na rua. Grande azáfama, muito comércio e passageiros que por ali andam. Deve ser a parte mais animada de Salamina.
Agora vamos visitar o cemitério, que dizem ser muito bonito. Fica noutra ponta, mas afinal aquilo é uma aldeia, as distâncias nunca passam de umas quantas centenas de metros.
Decepcionou-me. Mas pronto. Está visto. Não tem nada de especial. Tinha aquela fama de cemitério jardim, assim definido por outros bloggers de viagens que por ali passaram, mas não, fraquito.
Hora de descansar um pouco. Os cães do dono da pensão são uma surpresa desagradável. Ladram e de que maneira, mesmo próximo do meu quarto. Vamos um pouco lá acima, à bonita varanda com vista para as serras. Conversamos um pouco com a senhora que trabalha ali.
Ao serão a praça principal fica mortiça. Não tem nada a ver com o que se passava nas aldeias onde pernoitámos anteriormente.