Dia 18 de Janeiro de 2020, Sábado
Vamos para Mindo. Tive dificuldade em me decidir. O Equador não tem muitos pontos de visita óbvios, daqueles que penso “tenho que ir ali!”. Aparecem sempre as mesmas ideias, os mesmos roteiros… e quando é assim, já se sabe o que acontece: saturação de turistas nesses locais. No caso de Mindo vi e revi e era claro que se tratava de um sítio super turístico, mas vi fotos e achei que valia a pena. Depois de muita hesitação ficou decidido, e ainda bem, porque na hora da despedida o balanço foi positivo.
Chegar a Mindo parecia fácil. Havia autocarros de uma estação rodoviária secundária. Chegar até lá, para mim, só de Uber. E assim foi. Carro chamado para a porta da nossa residência de Quito e depois de um longo percurso (Quito é enorme!) lá chegámos.
Bilhetes comprados sem problemas, autocarro ali parado à espera de partir dentro de 15 minutos. Ando um pouco pela estação a esticar as pernas. Sento-me num banco, espreguiço-me e… catástrofe! Pimba! Uma rotura de ligamentos ou algo assim. Na zona da omoplata. Um gesto aparentemente tão inofensivo como uma espreguiçadela vai-me valer semanas de problemas, algumas noites mal passadas, dores.
Para já, a viagem de autocarro. Nesta altura as costas não estavam assim tão mal. Ainda tive esperança de que fosse uma coisa ligeira, que no dia seguinte já estivesse resolvido. Não iria ser assim. Paciência.
Sair de Quito, olhos bem abertos para ver tudo pela janela. Passamos pelo local chamado Meio do Mundo. É um dos pontos mais turísticos de todo o país, é o equador, não país mas a passagem da linha que separa o planeta em dois hemisférios.
Desfilam os subúrbios da grande cidade. Rapidamente passamos para uma paisagem desértica, sem presença humana. Depois, quase de repente, entramos numa zona tropical. Descemos, e ao descer tudo muda. O calor chega e com ele a humidade e a mudança de paisagem. Se há 10 minutos atrás rolávamos num deserto, agora evoluímos numa estrada sinuosa rodeada de verde.
Com a mudança de ambiente mudou também o tempo. Acabou o sol e o céu azul e nesta altura mal eu sonhava que seria uma ausência quase permanente até chegar à Argentina passado mais de um mês.
Chegamos a Mindo. Agora é encontrar o nosso alojamento. Passámos mesmo à porta e só temos que caminhar um par de centenas de metros. Não podia ter sido melhor escolhido! Uma acolhedora cabana de madeira com um alpendre delicioso onde se encontra uma rede. E tudo isto no meio de um jardim que parece saído de um museu de botânica dedicado à floresta tropical.
Vamos já passear. Para agora algo nas proximidades. Vejo no GPS um trilho marcado. Não faço ideia se é bom ou não e afinal veio a ser uma belíssima surpresa.
Primeiro por um largo estradão de terra batida. Bastante bem batida, caso contrário, com a chuva que cai, seria um mar de lama.
Depois, em determinado momento, há um desvio. Seguindo O GPS saímos ali. Aproximamo-nos de um ribeiro de águas rápidas e logo estamos num estreito trilho com largura para passar apenas uma pessoa.
É a perfeita selva tropical. A vegetação, o calor, a humidade, o som das cigarras, pássaros e outros insectos reunidos numa orgia auditiva. O caminho é simplesmente perfeito. Nada de turistas, seria até absurdo, considerando o quão discreta é a entrada do trilho.
Andamos umas centenas de metros. Não muitos, mas parece muito mais. É fácil andar, o piso é bom. Paramos um pouco numa pequena praia de areia na margem do ribeiro. É lindo.
Encontramos uma ponte suspensa de madeira. Está a desfazer-se, tem uma vedação. Propriedade privada com uma série de avisos para afastar intrusos. Um local saído de um qualquer filme de Indiana Jones.
Mais à frente, um outro recanto onde o trilho encontra o ribeiro. E, por fim, o fim, para nós. Uma outra ponte, com uma técnica peculiar. E este tipo de aventuras não é para mim, sempre tive equilíbrio fraco e o medo no lugar certo. É pena, porque do lado de lá do curso de água estavam marcados outros atractivos.
Agora é voltar para trás. Que belo passeio! Uma excelente introdução à floresta tropical equatoriana.
Começou a chover. No trilho estava-se abrigado, com toda aquela folhagem a servir de guarda-chuva. Mas uma vez no estradão, acabou, agora é chover mesmo.
Na margem da estrada um grupo de vacas delicia-se com a vegetação envolvente. Para uma vaca este tipo de ambiente deve corresponder à ideia de paraíso. Há comida tenra por todo o lado, uma autêntica cornucópia de fartura.
Chegamos a casa. Descansamos um pouco, usando a rede para esticar os músculos. As costas começam a atormentar-me.
Agora vamos à povoação. Quer dizer, a casa é na povoação, mas numa rua marginal, quase uma estrada rural. Mas é perto. Cinco minutos e está-se na praça central. Há uma rua que domina Mindo. É a rua dos restaurantes e lojas. Ali não falta nada. Parece uma cidade do faroeste americano. E está cheia de turistas, quase todos jovens backpackers. Não sei o que andam a fazer durante o dia, porque nos passeios que demos poucos encontrámos.
Gostei de Mindo. Aldeia simpática, ambiente agradável. Mesmo com a chuva e o cinzento dominante. Um belo jantar num pequeno restaurante recomendado pela senhora da casa. Aproveitei para comprar comprimidos anti-inflamatórios e uma pomada. Tomei logo ali na farmácia e espalhei o creme nas costas. Melhorou.
Depois do jantar não apetecia ir para casa. Havia tanta animação! Cafés e bares bem compostos, supermercados ainda abertos a aviar as últimas compras. Uma maravilha. Mas o cansaço venceu e pouco convencidos lá caminhámos para um final de serão a pôr o expediente em dia e para uma noite que só se tornou repousante depois de terminar o que quer que fosse que estivesse a acontecer no estádio, ou campo da bola, que era mesmo ali próximo. Barulho intenso enquanto durou. E de repente acabou e a noite tornou-se profundamente silenciosa. Ideal para dormir.