Dia 29 de Janeiro de 2020, Quarta-feira
A cidade de Zamora não é especialmente atractiva, mas não foi por ela que vim até aqui. O que me interessa é o Parque Nacional Podocarpus, que tem um dos seus dois acessos nos arredores de Zamora.
O pequeno-almoço foi tomado numa pequena tasca. Simples e barato. Saboroso e mais do que suficiente.
De estômago cheio, era agora altura de procurar um táxi que nos transportasse até ao parque pelo preço justo. Não foi difícil. Assim que saímos da tasca, logo chegámos a acordo com um jovem. Sei que cobrou mais porque hesitou. Não foi muito mais, talvez um excesso de 1 USD, e gostei-lhe da pinta, por isso aceitei.
Fiz bem. Nos 10 ou 15 minutos que durou a viagem conversámos bastante. Boa informação, um rapaz com as ideias no lugar, simpático e tirando o preço excessivo da corrida, honesto.
Já a chegar ao local, uma máquina trabalha na base da encosta junto à estrada. E mesmo à nossa frente provoca um considerável deslizamento de terras que cai sobre o caminho. Foi assim que morreu um tipo em Portugal este inverno. A operar uma máquina semelhante e a fazer o mesmo trabalho.
Enquanto esperamos que a estrada seja limpa continuamos a falar sobre as coisas da vida no Equador. Depois, chegamos. Podíamos até ter caminhado desde ali, mas chegamos. O nosso amigo quer marcar uma hora para nos ir buscar, mas sei lá quando estaremos despachados do parque… não vai dar.
Do parque de estacionamento até à entrada no recinto da recepção aos visitantes ainda é um par de quilómetros. Uma caminhada agradável, com um tempo espectacular. O verde é rei ali. Sente-se a humidade no ar. Passa-se por uma ponte pedestre suspensa e finalmente chega-se.
O recinto está deserto. A casa dos guardas encerrada. E contudo passa da hora de abertura e há um sinal que diz que é expressamente proibido entrar sem fazer o registo. Andamos por ali um bocado a fazer tempo, a ver se aparece alguém. Há um macaco por ali. Parece ser um animal de estimação, considerando que não está num grupo e que se mostra muito à vontade.
Bem, chega a um momento que desistimos. Já passaram 45 minutos. Vamos entrar sem registo. Há muita indicação sobre os percursos a seguir e no mapa do telemóvel também os tenho.
Exploramos um circuito e depois outro e outro. Vimos quedas de água, plantas exóticas, flores incríveis. Alguns segmentos dos trilhos são algo íngremes, mas o piso é bom e caminhar ali é um prazer.
Uma das opções consiste em subir ao topo de um cerro e esse será o único caminho que não faremos. Já não tenho idade para essas coisas, não com aquela extensão, não com aquela inclinação, não a esta altitude, não com esta humidade e não com esta temperatura.
Depois de uma hora bem passada voltamos à recepção, porque era necessário ali passar para transitar para outro trilho e agora está cheia de pessoal do parque. Bem, já que não nos registámos à chegada, registamo-nos agora.
Boa conversa com o simpático guarda que nos recebeu. Informação de qualidade recebida. Fico a saber que alguns dos trilhos que estão no mapa do parque são agora intransitáveis. Fica a ideia de que o projecto do parque está em linha descendente, não há meios para manter os caminhos abertos e em condições de segurança. Portanto, não há muito mais que possamos ver.
Aparece uma jovem polaca que vem visitar. Sozinha. Recebe parte do nosso briefing, mas agora vamos ao caminho enquanto ela fica a recolher mais informações.
Vamos ver o rio, que passa aqui perto. É um lugar idílico, uma cena de postal ilustrado. Apetece ficar ali para sempre. Instalo-me numa rocha ampla e plana e fico a ver, a viver o momento. A cor da água é o que mais me impressiona, o seu verde claro leitoso.
Caminhamos mais um pouco. O trilho mais longo não pode ser percorrido mas a sua primeira parte sim. Até à ponte suspensa. Fazemos isso.
No regresso vimos uma casa abrigo que se pode alugar por uma insignificância. Algo que teria feito se estivesse com mais dias disponíveis nesta viagem. Seria a loucura, dormir neste lugar remoto e tão cheio de tranquilidade.
Agora está na hora de ir. Ao sair vamo-nos despedir do Andrés. Mas a verdade é que acabamos por nos sentar nas escadas do posto com ele e a conversa dura durante mais uma hora. Falamos sobre tantas coisas que não há lista que as cubra. Sobre o parque, sobre ele, sobre família e projectos para o futuro, sobre o mundo, os animais e a natureza. Sobre o Equador e a sua cidade.
Felizmente que ele nos pode ajudar num pequeno pormenor: encontrar uma forma de regressar à cidade. Não há rede de telemóvel. Mas ele tem um telefone fixo e chama um táxi. Será o tempo de chegarmos ao parque de estacionamento.
E de facto, passado poucos minutos, chega uma pick-up branca conduzida por um senhor já para cima dos 70 anos. Mais um trajecto com uma conversa fabulosa! Que bom é viajar em regiões onde a língua pode ser falada! O tipo tinha uma cultura geral e uma visão lúcida do mundo que me surpreenderam!
Deixou-nos à porta do hotel. Agora vamos mudar, adeus baratas e barulho. Passamos para um outro local, na rua de trás, mais barato e super tranquilo (bem, à escala sul-americana). Foi uma boa ideia!
Andamos um pouco pela cidade. Vejo uns murais impressionantes, muito bem pintados. O tempo passa, mas não há mesmo muito para fazer. No dia seguinte o show continuará. Ou pelo menos pensava eu naquele momento.
A noite cai. Vamos comer. Ao mesmo local onde já tínhamos estado. Uma ementa ampla, aspecto limpo e agradável, bons preços.
E pronto, a salada. Como na Indonésia a salada foi a morte do artista. Nada parecia errado, até acordar a meio da noite num estado que não preciso de vos descrever. Já não me parece que no dia seguinte vá a lado algum.