Dia 16 de Fevereiro de 2020, Sábado

Os dias de Sucre estão a chegar ao fim com um balanço muito positivo. O meu instinto não me deixou ficar mal ao escolher esta cidade para passar algum tempo e fazer uma pausa nas andanças de viagem.

Será um dia preguiçoso, como que a comemorar a ideia de usar a cidade para retemperar forças. Depois de acordar de mais uma noite tranquila num dormitório só para mim e de um belo pequeno-almoço, sento-me a ler. Converso um pouco com o alemão com cara de Mickey Rourke, um viajante mais ou menos da minha idade que foi um gosto de conhecer.

 

Ele sai e passado um pouco começo a ouvir os sons difusos de uma festa. Parece ser ali perto. A música persiste e a curiosidade vai crescendo. Vou à rua espreitar e ele está mesmo ali, o corso carnavalesco.

Vai ser um grande acontecimento deste dia e as palavras serão curtas para descrever a experiência. Assim, juntei um pouco mais de fotografias que adiciono mais abaixo.

A folia descia aquela rua que é das principais de Sucre, vindo de cima e dirigindo-se à praça 25 de Maio. De ambos os lados do desfile as pessoas estavam sentadas em cadeiras trazidas de casa, fazendo grande festa da ocasião. Os que se encontravam nas intercepções dessa avenida com as ruas perpendiculares tinham trazido os seus carros de onde brotavam tudo o que era necessário: geleiras com mantimentos, espingardas de água para benzer os participantes do desfile e quem mais estivesse a jeito e mais balões cheios de líquido para as batalhas tradicionais.

A audiência é feita sobretudo de famílias inteiras. Vêm os pais e as crianças, mais os avós. Nas varandas dos afortunados que vivem nesta artéria os residentes assistem de posição privilegiada.

Ali mesmo ao meu lado vejo o meu amigo alemão. Tenho sorte, ganho uma posição basicamente na primeira linha, entre dois carros estacionados, atrás de uma família que está sentada, não constituindo por isso obstáculo para a minha visão. O único problema é que os filhos são autênticos demónios de Carnaval e durante todo o tempo não param de atacar toda a gente com as suas armas de água e farinha e outras coisas.

O desfile é composto por grupos, devidamente anunciados por um porta-bandeira. A maioria aposta nas vestes tradicionais, há música, sobretudo com as belas flautas andinas. Outros vestem-se com alegorias, passando sem parar, sempre a dançar. Passa um escocês com o seu kilt. Figura bizarra no contexto, talvez um velho residente.

Não sei quanto tempo demorou o desfile porque não cheguei no início. Mas foi pelo menos entre as 11:20 e as 13:10, quando um cordão de polícias passou por mim, a encerrar o cortejo. Quase duas horas de um espectáculo de cor, som e alegria. Uma surpresa que me deixou com um grande sorriso na cara para o resto do dia e cuja memória perdurará.

Com tudo isto fiquei com fome. Estava na hora de revisitar o excelente restaurante da véspera o Azafran, com algum medo de o vir a encontrar encerrado por ser Sábado.

Mas estava aberto e cheio de vida. Só havia uma mesa livre no exterior, fiquei com ela. Encomendei o menu e ainda foi melhor que na véspera. Tudo delicioso. O sumo de fruta natural, a sopa, o prato principal e a sobremesa. Tudo por 45 Bolivianos, cerca de 5,50 Euros!

Regressei ao hostel regalado. Mais preguiça, leitura e escrita. Há que pensar nos próximos dias que serão movimentados. De Sucre seguirei para Potosi e logo de seguida para Uyuni, o que promete ser outro ponto alto da viagem.

Só saí para esticar as pernas ao fim da tarde e comer mais um belo gelado, desta vez na gelataria Sucré, mesmo na praça principal. Adeus bela cidade de Sucre!

O excelente restaurante Azafran:

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