Ao segundo dia em Léon decidi ir ver o mar. Porque não? Para variar um pouco do cenário de cidades históricas. O autocarro era barato, tinha informação sobre o seu local de partida e a aventura prometia ser divertida. Então lá fui. Uma relativamente longa caminhada até à extremidade da cidade de onde saía o transporte. Aproveitei para ver outras ruas e sobretudo o mercado muito local junto ao qual estava a paragem. Tinha tempo, encontrei logo o velho autocarro parado, confirmei com as pessoas que era aquele e constatei que tão cedo não ia a lado algum. O motor estava desligado e do condutor nem sinal.

Andei um pouco por ali a gozar do festival de cores daquelas bancas de venda, especialmente as de fruta. Entrei no mercado dentro de muros, onde se encontravam outros produtos. E quando senti que tinha tido suficiente daquilo, lá me fui sentar dentro da viatura. Estava descansado, não havia absolutamente nada para fazer naquele dia, por isso, por mim, bem podia demorar ali o resto da manhã. Não foi preciso tanto mas ainda levou um bom bocado a arrancar. Estrada afora, em direcção à praia.

Não sabia bem ao que ia nem como seria aquela praia. A viagem não é especialmente pitoresca, vai evoluindo numa estrada muito direita, com vegetação banal em seu redor e com poucos povoados. Passámos por alguns rebanhos e fomos chegando. E eu sem saber onde sair. No regresso percebi que tinha escolhido mal, mas estava a olhar para o GPS e a água estava ali tão perto que saí numa paragem qualquer, perguntando antes ao motorista se para voltar era ali mesmo. Era.

Logo encontrei a praia. Fraquita. Um longo areal vazio de areia grossa acinzentada. Olhei para um lado. Olhei para o outro lado. E estava pronto a regressar. Não digo que foi um desperdício de tempo, sempre vi coisas diferentes, mas provavelmente não repetiria.

Lá me pus na estrada, quando vejo a uns 200 ou 300 metros o autocarro parado. Olha, fui andando para lá. Quando chego a meio caminho a coisa começa a manobrar e eu já a ver a vida a andar para trás. Se se vai pelo outro lado, perco o autocarro. Toca de correr, e lá entrei em andamento. Sem necessidade, porque teria passado por mim. E agora, na volta de regresso, vejo que toda a acção se passa noutro lugar. Vejo ocidentais, muitos cafés, bares e restaurantes, uma comunidade de pescadores. Olha, pronto, paciência. Perdi a oportunidade de caminhar por ali mas pude ver pela janela.

Chego de novo a Léon e procuro o Museo Historico de La Revolucion, que já tinha referenciado para visitar. Trata-se de um museu dedicado à guerra civil nicaraguense,  um longo conflito que se ramificou mais tarde, que opôs revolucionários sandinistas de esquerda, apoiados pela União Soviética, ao governo ditatorial de Anastacio Somoza, de direita, suportado pelos EUA. Gostei do museu e recomendo. Aquilo é uma espécie de cooperativa em auto-gestão, mantido por ex-combatentes sandinistas que ganham o seu pão fazendo visitas guiadas. O pagamento não é obrigatório mas depois de conhecer o Marcelo (ler aqui o meu artigo Marcelo, o Guerrilheiro) mesmo eu, que sou seriamente forreta, não consegui resistir a uma doação. No fim fui apresentado à rapaziada, que joga às cartas e troca conversa na sombra do pátio interior.

 

 

Entretanto tinha descoberto as maravilhas dos sumos naturais de Léon. Mesmo ao lado do museu, e a uma distância razoável para percorrer a pé desde o meu hostel, havia uma loja de sumos, toda moderna, com copos de plástico que depois de serem cheios com a combinação desejada eram selados a quente e entregues ao cliente com uma palhinha para take-away. Foi um hábito que durou os dias que fiquei em Léon, este de sair do hostel, ir em passo rápido buscar o suminho, e regressar para o conforto do lado improvisado.

Bem, já que estava em dias de museu, fui ao outro, que na véspera já tinha encerrado. O Museu de Tradições e Lendas é de facto algo único. Está alojado numa antiga prisão do regime do ditador Somoza, um lugar onde o meu amigo Marcelo esteve encerrado durante um par de semanas, a passar um mau bocado. E agora existe uma exposição que conta as lendas tradicionais da Nicarágua, com textos bem elaborados e bonecada fabulosa para dar um elemento gráfico. Também recomendo!

 

 

E basicamente assim se fez o dia. Voltei a pé, por outras ruas. Bebi umas cervejas geladas num café louco ao pé do hostel, com música sempre a abrir, que parece ser romântica para os casais locais porque a maioria das mesas estava assim ocupada. Fui tratado como um enviado das Arábias, nem sei porquê, porque Léon até tem bastantes turistas (mas não demais, na minha opinião). Sei é que a cerveja, mesmo geladinha, me soube muito bem.

Não há muito mais a dizer para hoje. Tratei de algumas necessidades prácticas: fui à farmácia e encontrei uma lavandaria onde deixei a minha roupa toda, excepto a que levava no corpo. A levantar no dia seguinte. O restante tempo foi ocupado a relaxar – não esquecer que por aqui faz calor, e muito – e a passear calmamente pelas bonitas ruas de Léon, sem falhar a saída de fim de tarde para apreciar o ambiente fantástico da feira de comida de rua e do fervilhar de uma cidade que para de trabalhar e começa a viver.

 

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