Acordei com a noção de que os meus dias na América Central estão a chegar ao fim. Mais uma noite e vou-me para a Colômbia.
Lá fora a chuva parou. Tenho tempo para explorar um pouco de San Ignácio. Afinal não estou eu aqui para outra coisa.
Aquelas casas de madeira enchem-me as medidas. Simplesmente porque para mim são uma novidades. Nunca tinha visto ao vivo, só em filmes. E acho-as fascinantes. Aqui em San Ignácio não me faltarão, estão por todo o lado. Delicio-me com tudo. Só passei umas horas a explorar o Belize, e acho que mais acabaria por me saturar, mas foram intensas e gratificantes.
Estas são as Caraíbas do meu imaginário. Os negros caribenhos, de cigarro ao canto da boca, em grupos, às mesas de cafés obscuros. Passam os autocarros que um dia foram escolares, nos EUA, e depois foram trazidos para servir as populações do Belize.
Passo por uma ponte, também ela de madeira. E até arrepia quando mais um autocarro passa sobre o seu tabuleiro enquanto eu caminho pelo corredor para peões. Vibra tudo!
Este é capaz de ser o rio que atravessei ontem para chegar às ruínas Maias. Olha, agora atravesso-o de novo. As águas correm céleres. Há pessoas em movimento para todo o lado. As crianças aqui usam uniformes escolares, os polícias vestem-se à inglesa. É mesmo outro universo.
Caminho por aquelas estradas de asfalto bem esburacadas, com os olhos muito abertos. Homens saem de casa, montam-se nas suas motas para ir para o trabalho ou simplesmente afastam-se a pé, rumo a parte incerta. Jovens namorados abraçados. Meninos que vão para a escola. Ninguém repara muito em mim, apesar de não ser muito provável que já tenha passado por ali mesmo algum estrangeiro.
Ando até ganhar a noção de que me estou a afastar demasiado, e volto para trás. Fascinante. Dentro de mim há algo que aplaude. Um bom dia de viagem, mais um. Têm sido assim todos, na América Central.
Acabo por regressar aquilo que parece ser o centro de San Ignácio. Há ali um mercado, com fruta e vegetais, não muito mais. Mesmo assim é um festival de cor. Descubro uma padaria. Excelente. Abasteço-me.
Agora serão horas de regressar ao hostel, pegar na minha trouxa e começar a arranjar maneira de chegar à Cidade do Belize.
Dizem-me que devo esperar na praça central, apontam-me o lugar exacto. Espero. E espero. Demora imenso tempo. Chega um autocarro para o meu destino. As boas notícias são que estou no lugar certo. As más notícias: vai cheio, não consigo entrar. Passado mais um bocado vem outro e desta vez vou a bordo.
A viagem demora um par de horas. Muita coisa para ver. Caem umas chuvadas ocasionais, bem tropicais. Passamos pela capital do país, que não é Cidade de Belize mas sim Belmopan. É uma capital meramente política, a cidade é pequena Seguimos para o destino final, onde o meu anfitrião de Couchsurfing estará à espera.
Chego, encontro-o. E o que se segue será a minha experiência de Couchsurfing mais bizarra até ao momento. Acho que é. Verdade ou mentira, ele mais tarde diz-me que comeu qualquer coisa ali na estação, enquanto esperava por mim, que lhe fez mal. Seja como for, passei quase vinte e quatro horas em casa dele e não me disse quase uma palavra. Mostrou-me o quarto, foi-se instalar a ver TV e ali ficou até se retirar para dormir.
Não me queixo muito. Sabe-me bem estar sozinho, ter silêncio. A casa é boa, estou confortável, é o que é preciso. Mas foi mesmo estranho.
O resto do dia passou-se assim. Fechadinho em casa, algo afastado do centro. Veio a noite e nada mudou. Comi qualquer coisa, que lhe “roubei” (com a devida autorização) do frigorífico, que estava bem atestado de todo o tipo de iguarias. E dormi.