Acordámos relativamente cedo para dar início a este primeiro dia de exploração na Costa Rica. Na véspera, durante a agradável ceia vegetariana servida pelo Edward foi-se consolidando a ideia de que a Costa Rica não era para nós. Tem fascinado inúmeros viajantes, mas a minha perspectiva não era (e não é) a mais positiva. O que eu vejo ali é um país onde muito pouco se obtém sem gastar dinheiro. Um carro é essencial, mas para além disso, é preciso muito tempo para deslocações de um ponto a outro. O Edward tinha carro e tinha até algum tempo. O bom amigo tirou dois dias de férias para passar connosco, mas segundo ele esses dois dias não serviriam para nada considerando as distâncias e o tempo necessário para ir de um lado para o outro. E mesmo quando se chega, num carro que tipicamente é alugado e bem pago, tudo depois custa ainda mais dinheiro… não é um país como eu imagino que deva ser o mundo… onde se chega e se anda, se vê e se usufrui da experiência. Se Portugal fosse a Costa Rica, certamente seria necessário pagar para ir à praia.
Dito isto, começava a desenhar-se uma antecipação da saída do país em direcção à Nicarágua. Mas para o primeiro dia a sugestão do Edward foi aceite… iríamos meter o nariz no parque Irazu e no seu vulcão e depois logo se veria.
O dia estava de clima tremido. Lá fomos, enfrentando o trânsito voraz de San José e arredores, muito carro, filas, semáforos. Muito tempo para vencer curtas distâncias. Passámos junto a Cartago, iniciámos a subida da montanha e o cinzento foi-se acentuando. Tornou-se nevoeiro e a paisagem, deixado para trás o espaço urbano, tomou forma. Uma forma surpreendente, bem longe do imaginário associado à Costa Rica. Nada de selvas tropicais. Parecia mais que estávamos na Suiça.
Em nosso redor, campos muito verdes, de erva, com bonitas casinhas de montanha. Tractores agrícolas, cavalos pastando, árvores mais ou menos isoladas, campos de lavra, de terra muito castanha. Tudo com um toque muito europeu, muito ocidental.
Depois de passarmos a cota onde as nuvens baixas estavam, o nevoeiro desapareceu e fomos brindados com um céu bonito, com algumas nuvens mais altas mas com muito azul. Parámos num supermercado de beira de estrada para comprar alguns abastecimentos para o dia. E continuámos a subir. A esta altitude, que até não é muita, começo já a sentir a falta de oxigénio. Sou muito sensível a isso. Fico ofegante com facilidade e se for caso disso, até um pouco tonto.
A partir de determinada altitude a paisagem muda de novo. Agora sim, torna-se tropical. Estamos a chegar à entrada do parque mas como imaginava não chegámos a entrar. Não só os preços não eram aceitáveis – uns 15 Eur por pessoa – como havia um tecto de nuvens que não permitiria usufruir inteiramente do local. Depois de um breve debate decidimos voltar para trás e tentar aproveitar o dia de outras formas.
E assim fomos ao sanatório abandonado. Não vou escrever aqui muito sobre este local, porque existe um artigo sobre o Sanatório Duran aqui no Cruzamundos, onde há uma descrição completa sobre o local e a sua história, assim como uma galeria de imagens bastante completa. Estando na Costa Rica, até para bisbilhotar um edifício abandonado é preciso pagar. Foram cerca de 3 Eur mas valeu a pena. Gosto sempre de um pouco de Urbex.
Depois de explorar em detalhe todos os recantos do complexo Duran, entretivemo-nos com um pouco de Geocaching por ali pelos campos de montanha. O dia estava bastante agradável naquele momento e foi um pedacinho bem passado. Mas e agora… o que fazer? Não havia muito. Mais uma vez esta sensação, omnipresente na abordagem à Costa Rica. Demos um salto a Orosi, uma pacata vila ali perto. Já lá em baixo, na base das montanhas.
E com o “lá em baixo” veio o mau tempo, o céu cinzento e, por fim, a chuva. De Orosi fica a memória da simpática igreja, com um toque tropical, dado talvez pelas flores exóticas que se encontram no claustro lateral. E também a interessante ponte suspensa, sobre o rio Recentazón, relativamente nova, depois da anterior ter sido arrasada pelas águas em fúria.
E pronto. Mais ou menos o dia estava rematado. Agora tinha começado a chover. E não parecia que iria parar. Um sinal para regressar a casa. E não aconteceu muito mais… o serão foi caseiro. O Edward cozinhou para nós, compraram-se umas cervejas e ficámos por ali, apenas a conversar.