O dia começou cedo, com o pequeno-almoço com o nosso anfitrião e a filha. O desgraçado acordou de madrugada para levar o Ferry, o couchsurfer alemão, ao comboio. E sabem o pior? No dia seguinte terá que repetir a operação connosco.
Depois o Bilel deu-nos boleia até à paragem de eléctricos. É apenas uma linha, mas muito funcional. Estão sempre a passar, o bilhete é económico e põe-nos no centro num instante. Está-se bem em Constantine.
Saímos junto ao centro e seguimos o fluxo de pessoas que certamente nos mostrará o caminho certo. Há muita gente na rua, é o início de um novo dia e a população de Constantine vai para o trabalho. Ou não. É fim-de-semana e talvez vão mais às compras, ou conviver.
Descobrimos o local que o Bilel indicou como sendo o acesso à parte mais antiga da cidade. Há uma multidão à porta. O calor aperta e sinto-me um pouco sem plano para explorar a cidade. Estou perdido, desnorteado, sem rumo. Achei Constantine uma cidade de navegação complicada para quem não a conhece.
Outra sua característica é o aspecto arejado: existem campos verdes por todo o lado e apesar de viverem na cidade meio milhão de pessoas, onde quer que se vá vê-se o campo. Mesmo do centro.
O dia está bonito e o verde que rodeia Constantine sobressai. Anda-se por ali. Vejo uma estrada pedonal que desce uma colina, serpenteando, e por ela estão distribuídos vendedores. É uma espécie de Feira da Ladra. Vem a subir um senhor com a pequena filha que posa para uma fotografia. Atrás de mim um vendedor desata a mandar ao solo uma peça da sua mercadora. Furiosamente. Será por causa das fotografias? O pai da menina discute com ele por causa da atitude, mas nunca saberei o que aconteceu ali.
Andamos por ali, um bocado à toa, andando, simplesmente andando, e quando é assim, claro, vê-se muita coisa, mas nada que se registe por escrito. É a vida de Constantine que se observa.
Encontramos o Palácio do Bey, de que o Abdou já tinha falado. Hoje em dia é uma espécie de museu, mas o seu valor para o visitante é mesmo enquanto palácio, enquanto testemunho arquitectónico, e é mesmo imperdível, dando para passar pelo menos uma hora explorando os seus jardins, arcadas e salas.
Fomos ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, lá no alto, chegando depois de atravessar uma das pontes suspensas mais impressionantes de Constantine. Há muita gente por ali, especialmente juventude mas também famílias. O dia está quente e o céu totalmente azul. Depois da tempestade da véspera é uma mudança significativa!
Dali têm-se grandes vistas e fico por lá um pouco a descansar e a observar. Depois, sem pressa, atravessar de novo a ponte, absorver o ambiente.
A tarde vai avançando. Alguma fome. Gostava de encontrar o restaurante que tínhamos visto na véspera, todo pintas, sobre a primeira ponte suspensa que tinha visto. Andei às voltas, olhei e voltei a olhar para o GPS e não se fez luz.
Felizmente o Bilel mandou-me a indicação do local no Google Maps via Whatsapp e a coisa lá encarrilou. Foi uma boa refeição. O meu bife de peru com natas não era nada de fabuloso mas também não estava mau, o ambiente era óptimo e as vistas melhores ainda. Quanto ao preço, os habituais valores muito agradáveis. Deu para descansar as pernas e satisfazer o estômago.
Agora mais uma volta, um bocado disparatada, e depois de um grande círculo estava outra vez a passar frente ao restaurante. Que tótó. Entretanto tinha começado a ouvir as primeiras apitadelas e intuí logo o que se passava: aquilo eram festejos de futebol.
Já em frente ao restaurante avisto uma enorme faixa verde… mais um sinal. Antes, ao passar sobre uma ponte relativamente modesta, tinha visto uma outra faixa da mesma cor a balouçar ao vento.
Agora estamos numa rua cheia de gente, com muito comércio, e os carros que passam já não deixam margem para dúvidas. Sem me dizerem parece-me evidente que o Constantine ganhou o campeonato.
O que se seguiu foi uma maravilha, um deslumbramento, um daqueles momentos que dá significado às viagens. A multidão juntava-se numa praça principal, e para lá acorria toda a gente. Um espectáculo de alegria. Carros carregados de gente, e de repente todo o povo não só se deixava fotografar como queria ser fotografado naquela data querida.
Depois de um bom bocado a fotografar e a sentir o ambiente começámos a fazer o caminho em direcção ao eléctrico, mas antes de lá chegar ainda muito haveria de fotografar. Toda a gente me pedia um retrato. Uma loucura!
O Bilel foi-nos esperar ao eléctrico. Vinha cansado mas tinha passado um dia fabuloso. Parámos numa mercearia porque era necessário comprar abastecimentos para a longa viagem de comboio do dia seguinte e foi um momento engraçado porque quando fui para pagar o dono percebeu que eu era estrangeiro e para minha surpresa começou a falar comigo em bom inglês e ainda se esteve ali um bocado à conversa.
Jantámos juntos mas o serão foi curto porque no dia seguinte havia que sair ainda de noite para apanhar o comboio para Argel.