Ao terceiro dia completo em Singapura o tempo não foi tão simpático. É verdade que logo na primeira jornada de exploração o céu se manteve cinzento, oferecendo mesmo alguns aguaceiros. Mas hoje as coisas foram diferentes.
Primeiro objectivo: o Jardim Botânico de Singapura, o único local do seu género a merecer uma inscrição na lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO. A chegada é fácil, há uma estação de metro mesmo à porta. A entrada é livre. Apenas a visita ao Jardim de Orquídeas exige a aquisição de um ingresso. Devo admitir que o que vi não me impressionou. E digo o que vi porque passados uns cinco minutos de ter entrado começou a chover um pouco. Incomoda, não deixa fotografar. Mas não impede que se prossiga a visita.
O que aconteceu a seguir, sim: uma daquelas chuvadas tropicais, que já tinha descortinado, nas nuvens negras que via ao longe um pouco antes. Consegui abrigar-me num alpendre onde já mais companheiros de sorte se encontravam. Choveu, e choveu. Só me restava olhar para o dilúvio que, depois de uns 30 ou 40 minutos abrandou. Continuou a chover, mas tinha-se voltado ao modo “Incomoda, não deixa fotografar”. Como já estava fartissimo de ali estar, saí da toca, andei mais um bocado, mas decididamente não estava a ser agradável.
Saí, meti-me no metro e atravessei quase a rede inteira para sair na estação de Haw Par Villa. Ia precisamente a Haw Par Villa, que empresta o nome à estação. E o que é isto? Bem, já tinha lido sobre o local, no livro que arranjei para me ajudar a preparar a viagem, mas com o tempo não tinha pensado mais nisso… até à véspera, quando a Angie e a Felicia me tentaram ajudar com algumas ideias e se saíram com isto. Uma espécie de parque de diversões onde todas as crianças chinesas de Singapura eram levadas pelos pais para aprenderem sobre velhas histórias da sua cultura, contos com lições de moral clássica implícitas, valores como o respeito pelos pais e outras coisas assim. Pareceu-me logo bem, até porque entretanto me lembrei do que tinha lido.
Não ia com expectativas muito elevadas, era mais curiosidade, de ver o que ia encontrar. Estava preparado para tudo, para um local fascinante ou para algo desinteressante. Entretanto a chuva andava a rondar-me. O céu estava carregado, mas de momento não havia nada.
Encontrei logo o tal Haw Par Villa, entrei. Gratuito, excelente. Estava quase vazio, mas fiquei logo fascinado, desde o momento em que passei pelo arco triunfal da entrada. Cor, muita cor. E pronto, a partir daí foi um delírio. Tanta fotografia tirei eu ali. Como evitar, com a variedade de detalhes…
Era o que elas me tinham dito. Uma série de contos passados sob a forma de, chamemos-lhe, esculturas. Devia ter sido, de certa forma, o que a Feira Popular foi para tantas gerações de lisboetas, como eu. Só me espanta como é que o local ainda estava aberto. Muito obsoleto, mas para mim mais interessante não podia ser. A chuva regressou. Felizmente já tinha visto uma boa parte do parque. Abriguei-me um pouco. Parou, aliás, ficou a pingar quase sem se dar por isso, o suficiente para incomodar apenas um bocado. Consegui terminar a minha volta por aqui, que demorou muito mais tempo do que esperaria. E não me alongo sobre a Haw Par Villa porque planeio escrever um artigo especifico sobre ela na minha secção Locais Especiais.
Fui andando para outra parte da cidade. Andando é como quem diz, apanhei o metro. O que tinha em mente de seguida era encontrar um lugar onde se vendesse Tofufa. Ou algo que soa assim, uma sobremesa à base de soja que experimentei na Malásia e de que gostei muito, uma espécie de pudim de soja com um sabor discreto, servido bem frio e com molho de caramelo. Não é fácil de encontrar mas a Felicia tinha descoberto este local para mim e com as suas indicações e o meu GPS fui lá direitinho, depois de estender um pouco as pernas desde da estação de metro mais próxima.
Passei junto a um campus universitário que me fascinou e depis de um passeio agradável – a chuva parecia ter terminado para este dia – cheguei ao local, para descobrir que apesar de só estar na cidade há três dias já tinha passado mesmo lá à porta. Era uma loja chinesa, com pessoas desagradáveis. Disseram-me depois, pela minha descrição do que aconteceu, que devia ser gente mesmo da China, rudes. Rudes e rudes. Bem, não interessa, depois de alguns problemas, consegui a minha Tofufa que comi frente a um armário cheio de pastéis de nata.
O que fiz a seguir foi visitar o Museu Nacional de Singapura. Gostei, sem adorar. Para um país-cidade com os recursos financeiros que tem Singapura esperava um pouco mais. A qualidade é alta, mas a quantidade soube-me a pouco. Poucas salas, pouco espólio.
Ainda subi, de novo, como fiz todos os dias, a Fort Canning. E pela terceira vez em três dias, fiz o mesmo caminho para regressar a casa.