Dia 1 do Regresso
Este será o último artigo a contar a história da minha viagem de setenta e quatro dias pela Ásia, no início de 2017. Uma viagem que me levou desde as portas de Faro, no Algarve, até Timor Leste, com uma paragem em Madrid, alguns dias no Dubai, um par de semanas no Omã, outro par delas no Sri Lanka, um fim-de-semana a visitar amigos em Kuala Lumpur, ainda mais duas semanas em Myanmar, uma mão cheia de dias felizes em Singapura, duas semanas de desencanto na Indonésia e… os tais dias de Timor. No regresso, uma maratona de quatro dias até voltar a entrar na base, em Portugal.
A longa jornada inicia-se em casa da Katy, na Areira Branca, nos arredores de Dili. Leva-me à cidade, de onde partirá a carrinha para Kupang, em Timor Ocidental. Vou com antecedência, assinalo a minha chegada no escritório, despeço-me da Katy e espero. Espero e espero. Mas está-se bem, esperar faz parte, estes tempos mortos uso-os para descansar e relaxar o corpo. Por fim lá vamos, uma viagem sem história que replica a vinda para Timor Leste. Paramos em Atamboa para almoçar. Espero que os companheiros de viagem tomem as suas refeições. No total são as 12 horas de viagem, é cansativo.
Na carrinha um jovem pede para trocar de lugar para se sentar ao pé de mim e praticar o seu português, algo que não me deixa especialmente satisfeito. Nunca gostei de falar português com estrangeiro e naquele momento queria era deixar-me ir sem pensar em nada e chegar a Kupang.
Isso eventualmente acabou por acontecer, mas em grande estilo: exactamente quando entrávamos na cidade começou a chover. Esperei que fosse um aguaceiro, mas não… o que aconteceu de seguida foi o maior desabamento de água do céu que já vi. Depois de deixar todos os outros passageiros nos seus destinos o condutor seguiu para o Lavalon Sea View Hostel, e quando lá chegámos, juro, se saísse da carrinha seria como se alguém me apontasse uma mangueira de alto caudal e me acompanhasse com ela até ao interior do hostel.
O condutor ficou a olhar para ele e eu para ele. Ambos sabíamos que não iria sair dali. Por fim o ajudante do Edwin apercebeu-se da situação e veio com um guarda-chuva buscar-me. O guarda-chuva era mais para a mochila… sem ele, adeus câmara fotográfica e computador, ficariam a escorrer antes de chegar ao abrigo.
Entretanto o caudal de chuva tinha criado um rio que barrava a entrada no hostel. E estou a falar de água com uma corrente forte que me dava acima dos joelhos. Yeaps, era assim tão mau.
Mas pronto, cheguei, abriguei-me. Entre o regresso ao dorm e um quarto “deluxe” com ar condicionado, escolhi a extravagância. Tinha dinheiro indonésio à conta para tudo isso e era para o gastar. O quarto cheirava a humidade, mas pronto, fiquei com ele.
Dia 2 do Regresso
No dia seguinte visitei o meu supermercado, conversei um pouco com um casal argentino que preparava a viagem, matei tempo, sentei-me com o Edwin e esperei pela hora de partir para o aeroporto. Em grande, no carrão que o Edwin tem para estas coisas. Conduzido pelo fiel ajudante. Fui com muito tempo, como gosto. Andei por ali, pelo terminal, a ver tudo, aguardando pela hora do voo. De Kupang voaria para Jakarta e de lá para Kuala Lumpur, onde chegaria já ao fim do serão. Correu tudo bem, os voos partiram à hora e lá me aninhei para passar a noite no terminal de Kuala Lumpur.
Dia 3 do Regresso
Tinha basicamente todo o dia pela frente. E o Baha estava em Kuala Lumpur. Então apanhei o autocarro para a cidade, mudei para o metro e fui encontrá-lo num centro comercial. Juntos fizemos uma série de coisas que tinha para fazer, como trocar dinheiro, comprar uma coisa para uma pessoa amiga. Encontrámos algumas Geocaches e mostrou-me a cidade. Aqui está uma cidade que não me agradou nada. Nem sei porquê, e para ser honesto não senti a necessidade de racionalizar. Não gosto de Kuala Lumpur e pronto, é um sítio onde espero não ter que voltar nas minhas deambulações pelo mundo.
Ao fim do dia, depois de beber um sumo de laranja no bar do hotel do Baha, pus-me a caminho. Metro, depois autocarro para o aeroporto. Esperava-me um voo da Vietnam Airlines para Hanói, onde teria ligação para Londres. Até então, tudo bem….
Só que em Kuala Lumpur surgiu um imenso problema: o nosso avião (e falo no plural porque havia uma catrefada de pessoas na mesma situação) atrasava-se. Ao principio nem pensei no assunto. Tinha três horas entre voos em Hanói. Mais do que suficiente para um atraso casual. Só que este prolongava-se e toda a gente começava a ficar nervosa. Acompanhava o voo que ia chegar no computador e via o avião ainda pousado em Singapura. Finalmente levantou voo, mas era evidente que não chegaríamos a tempo. O pessoal que estava de serviço ao “gate” contactou Hanói e garantiram que porque éramos bastantes passageiros na mesma condição, que a companhia iria fazer o avião aguardar pela nossa chegada. Mas é daquelas coisas… ver para crer.
Dia 4 do Regresso
Chegámos a Hanói no meio de grande stress. Estaria ainda lá o nosso avião? A bordo ninguém sabia de nada. Ao aterrar, ninguém à nossa espera à saída do avião. Seguimos para o terminal no autocarro. Ali sim, começámos a receber informação. Para correr para determinado “gate”. Passámos por um controle, com a ajuda de um funcionário. Foi aí que senti que ia poder chegar a casa conforme previsto, mas só acreditei quando entrei no autocarro que nos levaria para o grande avião para o voo intercontinental. Foi a primeira vez na vida que fiquei com a boca tão seca como se não existisse saliva no meu corpo.
As muitas horas entre Hanói e Londres fizeram-se bem e até consegui dormir durante boa parte delas, algo que não é normal para mim. Chegámos a Londres às primeiras horas do dia europeu, sob o habitual dia chuvoso. Aterrámos em Heathrow e para chegar a Gatwick teria que apanhar um autocarro cujo bilhete tinha comprado com bastante antecedência. Correu tudo bem. De Gatwick voo Ryanair para Faro e finalmente, finalmente, cheguei!
Ufa!