Mais uma noite em Bukhara pareceu-me bem, mas não no mesmo local. Vou tratar-me com um quarto privado. Quando digo que me pareceu bem foi considerando que não havia nenhum comboio neste dia para Khiva. Teria mesmo que ficar, não sendo uma boa ideia optar por um transporte por estrada.
Tomei o pequeno-almoço. Depois da chuvadas nocturnas o céu estava agora estável. Saí para dar uma volta. O meu amigo indiano que tinha conhecido em Tashkent no primeiro dia da passagem pelo Uzbequistão já me tinha dito que um dia chegava para ver tudo em Bukhara e de facto por esta altura já me sentia um perito na cidade. Claro que falo dos principais pontos, porque recantos escondidos há sempre… agora, o prazer de os descobrir num mundo dominado pelo cinzento já é outro assunto.
Tinha lido que se podiam comprar bilhetes de comboio na cidade, sem ser necessário ir à estação ferroviária que, a 15 km de distância, não era uma ideia muito boa. Lá fui a pé até ao cruzamento mencionado, mas não encontrei nada. Perguntei num hotel, a senhora não falava nada de inglês e o Google Translate só trouxe confusão.
Andei mais um bocado, eventualmente, já noutra esquina, entrei noutro hotel. A senhora também não falava inglês mas desta vez a mensagem lá conseguiu passar. Apareceu um tipo para ajudar à conversa. Bem, sim, que fosse com ele que me mostraria. OK, vamos nessa. Metemo-nos no carro, e cinco minutos depois chegou-se à confusão que o local que ele pensava afinal não vendia bilhetes para o comboio, apenas para avião. Mas que eu não me preocupasse. Que não me preocupasse, dizia ele… estava a pensar é que na hora da conta teria feito melhor se tivesse logo apanhado o autocarro para a estação.
Mais umas quantas paragens infrutíferas e o amigo Otek aparece com um sorriso. Agora sim, já sabe onde é. E sabia. Um escritório onde vendiam bilhetes. Bilhetes mesmo, não vouchers. Estavam por ali algumas pessoas à espera, mas o amigo Otek logo descobre no patrão um amigo, beijinhos e abraços trocados, logo o meu passaporte é refundido para as profundezas do escritório e passadas de mãos as necessárias notas, tenho o bilhete comigo.
Pergunta-me o Otek onde quero ficar e digo-lhe o nome de um lugar religioso que me pareceu com potencial. Ele deixa-me lá próximo. A ajuda e o transporte ficou-me em 3 Euros, que ele pediu depois de muita insistência minha.
Começo a caminhar para a madraça, ou mesquita, já não sei, e que vejo eu logo ao virar da esquina? O Hotel Al Hilol, que tinha reservado para essa noite. Um sinal do destino? Ainda por cima o proprietário estava cá fora e conversámos um pouco. Depois segui para a visita, voltei para o centro, já com passada apressada. Tinha até às 13:00 para sair do outro hostel e cheguei mesmo à justa.
De mochila posta ainda revisitei alguns lugares já vistos, mas agora com uma nesga de céu azul a temperar as coisas com alguma cor. E pronto, cheguei ao Al Hilol, que veio a ser um oásis de conforto e tranquilidade numa viagem desconfortável. Passei a tarde a descontrair, saí para dar uma última volta, claro, regada com chuva. Parei no supermercado. Depois, numa loja de bebidas, onde comprei uma garrafa de cognac uzbeque por menos de 2 Euros. Jantei na Bella Italia, um restaurante de comida italiana muito fino, cheio de etiqueta e de gente bem, onde paguei 8 Euro pela refeição completa.
Regressei ao hotel, na realidade um homestay agradável e recomendável, e dormi bem.