19 de Outubro

Portanto, se a multidão de turistas que diariamente invade a cidadela me asfixia, só há uma solução: deixá-los estragar o ambiente e afastar-me. E sei exactamente para onde. Vou trepar aquele monte sobranceiro, com uma fortaleza no topo. Tenho as coordenadas do início do trilho e chegar até lá é uma brincadeira de crianças. Depois, é subir, de novo por um caminho em forma de serpentina, com troços mais longos que os que encontrei nas ascensões de Kotor. Mas depois daquelas caminhadas de 0 a 950 m em menos de nada, isto em Dubrovnik não é nada. Depois de passar pelas muitas cruzes (algumas, de forma algo mórbida, têm acumulados pedacos de estilhaços e outros vestígios letais) que homenageiam os mártires da cidade durante os bombardeamentos de 1993, chego ao topo.

O trilho, já lá em cima, passa mesmo junto ao forte, construído pelos franceses no século XIX, e mantido deste então com os mais diversos inquilinos miltares. Actualmente está quase totalmente ao abandono, mas em algumas salas está instalado um museu dedicado ao bombardeamento de Dubrovnik (1991); há ainda alguma actividade operacional numa pequena parte, mas não faço ideia do que se passa lá. Portanto, como ia dizendo, andando junto à fortaleza em ruínas, vejo uma entrada em ruínas, com um cartaz a dizer que se trata de uma área perigosa e que se entra por conta e risco de cada qual. Ora bem, é já. Esgueiro-me para lá, todo pronto para descobertas incriveis e qual não é o meu espanto quando dou de caras com eles! Oh não! Nem aqui! Turistas, de cara à banda, câmara ao peito, bocas abertas, a olhar para cima, para as janelas dos andares superiores. Afinal a prometora entrada conduzia apenas à fachada frontal, onde há o museu, o parque de estacionamento e tudo o resto que existe para lidar com turistas.


 

Acabou o período de graça, sem a praga em redor. Acabo de entrar (de novo) no seu reino. E não admira! Logo de seguida descubro o terminal do teleférico que arranca de lá de baixo, junto às portas da cidadela, e sobe por ali acima a uma velocidade louca, despejando a sua carga humana a um ritmo impressionante, trazendo de volta os que já tiveram a sua dose, e regressando apressadamente a buscar mais. Ao lado, uma agradável esplanada, construída em socalcos, vazia, aquela hora, com empregados entediados.


Aproximo-me da enorme cruz construida no topo, salto o muro, desço um pouco pelas rochas e instalo-me num canto confortável a ler. Soube bem enquanto durou, mas passados alguns minutos um grupo de alemães teve a mesma ideia, a de repente tenho um deles de pé sobre a rocha que me servia de almofada, aos gritos com os outros. Claramente estava na hora de arrumar os tarecos e arrancar dali.




Antes de iniciar o caminho de regresso, explorei um pouco o planalto e encontrei as trincheiras de 1991, enquadradas por quantidades generosas de arame farpado. Estava visto. Mais nada a fazer ali por cima.

O resto do dia não tem história. Descreve-se como passagens alternadas pelo quarto do meu querido hostel e pelas ruas de Dubrovnik, exploradas sobejamente, sempre pelas áreas marginais, bem afastado da assombrada artéria principal, onde o fio de turistas se mantém ininterrupto.


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