28 de Outubro

Os dias de Sarajevo estão a chegar ao fim. Acordo com o cheiro a bolos frescos. O Oliver trouxe um abastecimento da sua escapadela nocturna e o pequeno-almoço é saboroso. A viagem tem hoje um dia morto. Fico de manhã em casa, e quando vou para baixo, para Sarajevo, é a boleia com o meu anfitrião. Hoje não vou fazer absolutamente nada. Minto. Quero dar uma vista de olhos ao pequeno museu junto à ponte latina, que ilustra os anos de ocupação austriaca e o atentado de 1914, que despoletou a I Guerra Mundial. O bilhete custa 1 Eur, e dá acesso a uma sala com uma exposição interessante mas reduzida. De qualquer modo, dinheiro bem empregue.

Depois, passo a tarde no Havana, na Internet. Mais nada. Antes de me pôr a caminho para casa compro dois pedaços de “burek”, uma especialidade desta região. No primeiro, de carne, dou duas dentadas antes de o deixar no caixote de lixo. E foram duas porque estava faminto, duas que me deixaram arrependido durante as horas em que fui sentindo aquele asco às voltas no estômago. O de queijo, ligeiramante mais aceitável, entrou noutro caixote de lixo. Porcariazinhas engorduradas. Detesto “burek”. Nunca mais na vida quero ouvir falar em “burek”.

E vá, agora, montanha acima. Estranho o tráfego anormal de carros por aqueles caminhos, nos dias anteriores quase desertos. Quando chego à casa, vazia, a televisão está ligada e apercebo-me que se passa qualquer coisa. Um atirador isolado aproximou-se da embaixada dos EUA e abriu fogo, despejando uns quantos carregadores antes de ser neutralizado. Foram cerca de duzentos tiros, que feriram duas pessoas. Portanto o trânsito na cidade está caótico, e há condutores que procuram nos caminhos das colinas uma alternativa para chegarem ao seu destino.

Última noite em Sarajevo. Tinha que ser especial, não? Portanto, eu e as raparigas descemos à cidade e procurámos o “club” do Oliver, encontrado depois de algumas peripécias. Passei tanto tempo em casa deste homem que já nem sei ao certo quantas noites foram. Mas seria uma vergonha deixar Sarajevo para trás sem uma visita ao Bliss Blok, e para a desbunda ser completa, fomos logo à festa gay. Chegámos pelas 22 e pouco, e o local estava vazio. Sorriso amarelo, olhar de esguelha ao Oliver para avaliar o seu estado de espírito. Nada preocupante. Bebemos um copo de rakia na mesa do canto, fomos conversando, e sem se dar por isso a sala foi-se compondo. Pela uma da manhã era uma casa cheia. o Oliver aviava bebidas sem parar, eu lavava a louça e a Alex recolhia copos e garrafas espalhadas pelo espaço. A Cherry, lésbica, teve folga para conviver com as congéneres. E para quem fez cara feia a vir à festa, posso garantir que se divertiu imenso, como de resto todos nós. As moças fizeram grande sucesso, a exótica Cherry, a bonita Alex. Depois de 6 ou 7 rakias, 2 pagos por mim, o resto oferecidos, pelos meus amigos e por clientes entusiasmados pela novidade lusitana. As raparigas não quiseram deixar a festa à hora que tinhamos sumariamente combinado, tamanho era o entusiasmo, mas como compromisso é compromisso, pagaram-me o táxi para que eu regressasse sozinho a casa. Por mim continuava noite dentro (soube depois que eles só chegaram já depois das 5) mas no dia seguinte tinha que continuar viagem, e para que não se repetisse o meio falhanço de Mostar, obriguei-me a virar as costas à farra e às 2 estava a roncar.

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