Tenho pela primeira vez um vislumbre de uma Bulgária montanhosa, com a imponente cordilheira que se eleva a mais de 2000 metros por detrás de Karlovo. Em breve estaremos a atravessá-la, através da passagem de Shipska, onde durante a guerra de libertação da Bulgária, em 1878, se travou aquela que foi talvez a mais dura e determinante batalha. Trata-se de um ponto estratégico, que controla a passagem entre o norte e o sul do país. Assim, foi por lá que os russos vieram, determinados em expulsar os turcos destas paragens. Mais tarde, foi a vez dos otomanos tentarem recuperar, a todo o custo, a passagem de Shipska. Diz-me o Atanas que não é preciso muito tempo para que qualquer um que decida trazer para ali uma pá começe a encontrar pequenos fragmentos desse passado sangrento. E os búlgaros não esqueceram. O local é um santuário nacional, com um monumento imponente e vários outros de menores dimensões. Mas estou a adiantar-me, porque antes passámos pela igreja russa de Shipska, que é “apenas” a igreja mais bonita que já vi. As cúpulas das torres sineiras, revestidas a metal dourado, vêem-se a uma distância considerável, enquanto o viajante se aproxima da base da montanha. Mas a magnificência do edíficio só é compreendida quando se pára o carro e se sobe os degraus que levam ao seu terraço. Simplesmente divinal.
Apesar de estarmos na localidade de Shipska, não subimos de imediato a montanha. Fazemos um desvio, para atingir um dos objectivos mais desejados de toda esta viagem: o templo comunista de Buzludzha, erigido perto do local onde se deu a primeira reunião (clandestina) de comunistas na Bulgária. Foi tornado museu do Comunismo e local de encontro dos grandes do Partido. Hoje, é uma ruína impressionante, que se vê a longa distância, e cujo interior pode ser alcançado através de diversas aberturas… é preciso é encontrá-las. A zona mais alta da montanha estava coberta de neve e gelo, e soprava um vento frio. Gostaria de ver o local com outras condições climatéricas, mas esta modalidade invernosa ofereceu um ambiente também ele interessante.
O passo seguinte foi então a passagem de Shipska. Numa palavra: impressionante. As vistas do topo da montanha, a majestosidade do monumento principal e as suas ramificações, o clima de peregrinação que os búlgaros imprimem a este local… sem dúvida a não perder pelo viajante.
Prosseguindo a viagem, já com o dia a acabar, quando tudo indicava que o destino final seria a própria paragem, decidimos em cima da hora fazer um pequeno desvio para encontrar uma cache na chamada “Etar”. O que para nós, portugueses falantes, é um termo estranho. Ora em búlgaro, por ironia, “etar” significa exactamente o oposto da ideia que possamos ter quando ouvimos a palavra: um riacho de águas límpidas e cristalinas. E então, o que é este “etar”? Um museu etnográfico ao ar livre, uma espécie de aldeia museu, artificial mas muito interessante. Ali, ao longo do percurso, estedem-se réplicas de casas e engenhos tradicionais da Bulgária, e sobretudo no trecho central, as casas albergam ofícies que trabalham nas suas artes vendendo os produtos resultantes aos viajantes. E para melhorar a surpresa agradável, como o dia estava já no fim e muitas das oficinas tinham encerrado, já não estavam a cobrar bilhetes. Terminada a visita e encontrada a cache adjacente (a danada estava na floresta e deu uma trabalheira), a fome apertava. Felizmente havia ali um restaurante nas imediações, onde se comeu divinamente, ao som de música tradicional, na companhia de um gatinho que por lá andava. Para mim veio um pão coberto de queijo, e uma dose de queijo branco frito, coberto de mel e de noz ralada. Estranhamente, não tinha sabor a frito… estava parcialmente coberto de zonas “queimadas”, idênticas às que se encontram na superfície de uma tigela de leite creme, e sabia bem demais!! Para empurrar, um copo de vinho. Paguei 7 Euros pelas iguarias.
Tinha já caido a noite quando chegámos a Veliko Turnovo. O Atanas ia passar a noite a casa dos pais, em Ruse, mas também tinha que aqui vir, levantar uma flauta que tinha encomendado. E vinhamos também recomendados a uns amigos do Justin que estavam a passar uns tempos na cidade. Mas o ambiente não era grande coisa. Acabei por ir ter a casa do meu anfitrião seguinte, Hristo. Uau! Que casa. O contraste de ambientes é avassalador. Do ambiente familiar de aldeia, passo para um apartamento em festa… amigos, gente, a entrar e sair… para além de mim, estão a ficar com o Hristo um casal, ele americano, ela japonesa. A noite estendeu-se até às 2 da manhã, com muita cerveja e conversa, com umas 8 pessoas sentadas à roda da mesa. Grande serão! Já sentia falta destes ambientes, a fazerem lembrar o lar de Praga. O campo, as coisas genuínas da terra a aventura rural… tudo isso é muito bonito, mas quando é demais, faz mal. Sobretudo a um rapaz da cidade como eu. Soube-me mesmo muito bem voltar aos meus ambientes naturais, e ver um duche normal e uma máquina de lavar roupa, dois luxos de que amanhã pretendo usufruir.
Tabela de Despesas
10,00 Eur Gasolina
07,50 Eur Restaurante