13 de Junho de 2024

O encerramento do primeiro dia no Brasil não me encontrou com o melhor espírito mas o segundo dia teve um tom bem diferente. Foi excelente e muito preenchido, começando logo pelas seis da manhã. Efeitos de um ligeiro jetlag. São quatro horas de diferença, não sendo por isso estranhar que para as suas dez horas o corpo tenha decidido que já ia dormindo pela manhã dentro.

Não saímos logo para a rua. Aliás, ainda era de noite. O amanhecer foi apreciado desde as janelas daquele décimo segundo andar com vista panorâmica do Eixo Central de Brasília, a via monumental ao longo da qual se dispõem os elementos mais importantes da capital brasileira. Sem me levantar da cama via todos os ministérios, alojados em edifícios semelhantes, de um e de outro lado da grandiosa alameda, assim como a catedral, a biblioteca nacional, o teatro nacional e o museu nacional. E sobre tudo isto incidia a luz alaranjada de mais um dia que começava.

Biblioteca Nacional

Já passava das sete quando o passeio se iniciou. Seria longo e extenuante mas também muito gratificante.

Passar as movimentadas vias que nos rodeavam foi mais simples do que me tinha parecido na véspera. Do hotel passámos para uma estrada que passava sobre o Eixo Central, e logo saímos, caminhando por um caminho que atravessava um imenso relvado meio seco. Atravessámos a central de autocarros urbanos e fomos espereitar o Teatro Nacional. Visto ao longe parece uma pirâmide sul-americana cortada a meio. Mas ao perto tem um aspecto triste. Não será por acaso que se encontra encerrado para renovação. Envelheceu mal, tudo tem mau ar, decadente, abandonado. E dali não havia muito a ver.

Catedral de Brasilia

Voltámos para trás e aproveitando um semáforo passámos para a lateral da alameda. Agora seria tudo mais simples, pois daquele lado se alinhavam alguns dos edíficios mais interessantes da minha lista de pontos a visitar.

O primeiro é Biblioteca Nacional. Junto a uma das fachadas passava-se algo. Muitos carros de polícia e alguns autocarros, luzes azuir a rolar. Não me aproximei e passei directamente para a fachada oposta, mais serena. Ali há um imenso espaço aberto, partilhado com o Museu Nacional, um edíficio aparentemente simples, feito de uma cúpula branca com três rampas que levam os visitantes até ao seu interior. Mas aquela hora ainda se encontrava encerrado.

Supremo Tribunal Federal

Entretanto o ambiente estava perfeito para estas deambulações. Céu azul, temperatura amena. Ainda bbem, porque será um dia com muitos quilómetros nas pernas.

Para chegar à Catedral há que atravessar duas estradas paralelas. E mais coisas se passam ali. De novo uma forte presença policia e um ajuntamento com toques de manifestação que se vai formando frente ao templo. São professores que reivindicam algo.

Professores em luta

Ignoro tudo aquilo e observo a catedral, primeiro por fora, depois, usando a passagem subterrânea que parece ser o seu único acesso, o interior Alguns outros visitantes se encontram por ali. Alguns manifestantes fizeram uma pausa na sindicância política e vieram ver, assim como um par de polícias que substituiram a vigilância aos subversivos por um momento de paz espiritual.

O que mais impressiona ali são os vitrais coloridos, que mais tarde neste dia serão ofuscados pelo Santuário de Dom Bosco… mas a isso iremos mais à frente.

Vitrais no interior da catedral

O passeio prossegue, deixando para trás os batuques, as bandeiras e as danças dos professores que claramente aproveitam a ocasião para sociabilizar um pouco.

Durante umas centenas de metros passamos pelos sucessivos ministérios. Há ali grande serenidade, o calor que entretanto se começou a fazer sentir é interrompido pela sombra oferecida pelas grandes árvores que sabiamente ali foram plantadas.

Passa das oito, aparentemente a maioria dos funcionários públicos já entrou ao serviço mas vão chegando ainda pessoas a estes sucessivos prédios estatais. Cá fora, aqui e acolá, vendedores de rua servem clientes habituais, fornecendo café, pão doce, bolos.

Palácio Itamaraty

Após este quarteirão ministerial encontramos o Palácio Itamaraty, que e o Ministério dos Negócios Estrangeiros e uma das obras primas de Niemeyer. É lindo, rodeado de um lago bem tratado, adornado de plantas aquáticas. Tem um aspecto quase romântico. Infelizmente naquele dia não há visitas ao interior e nos dias que ficámos em Brasília já não havia vagas para conhecer por dentro aquele bonito edíficio.

Dali já se avistam as torres do Senado, ao centro do Eixo Central. Também ali existem visitas guiadas disponíveis ao grande público mas não fiz questão. Passando pelos carros da polícia estrategicamente colocados à entrada do perimetro limitei-me a aproximar do complexo do Senado e a ver de perto o centro do poder político do Brasil.

O Senado

Faltava ainda chegar ao fim do Eixo Central, ocupado por elementos culturais e monumentais. Ali se encontra o Supremo Tribunal, outra obra prima de arquitectura da capital do Brasil, assim como o Panteão Nacional, que não encerra os restos mortais de personalidades ilustres, sendo mais um monumento à essência do Brasil. Um grupo de crianças escutava apaixonadamente as explicações de uma guia do panteão. A luz vermelha projectada pelos vitrais enchia o espaço. Foi uma visita curta, não há muito para ver. Menos ainda no chamado Museu da Cidade, que na realidade não é um museu. Esta parte da cidade parece gostar de contradições… um panteão sem restos mortais, um museu que não é um museu.

Do lado oposto da Praça dos Três Poderes encontra-se o Palácio do Planalto, a sede da Presidência da República, outro edificio clássico de Niemeyer. Infelizmente as visitas guiadas são limitadas a um dia por semana e o calendário de reservas encontra-se preenchido para os meses seguintes.

Panteão Nacional

Tínhamos percorrido os pontos mais relevantes de Brasilia e ainda não eram onze horas. O regresso foi de Uber. Como quase sempre em Brasilia (houve uma excepção em cerca de dez utilizações) o serviço foi impecável e, num país onde os preços não são assim tão baixos, muito barato. Fiquei um pouco na esplanada do café ao lado a beber uma Coca-Cola bem geladinha.

O Hotel Saint Moritz é uma entidade mista. Será mais um aparthotel, alguns residentes são fixos. A unidade onde fiquei é propriedade de um individual que aluga no AirBnB. Encontra-se na quadra hoteleira, planeada desde o início para albergar as unidades hoteleiras. Há uma praça urbana moderna em frente, pequena, bem arranjada, com espaços ajardinados e superfícies de água, rodeada de imponentes edifícios mas mesmo assim bem arejada. Agradável.

Crianças de escola escutando a explicação da guia no Panteão

Um descanso de um par de horas no apartamento e depois um Uber para a Quadra 308 Sul. Entenda-se Quadra como Bairro. E este é um bairro modelar, visitado por estudantes de arquitectura e paísagistica urbana. É um clássico bairro residencial de Brasília com os elementos previstos para uma habitação harmoniosa e agradável: jardim de infância, escolas, um clube de residentes, espaços ajardinados, igreja, quiosques de rua. Um excelente local para passear e uma visita recomendada a quem venha até Brasilia.

Parámos para uma bebida no quiosque mais icónico de Brasilia, o mais antigo, fundado na década de 60 e que conta ainda (por pouco tempo mais, receio) do proprietário original. Ali próximo a Pizzaria Dom Bosco, uma espécie de tasca de pizzas, é também a primeira do seu género na cidade.


Dali outro Uber para o Santuário Dom Bosco, que se veio a revelar um dos pontos altos desde grande dia. Por fora transpira o espírito Niemeyer. Interessante. Mas por dentro… wow. Fabuloso. As quatro “paredes” do templo são de vitral azul. O celeste trazido para a mortalidade terrestre. Um enorme crucifixo de madeira é assim iluminado. Mas não há palavras para descrever, e ao contrário do que muitas vezes acontece, tão pouco as imagens dão ideia da grandiosidade do local. Imperdível, a todos os títulos.

A tarde aproxima-se do fim mas, fisicamente exausto, quero mais. Quando chamo o Uber seguinte em vez de escolher o Hotel Saint Moritz como destino indico a Biblioteca Nacional. Sim, eu sei, estive de manhã mas quero regressar.

O ambiente está diferente, mais sereno. É hora de ponta, o que pode soar paradoxal. Todos aqueles funcionários públicos e outros trabalhadores se encontram em movimento, mas em redor do edifício da Biblioteca não há ninguém e acima de tudo não há traço da polícia que ali se encontrava em abundância de manhã. Então repeti parte do passeio matinal. Museu Nacional, agora aberto ao público (mas não senti o chamamento), Catedral. E de volta, a pé, que não é assim tão longe.

Uma paragem no muito atarefado terminal de autocarros para comprar um cartão SIM para mim (amigos, e-Sim, nunca mais… fonte de chatices e disfunção, fiquei vacinado) e ainda uma aproximação à Torre de TV e ao bonito jardim que a envolve, abortada pela presença de um tipo de aspecto suspeito numa área em que não se vê vivalma.

Antes de me recolher fiz ainda uma incursão ao centro comercial para comprar umas Havaianas decentes por uma pequena fracção do preço em Portugal e depois, enfim, já quase morto de cansaço, para “casa”. Às dez horas já estava a dormir.

 

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