Dia 15 de Junho de 2024

Se na véspera tínhamos explorado a parte alta do centro de Brasília, neste dia fomos no sentido inverso. Na realidade não estava nada planeado. Queria deitar o olho ao Planetário por uma razão muito pessoal, mas fora isso estava tudo em aberto.

Saímos cedo para aproveitar a frescura matinal. Era Domingo, a cidade estava mais tranquila mas mesmo assim há sempre movimento. E se estava agradável! O ambiente ideal para caminhar na cidade. Céu azul, temperatura perfeita.

Assim fomos “rolando”, primeiro passando junto à Torre de TV, nos últimos tempos encerrada aos visitantes. Atravessámos as múltiplas faixas deste lado da ampla alameda que é o coração da cidade e fomos andando pelo centro, um largo espaço relvado com árvores esparsas.

Por ali há tendas montadas. Não muitas, mas umas quantas, lares modestos de cidadãos sem-abrigo.

Do lado que deixámos vê-se agora o Estádio Nacional, um “elefante branco” onde nada acontece, construído apenas porque ficaria mal numa cidade como Brasília, capital do país, não existir um recinto deste gabarito, uma estrutura com 45 mil lugares. Existem visitas guiadas, mas não muito baratas e com a falta de história e carisma do estádio não me interessei.

É uma zona desportiva. Mais uma zona numa cidade definida pelas suas zonas. Ou sectores, como se diz aqui. Logo a seguir ao estádio, o pavilhão polidesportivo. E entretanto chegamos ao planetário. Só quero ver por fora. Um guarda e um funcionário dizem para estar à vontade. Mais gente simpática.

E agora que estávamos ali, porque não continuar. A praça do Buriti com o seu palácio do Buriti é já ali à frente. E sente-se o espírito de Brasília. Num momento em que não passa nenhum carro poderia pensar que tinha viajado no tempo e estava de novo nos anos 60. Tudo o que me envolve tem em si a marca desse tempo. Os edifícios, os jardins, os lagos, a estatuária.

Seja como for há um certo tom de decadência nesta praça. Como se tivesse sido abandonada pelos brasilienses. Há monumentos maltratados, bustos que se foram. Não se vê vivalma.

Logo à frente encontramos o Memorial dos Povos Indígenas, uma surpresa boa. Brasília é por vezes uma cidade estranha: tem memoriais que se chamam Museu e Museus que se chamam Memoriais. Como este, de entrada livre. Uma exposição deveras interessante num edifício de arquitectura única, que desce em espiral até chegar a uma arena onde a tempos se pode assistir a espectáculos de folclore indígena. Poderíamos ter sorte e assistir a um no dia seguinte, mas o azar disse que estava cancelada por impossibilidade de deslocação dos indígenas. Valeu a visita e mais uma vez a simpatia dos funcionários.

Está a terminar a expedição para esta parte da cidade. Vamos acabar mais à frente, no grandioso memorial ao presidente que dirigiu o estabelecimento de Brasília: Joscelino Kubitschek. Um espaço agradável, muito fotografável. E dali chamámos um Uber, não querendo ir mais adiante, onde ainda existe a Catedral Militar Rainha da Paz e, por fim, a extremidade do Eixo Monumental.

Havia outra razão para não prosseguir: tínhamos começado cedo e visto muito, mas hoje sairíamos do pequeno apartamento em localização central e iríamos pernoitar num lugar especial onde soube que queria ficar no momento em que lhe pus a vista em cima. O Hotel Brasilia Palace, desenhado pelo próprio Óscar Niemayer, o primeiro na nova capital brasileira e um dos primeiros edifícios a ser construído, até porque ali ficariam hospedados os funcionários superiores, arquitectos e engenheiros responsáveis pela edificação da metrópole.

Fomos então ao apartamento recolher as mochilas. Seria cedo para entrar no hotel mas fomos até lá ver o que se podia arranjar. Mais um Uber – o único cuja experiência não foi tão positiva entre tantos que usámos em Brasília – e na recepção do hotel aceitaram as mochilas enquanto o quarto era aprontado.

Maravilha. Começámos logo a explorar o edifício e os jardins. Há um enorme relvado que só termina quando encontra o lago artificial que foi criado com a cidade. Árvores gigantes dão sombra a uma boa parte do jardim do hotel. Existe uma piscina e um restaurante onde o pequeno-almoço é servido. Infelizmente está um evento a ser preparado. Um casamento, dizem-nos. Receei pelo ruído que não chegou a acontecer mas estragou um pouco a experiência.

Entretanto o quarto ficou pronto. Maravilha. Um quarto de hotel como se esperaria: confortável, algo obsoleto, funcional. Gostei. Foi tempo para descansar um pouco. Neste dia já não saímos dali. Quer dizer, do hotel sim, mas a pé.

Fomos explorar as imediações. Aqui ao lado há um pequeno parque de caravanas. Uma tasca com mesas de plástico colocadas na margem do lago. Ideal para umas bebidas. A ocasião pedia umas cervejas mas mais um round de antibióticos recomendava algo diferente. Uma Coca-Cola, a bebida oficial do meu tour no Brasil.

Um ambiente adorável, genuíno, saído de um livro de estereótipos do Brasil. Dei por mim a sorrir sozinho, só por estar feliz de estar ali.

Fomos a outro local mais à frente, um simples quiosque com três mesas também junto ao lago, onde tivemos a nossa apresentação ao “pastel” brasileiro, uma espécie de pastel de massa tenra gigante.

Depois fomos regressando. Ainda era uma caminhada até ao hotel. Nas horas seguintes descansou-se e tudo o mais que se faz no tempo de relaxar. O tempo passou, a noite chegou e o casamento animou-se. Decidimos regressar onde tínhamos estado no final da tarde. Só para ver se algo se passava.

E passava. Uma festa, um arraial. Para ser sincero, para os padrões brasileiros o ambiente estava um bocado morno, mas como alternativa a um serão fechado no quarto do Brasilia Palace estava fabuloso. Havia venda de comidas. Pedi um pastel de carne e queijo e recebi algo ainda melhor do que o tinha experimentado antes. Tão bom que encomendei outro. Num ambiente bem-disposto, rodeado de gente de riso fácil e sorriso permanente. Conhecemos um senhor que nos explicou algumas coisas sobre o que se estava a passar. Experimentei uma deliciosa sobremesa. E por fim fomos, seria a última noite, para já, em Brasilia.

Não se dormiu mal. O casamento já estava terminado, era apenas o ruido do pessoal a arrumar e o exaustor da cozinha ainda a funcionar. Cama confortável. Zzzzzzz.

2 COMENTÁRIOS

  1. Não entendi o nome que você colocou na igreja > Catedral Militar Rainha da Paz.
    O nome real da catedral de Brasília é Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida e completará 55 anos em maio/25.
    Podia ter entrado e visto, não sei se estão cobrando para ser visitada. Espero que não.

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