18 de Junho de 2024
O último dia em Goiás foi mais pausado, com menos calcorrear, mas igualmente cansativo porque incluiu a visita a alguns museus e, pelo menos a mim, isso estafa. Além disso, ou foi impressão ou tratou-se do dia mais quente dos que por aqui passei.
Lá fomos andando até ao centro. O Museu das Bandeiras ainda estava fechado. Descemos um pouco mais. Encontrámos o “quartel” aberto. Actualmente é um edifício governamental mas foi de facto um quartel com significado histórico, o “Quartel dos XX”. Daqui partiram para a guerra contra o Paraguai as tropas de Goiás. E, seja como for, trata-se de um bonito edifício, encerrado na véspera e hoje visitável com um grande sorriso das duas funcionárias que estavam ali pela entrada.
Vagueámos sem um rumo pelas ruas desertas mais próximas do centro, fazendo tempo para a abertura dos museus. Vi uma biblioteca com prateleiras recheadas de um espólio visivelmente antigo, mais um arquivo do que um depósito de livros, com volumes de aspecto centenário que já viram certamente muito.
Passeio puxa passeio e fomos andando na direcção do cemitério, já bem afastado do centro, aproveitando a rota para uma visita à padaria que tão bem nos tinha abastecido na véspera.
O cemitério estava vazio. Sem visitantes. Andámos um pouco por lá, perguntei a um senhor que lá trabalhava onde estavam as campas mais antigas. Indicou-me com um gesto vago. Mais tarde conversámos um pouco, quando já íamos saindo.
No regresso encontrámos a igreja de São Francisco de Paula aberta ao público. Desde o primeiro momento em Goiás que este tempo nos chamou a atenção. Altaneira, no topo das duas escadarias que levam a um pequeno patamar, olha-nos de cima. Até então desafiando à visita, mas não nos abrindo as suas portas. Hoje foi diferente, pudemos visitar, subir até ao nível superior onde se encontra o órgão. Bem interessante.
De seguida fomos entrar no Palácio do Conde dos Arcos. Pensava que se tratava de um edifício da administração municipal, mas não, é um museu. E bem interessante. A visita é guiada e foi excelente. Um jovem de boa conversa acompanhou-nos ao longo das salas deste senhor palácio, realçando detalhes, contando histórias e, de uma forma geral, simplesmente conversando e esclarecendo questões.
Não só sobre o palácio mas sobre tudo… o Brasil, o Estado de Goiás, a cidade de Goiás. E já agora, a visita é gratuita e ainda nos ofereceu uma bebida e um mapa. Naquele palácio funcionou a sede do Governo estadual até 1937, quando a capital transitou para Goiânia. Tal como mais tarde Brasília esta cidade foi criada para se tornar capital, não do país, mas do Estado. Apesar de algumas insinuações das pessoas com que falei, oficialmente a razão para a mudança foi logística: a cidade antiga é remota, de difícil acesso, mais ainda naqueles tempos. O Estado queria uma capital mais próxima dos centros de poder nacionais e para onde fosse mais fácil viajar.
Já a caminho de casa visitámos então o Museu das Bandeiras. Não por se referir a bandeiras no sentido habitual, mas outras, a dos Bandeirantes, exploradores dos terrenos interiores do Brasil. E contudo, mesmo assim, dessas Bandeiras pouco tem. É um museu interessante, pelo património que encerra e pelas explicações dadas pelos guias, jovens locais cheios de uma boa vontade que compensa a falta de formação académica adequada.
Foi em tempos o centro de administração de Justiça, tribunal e cadeia, cujas celas colectivas mantêm hoje em dia uma atmosfera pesada. Alguns elementos da exposição são de facto interessantes e é um museu que merece uma visita.
O dia de visita fechou com o Museu das Bandeiras. Foi tempo de recolher, descontrair e descansar o corpo. Aquele quarto de Goiás ficará na memória. Fresco e acolhedor, na sua simplicidade espartana.
Já mais tarde, ao serão, com a fome a apertar, saí de casa em busca de qualquer coisa para comer. Sabia que seria difícil. Afinal, estamos no pós-FICA, como o pessoal de Goiás chama aos dias que se seguem ao grande festival. Significa que muita coisa está fechada e a cidade, por assim dizer, recupera do bulício daqueles dias cheios de visitantes e agitação.
Desci a rua. O Brasil rural é isto, segurança total a qualquer hora do dia, em contraste com as grandes cidades. Encontrei aberto o quiosque onde na véspera tínhamos tomado uma bebida.
Pedi um hambúrguer e em boa hora o fiz, porque fui brindado com um dos melhores hambúrgueres da minha vida. Comi com enorme gosto e pensei em encomendar um segundo, mas consegui vencer a gula. Voltei para casa. Era o fim dos dias de Goiás. Havia agora que dormir porque bem cedo pela manhã seria a viagem para Pirenópolis, outra aldeia (já cidadezinha) histórica.